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domingo, 6 de julho de 2014

É O CAMINHO PARA QUE SEU ESPÍRITO RECONHEÇA DEUS....

A segunda chance

Postby Ricardo Freitas » 11 May 2012, 20:58
Era noite, tudo estava quieto, as ruas estavam desertas, não havia ninguém acordado em casa, todos dormiam.

Um som estranho vinha lá de fora de casa, dava a impressão de várias pessoas andando juntas, fiquei com um pouco de receio de sair na sacada e olhar.

Não resisti a minha curiosidade, fui, andei até a janela que era grande, abri e olhei, não dava para acreditar no que eu estava vendo, em plena noite, de madrugada, um tipo de procissão seguia pela rua.

Todos com uma vela na mão, cabelos desarrumados, roupas estranhas, pareciam esfarrapadas, velhas, sem cor, faziam uma oração em voz baixa, andavam devagar, mulheres, homens, crianças, idosos, alguns pareciam machucados, com ferimentos.

Incrível, como poderia ter uma procissão bem na minha rua naquela hora da madrugada, a sacada era alta e se podia ver longe, eram muitas pessoas, a rua estava em uma penumbra absoluta, a iluminação não estava funcionando, só as velas iluminavam, podia se ver alguns rostos.

Voltei meio nervoso para dentro de casa sem entender o que estava acontecendo, me sentia meio tonto, confuso, na sala me deparei com minha mãe e meus irmãos me olhando com o rosto de espanto.

Eu estava de pijama, percebi que estava me despertando de um sono que em um estado de sonambulismo tinha ido até a sacada, fiquei pensando aquilo não era um sonho de sonambulismo, era muito real.

Todos estavam preocupados comigo, escutava de longe, “vai dormir filho”, “o mano o que você está fazendo aí em pé”, senti que precisava ir urgente para a cama, estava muito cansado, meu corpo estava quebrado como se tivesse andado por quilômetros.

Naquele momento no quarto ao lado, sem que eu soubesse, acontecia no plano espiritual uma reunião espírita, vários espíritos estavam presentes, dentre eles o de Carmen, ela havia desencarnado já há muitos anos.

Meu nome é Felipe, em uma reencarnação no passado fui seu filho, nossos laços espirituais se mantinham, Carmen sempre esteve ao nosso lado, seu coração é o de uma Mãe que o amor atravessa encarnações.

Nesta minha nova reencarnação, eu tinha a mediunidade a meu favor, mas não sabia, não entendia, não procurava me instruir, durante as incorporações eu não perdia a consciência, mas meu problema é que durante as horas do dia em que estava com a consciência ativa, eu me fechava totalmente a qualquer contato espiritual.

Quando minha vida material de encarnado estava ativa durante o dia, meu consciente não tinha idéia de meus pensamentos como espírito, tinha se formado uma barreira entre meu espírito e meu corpo carnal, isso porque meu subconsciente assim o fez.

Meu perispírito havia se tornado grosseiro em relação ao meu espírito, quase se fundia ao meu corpo, perdi a afinidade de vibrações com meu corpo, havia algo de errado, em estranho sentimento de vingança, mágoa, tristeza, mas não sabia contra o que, e qual era a minha tristeza, qual o meu sofrimento.

Durante as noites eu aproveitava para me soltar de mim mesmo e procurar ajuda espiritual, procurei várias vezes contato com Carmen, mas seu plano de ação era mais evoluído do que o meu, eu mesmo em espírito não podia ver Carmen, nem me comunicar com ela, só com espíritos no meu nível vibratório eu conseguia alguma comunicação.

Podia sentir que ela estava ao meu lado por várias vezes, mas não tinha como falar com ela, pedir ajuda, só ela podia me ver, sua evolução estava bem a frente da minha, suas vibrações espirituais, seu amor pelas pessoas e por Deus era muito grande.

Em minhas noites de liberdade espiritual só podia ver espíritos que estavam no umbral, como aqueles que vi passando pela rua, e outros sofredores e sem firmeza na fé como eu, no passado eu já estive melhor, por vaidade e por um amor que me deixou sem lucidez, cometi um suicídio.

Depois disso, passei muitos anos no umbral, sofri muito com a solidão, o arrependimento, pedia muito a Deus o meu perdão, até que um dia, “Carmen”, me ajudou a me refazer, me recompor psicologicamente.

Precisava arrumar um jeito de fazer meu espírito derrubar a barreira que existia entre eu em espírito e eu mesmo quando em estado de vigília, para isso preciso ter mais fé em Deus, preciso ter mais amor em meu coração, preciso me tornar humano.

As vezes me dava a impressão que estava ficando meio louco, tinha duas vidas, uma encarnado em que não acreditava em nada e não queria saber de nada relacionado com a fé em Deus, e outra vida em espírito em que tinha que agir nos breves momentos em que meu corpo dormia.

Meu espírito está cheio de manchas escuras, de alguma maneira estas manchas influenciam as minhas decisões em estado de vigília, quando estou liberto de meu corpo, elas não me perturbam, será que este é um dos meus castigos por ter destruído meu corpo carnal em minha última encarnação.

Agora me sinto sozinho, consigo colocar em ordem meus pensamentos, mas tem algo que está me arrastando para as trevas, algo que não posso ver, acredito que estou sendo obsediado, deve ser este o motivo do porque quando estou em vigília não aceito Deus em mim, quando meu corpo dorme, tenho já outros pensamentos, procuro a Deus.

