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Reflexões oportunas
A sociedade terrestre alcançou, na atualidade, os mais altos níveis de ciência e tecnologia, decifrando inúmeros enigmas do macro ao microcosmo.
As doutrinas médicas vêm conseguindo debelar enfermidades pandêmicas destruidoras de milhões de vidas, enquanto a tecnologia de ponta elimina as distâncias, facilita as comunicações e a locomoção, ensejando melhor compreensão das culturas diversas e mais fácil aprendizagem sobre as avançadas aquisições da inteligência.
Pântanos e desertos têm sido transformados em jardim e pomares que embelezam a Terra e facilitam o convívio humano.
Nada obstante, o ser contemporâneo encontra-se faminto de luz espiritual, de amor fraternal e de paz interior.
Em consequência, aumentam os índices de criminalidade, do abandono, do desrespeito aos direitos humanos, das massas em revoluções contínuas, inquietas e dominadas por sofrimentos inenarráveis punidas com severidade, assim como alarmantes desmandos morais, sociais, religiosos, políticos e administrativos...
Homens e mulheres que assumiram a responsabilidade pela condução dos povos, com exceções consideráveis, arruínam as nações que governam dominados pelo egoísmo, pelas ambições desmedidas que os induzem a condutas reprocháveis e criminosas, constituindo-se exemplos de malversação dos recursos públicos mediante comportamentos vergonhosos.
Os vícios campeiam ao lado da violência urbana, que culmina em revoluções coletivas, tentando desapear do poder governos arbitrários que os usurpam, e pretendem neles eternizar-se, inescrupulosos e servis às paixões subalternas que os dominam.
Isto, naturalmente, como resultado da perda da identidade moral em torno da responsabilidade pessoal, da desconsideração aos princípios ético-morais que devem viger no indivíduo, tanto quanto na sociedade. Falhando, no primeiro, inevitavelmente desaparece na segunda.
Vive-se o momento de inadiável necessidade de retornar-se aos valores estabelecidos pela cultura, pela civilização, pelo Evangelho de Jesus – o mais extraordinário código de ética da Humanidade em todos os tempos – a fim de construir-se um mundo melhor, iniciando-se no cidadão transformado pelo bem.
Nenhuma legislação terrestre pode alcançar esse mister, porque é da natureza íntima de cada um, intransferível, já que nada de fora pode alterar a consciência e o comportamento interior do ser humano.
Somente o esclarecimento em torno de suas responsabilidades morais e sociais, particularmente as que dizem respeito à sua realidade de Espírito Imortal, pode realizar o processo de transformação interior para melhor, como clara consciência do que lhe cabe realizar como dever, a fim de fruir dos decorrentes direitos que lhe dizem respeito.
O ser humano ainda permanece um enigma para ele próprio, mas somente através da introspecção orientada com segurança conseguirá decifrar-se por conhecer-se na intimidade, nas raízes existenciais do imenso caminho reencarnacionista, propondo-se à autoiluminação e ao serviço de solidariedade em relação ao seu próximo.
Um ser iluminado é um campeão de conquistas valiosas, que se transforma em farol humano apontando as penedias no oceano existencial.
Para lográ-lo, torna-se impostergável o dever de trabalhar-se intimamente, a fim de descobrir-se, identificando de onde vem, para onde vai e qual o sentido objetivo que lhe deve direcionar o comportamento, a fim de prosseguir no rumo da imortalidade vitoriosa.
O Espiritismo é a ciência ainda não conhecida quanto deveria, que dispõe dos mais seguros instrumentos que facultam a análise e o autoconhecimento humano, aliada a uma filosofia otimista, rica de elucidações profundas que deságuam nos luminosos conceitos de ordem moral de efeito religioso...
O seu estudo consciente e sério liberta o ser humano da ignorância em torno da existência, enquanto o enriquece de sabedoria, a fim de conduzir-se com segurança, experimentando a plenitude – meta de toda a existência.
Conhecê-lo profundamente é o grande desafio que a todos aguarda.