Este espírito que está me obsediando deve ter o controle de meus pensamentos só quando estou preso ao meu corpo, ele é esperto, já me conhece, deve ser alguém de meu passado, alguém que provoquei dor e ódio.

Não tenho a mínima idéia de quem poderia ser, não me lembro de nenhum inimigo nesta ou em outra vida passada.

Sinto que estou sendo sugado para junto de meu corpo, não tenho como resistir, a força é descomunal como se estivesse em queda livre, provavelmente devo estar acordando.

Naquela manhã, Felipe acordou umas dez horas, tinha uma vaga lembrança de ter sonhado com uma procisão de religiosos com velas andando pela rua, mas procurou não pensar nisso.

Vinte e seis anos de idade, uma vida sem objetivos, dava pouca importância para o trabalho, os estudos já haviam sido esquecidos no passado, Deus, religião, nada o fazia despertar de sua vida vazia.

Já a caminho de seu trabalho, contra a sua vontade, preferia ficar em casa no portão, só conversando, sem fazer nada, ali ele se sentia bem e inteligente, não precisava se preocupar, nem pensar em nada.

No exato momento que atravessava a rua um acidente com um ônibus e um caminhão deixou Felipe no chão, tinha sido atingido pelo pára-choque do caminhão, a lesão não chegou a tirar sua vida, mas deixou ele em estado grave, foi levado ao pronto socorro.

Dois meses em uma UTI, Felipe se sentia quebrado, ficou em estado de coma induzido por quinze dias, seu corpo todo enfaixado, dores por todo lado, uma agulha em seu braço o deixava angustiado, a dor era forte.

Felipe após algum tempo percebeu que suas pernas não existiam mais, tinham sido amputadas, ficou em desespero, sua cabeça deu um giro de 360 graus, estava a um passo de um colapso nervoso.

Seus pensamentos rodavam, pensava em seu emprego, em sua mãe, seus irmãos, ficava imaginando como iria ao banheiro, como poderia dirigir um carro, mas o mais apavorante era o fato de sempre ter que ser dependente de alguém em sua vida.

Em seu quarto escuro a noite, Felipe ainda acordado, não conseguia dormir, estava cansado de ficar em sua cama, notou que um vulto de uma pessoa estava perto, ficava do lado esquerdo da cama e não se movia.

-Meu querido filho, isso que você está passando é conseqüência de seus atos, procure a Deus em seu coração que você vai se sentir melhor.

-Quem é você, como entrou aqui, porque me chamou de filho?

-Eu tenho muitos filhos, sou “Carmen”, já conheço você há muito tempo, não cometa o mesmo erro outra vez em sua vida.

-Que erro, eu não fiz nada.

Felipe ficou esperando uma resposta, olhou pelo quarto estava escuro, não conseguiu ver ninguém, ficou pensando, será que estou ficando doido, chamou a enfermeira através do telefone.

-A senhora viu alguém entrar aqui no meu quarto?

-Não, não senhor, estou aqui na recepção e não tem ninguém aqui neste andar fazendo visitas, só eu e mais duas enfermeiras.

Nos dias que se seguiram, Felipe entrou em depressão, só pensava em coisas ruins, sentia-se mal, chorava, a solidão pegou pesado, seu pensamento já arquitetava um suicídio.

Não passou nem mais três meses, Felipe após ter uma alta do médico, já em sua casa, cometeu o suicídio na primeira chance que teve, encheu seu estomago com vários remédios que estavam em sua gaveta, inclusive remédios controlados que eram calmantes.

-Onde estou?

As amarras que prendiam seu espírito ao corpo não se soltaram, Felipe continuava preso ao seu corpo dentro do caixão, sentia seu corpo deitado ali e não conseguia se movimentar, dores horríveis em todas as juntas dos seus ossos, o frio tenebroso, a escuridão, o silêncio era assustador.

-Socorro me ajudem.

Seu espírito entrava em convulsões, se contorcia para todos os lados, o pavor do esquecimento de sua família, da morte, já em espírito se lembrava de sua ultima encarnação onde também havia se suicidado, desta vez o sofrimento estava maior e mais prolongado.

-Ai, meu Deus, o que faço, me ajude.

Neste mesmo momento em que Felipe se lembrou de Deus, seu espírito começou a se desgrudar daquele corpo já em estado de decomposição e subir em direção ao nível do solo.

A grama era cinza, tudo estava em nevoa, uma noite trevosa e escura, Felipe se via deitado ao lado de seu túmulo, não podia se levantar, não conseguia mexer nem os dedos de sua mão.

-Você está vendo Carmen, ele está perdido no umbral outra vez, teremos que ajudar, seu espírito sofre a agonia da morte sem a fé em Deus para se proteger, para abrandar suas dores.

Sim Claudio, você sempre esteve junto comigo nas horas mais difíceis, mas não consigo ver ele assim.

-Não chore Carmen, ele sempre terá outra chance, vamos levá-lo daqui, colocaremos ele num grupo de recuperação, você sabe Carmen, também gosto dele, ele foi meu filho no passado.

-Obrigado meu amor, fico com muita pena porque ele sofre tanto, mas é o caminho para que o espírito dele reconheça a Deus como a única razão da vida, como a única força do universo.

Espiritualista

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