Desse modo, aos militares espíritas, que são educados na severa disciplina dos códigos legais, para servir à Pátria, cabe a grande tarefa de aliar os conhecimentos da estratégia bélica e daqueloutra pacífica, às lições do Embaixador da Paz no mundo, que veio para servir e doou-se, tornando-se exemplo do mesmo, os inolvidáveis servidores Maurício e à sua legião tebana, que matar, mesmo quando legalmente, é um crime perante as Leis Cósmicas, sendo mais importante salvar e pacificar para melhor conquistar aquele que se lhe torna inimigo...
Todo inimigo é alguém que perdeu o endereço de si mesmo, e, por consequência, teme os outros, deles fugindo através do conflito da agressividade mental, emocional, política e social.
A compaixão para com ele e a educação para com todos são os recursos psicoterapêuticos mais valiosos, a fim de dar-lhes sentido e significado psicológico e espiritual à existência que atravessa a noite escura da alma, perdidos em si mesmos.
Congratulando-nos com os companheiros de lutas terrestres e servidores militares pelo transcurso do septuagésimo aniversário da Cruzada dos Militares Espíritas, exora o amparo e as bênçãos de Jesus para todos nós, de ambos os planos da vida, o companheiro e amigo de lides espíritas e militares.
Manuel Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na tarde de 12 de maio de 2014, na cidade de Bruxelas, Bélgica. Em 29.1.2015. | |||||
Tradutor
domingo, 31 de maio de 2015
REFLEXÕES IMPORTANTES.....
PONTE DE LUZ//NÃO FUJAS DOS COMPROMISSOS!
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Ponte de luz
Aquinhoado pela faculdade mediúnica, rejubila-te e aplica-a a serviço da finalidade a que se destina.
Rogaste a Deus a oportunidade de reabilitar-te de incontáveis desaires que te permitiste em jornadas pretéritas ao lado de crimes, alguns hediondos.
Por considerares a gravidade do comportamento, percebeste que a recuperação moral poderia dar-se pela colheita de sofrimentos defluentes dos gravames cometidos, como normalmente acontece.
Podias, no entanto, eleger os fenômenos tormentosos das enfermidades dilaceradoras, dos padecimentos morais que produzem consumpção interna, dos delicados mecanismos da solidão e das perseguições implacáveis das tuas vítimas, em rudes obsessões, afastando-te da trilha do equilíbrio e dos deveres a que te vinculas.
Também descobriste que o amor anula o ódio, a multidão de pecados, e as bênçãos da caridade diluem as construções do mal, pelo proporcionar da paz onde quer que se apresente.
Sob a inspiração do teu anjo tutelar, elegeste a mediunidade, a fim de manteres intercâmbio seguro com a Esfera imortal, de modo que não olvidasses a tua procedência. Concomitantemente, compreendeste que poderias reparar o mal através do bem, recuperando-te dos graves deslizes.
Antes do renascimento, passaste pelas regiões de sombra e de dor, onde foste resgatado e conduzido para educandários de regeneração, a fim de treinares bondade e reorganizares as paisagens mentais e morais.
Conquistaste, desse modo, a misericórdia da faculdade mediúnica, a princípio atormentada pelos conflitos que te ressumavam, como é natural, de modo a trabalharem os valores éticos que te facultassem a sintonia com a Erraticidade superior, de onde procedem as inspiração e a diretriz do trabalho.
Naturalmente, como efeito dos danos que a ti próprio causaste, foste programado com alguns problemas que te demonstrariam a própria fragilidade, a expressar-se em dores de vário porte.
Mediante a conjuntura aflitiva, sentiste necessidade de buscar a harmonia, e a mediunidade distendeu-te os valiosos recursos para a ação do inefável bem.
No universo nada permanece fora das leis de equilíbrio, especialmente os acontecimentos morais que são de primacial importância no desenvolvimento do ser espiritual.
Esforça-te por aprimorar a aptidão orgânica ao teu alcance, por intermédio da tua automoralização, a fim de te equipares com os valiosos recursos do amor, para a enfermagem da iluminação dos Espíritos infelizes. Não somente daqueles aos quais prejudicaste, mas também aos outros irmãos desafortunados, que pululam em volta da Terra.
Cada contribuição iluminativa que lhes ofertes, acenderá uma estrela na noite imemorial do teu processo evolutivo.
Desse modo, serve sem enfado, alegre e jovial, pela honra da autoedificação.
* * *
Os sofrimentos que te excruciam, lapidam as imperfeições espirituais que carregas nos refolhos do ser.
Não reclames. Eles são necessários para a tua quitação de débitos perante as leis cósmicas.
Evita pensar que jamais se acabarão.
Contempla o algoz deste momento, quando defrontado por ele em atitude que te dilacera a alma, irradiando a compaixão em seu favor.
Aprende, ante a sua indignação, a paciência e a misericórdia.
Esses impulsos agressivos são a catarse de dramas íntimos que ele não sabe identificar e os expele como lava de vulcão que explode para renovar a paisagem.
Tu sabes que ele é vítima das circunstâncias que o aturdem com os seus conflitos camuflados e de alta gravidade.
Usa, nesses momentos, a mediunidade, olha o agressor e, compadecido, envolve-o em preces.
Não discutas, porque ele se encontra fora de si, sem raciocínio lúcido nem discernimento, não raro sob ação de perversos adversários que lhe conspiram contra a harmonia e a felicidade.
Trata-se de alguém perdido no matagal e que necessita gritar por socorro sem sequer saber como fazê-lo.
A mediunidade de que é portador diminui a carga dos agressores, porque ao se utilizarem das tuas energias, diminuem o impacto da alucinação.
Continua na tua condição de ponte de luz.
No diário, já elegeste recuperar vidas, e esse fenômeno de amor é também mediúnico, porque as tuas forças são utilizadas pelos benfeitores espirituais, a fim de auxiliarem essas aves implumes que agasalhas no ninho do coração.
Todo fenômeno mediúnico é de natureza específica na área das afinidades. Portanto, de acordo com a sintonia com Jesus, tornas-te cireneu, auxiliando os irmãos do Calvário a conduzir a sua cruz libertadora.
Mergulha, pois, nas Fontes inexauríveis do amor de Deus em teu mundo íntimo, dulcifica-te, ajuda e frui a felicidade da reabilitação.
Prossegue sem desânimo, nem qualquer tipo de temor.
A mediunidade é concessão divina destinada a propiciar o crescimento do Espírito, para que este exerça a beneficência, autoiluminando-se.
Ao conduzi-la com harmonia íntima, estarás sempre médium e não apenas o serás nos momentos especiais dedicados ao seu exercício.
Derruba quaisquer impedimentos ambientais, físicos, emocionais e psíquicos, e prossegue como ponte de luz a serviço do Amor.
* * *
A sociedade, que tantas glórias alcançou na área da Ciência e da Tecnologia ao conquistar o amor, prepara-se para ampliar os recursos das faculdades mediúnicas, a fim de que as cortinas densas, que se interpõem entre as esferas, física e espiritual, sejam diluídas, permitindo o trânsito com ampla facilidade para ambas.
Não fujas às lutas redentoras, porque elas sempre estarão à tua frente à espera de atendimento.
Toma como modelo Jesus, o Médium de Deus, e deixa que transitem pela tua ponte os filhos da agonia sob a proteção dos excelsos guias da humanidade.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 18 de março de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, |
sábado, 30 de maio de 2015
CHICO XAVIER-MÉDIUM E IRMÃO X- ESPÍRITO
CONTOS ESPÍRITAS
Páginas
DOENTES E DOENÇAS
O respeito aos doentes é dever inatacável, mas vale descrever a ligeira experiência para a nossa própria orientação.
Penetráramos o nosocômio, acompanhando um assistente espiritual que ingressava no serviço pela primeira vez, e, por isso mesmo era, ali, tão adventício em matéria de enfermagem, quanto eu próprio.
Atender a quatro irmãos encarnados sofredores, o nosso encargo inicial nas tarefas do magnetismo curativo. Designá-los-emos por números.
Em arejado aposento, abeiramo-nos deles, depois de curta oração.
O amigo de número um arfava em constrangedora dispnéia, suplicando em voz baixa:
– Valei-me, Senhor!… Ai Jesus!… Ai Jesus!… Socorrei-me!… Ó Divino Salvador!… Curai-me e já não desejarei no mundo outra coisa senão servir-vos!…
O segundo implorava, sob as dores abdominais em que se contorcia:
– Ó meu Deus, meu Deus!… Tende misericórdia de mim!… Concedei-me a saúde e procurarei exclusivamente a vossa vontade…
Aproximamo-nos do terceiro, que, mal agüentando tremenda cólica renal em recidiva, tartamudeava ao impacto de pesado suor:
– Piedade, Jesus!… Salvai-me!… Tenho mulher e quatro filhos… Salvai-me e prometo ser-vos fiel até a morte!…
Por fim, clamava o de número quatro, carregando severa crise de artrite reumatóide:
– Jesus! Jesus!… Ó Divino Médico!… Atendei-me!… Amparai-me!… Dai-me a saúde, Senhor, e dar-vos-ei a vida!…
Nosso orientador enterneceu-se. Comovia-nos, deveras, ouvir tão carinhosas referências a Deus e ao Cristo, tantos apelos com inflexão de confiança e ternura.
Sensibilizados, pusemo-nos em ação.
O chefe esmerou-se.
Exímio conhecedor de ondas e fluidos, consertou vísceras aqui, sanou disfunções ali, renovou células mais além e o resultado não se fez esperar. Recuperação quase integral para todos. Entramos em prece, agradecendo ao Senhor a possibilidade de veicular-lhe as bênçãos.
No dia imediato, quando voltamos ao hospital, pela manhã, o quadro era diverso.
Melhorados com segurança, os doentes já nem se lembravam do nome de Jesus.
O enfermo de número um se reportava, exasperado, ao irmão que faltara ao compromisso de visitá-lo na véspera:
– Aquele maldito pagará!… Já estou suficientemente forte para desancá-lo… Não veio como prometeu, porque me deve dinheiro e naturalmente ficará satisfeito em saber-me esquecido e morto…
O segundo esbravejava:
– Ora essa!… Por que me vieram perguntar se eu queria orações? Já estou farto de rezar… Quero alta hoje!… Hoje mesmo!… E se a situação em casa não estiver segundo penso, vai haver barulho grosso!
O terceiro reclamava:
– Quem falou aqui em religião? Não quero saber disso… Chamem o médico…
E gritando para a enfermeira que assomara à porta:
– Moça, se minha mulher telefonar, diga que sarei e que não estou…
O doente de número quatro vociferava para a jovem que trouxera o lanche matinal:
– Saia de minha frente com o seu café requentado, antes que eu lhe dê com este bule na cara!…
Atônitos, diante da mudança havida, recorremos à prece, e o supervisor espiritual da instituição veio até nós, diligenciando consolar-nos e socorrer-nos.
Após ouvir a exposição do mentor que se responsabilizara pelas bênçãos recebidas, esclareceu bem-humorado:
– Sim, vocês cometeram pequeno engano. Nossos irmãos ainda não se acham habilitados para o retorno à saúde, com o êxito desejável. Imprescindível baixar a taxa das melhoras efetuadas…
E, sem qualquer delonga, o superior podou energias aqui, diminuiu recursos ali, interferiu em determinados centros orgânicos mais além, e, com grande surpresa para o nosso grupo socorrista, os irmãos enfermos, com ligeiras alterações para a melhoria, foram restituídos ao estado anterior, para que não lhes viesse a ocorrer coisa pior.
Chico Xavier (médium)
Irmão X (espírito) Livro: Idéias e Ilustrações
Irmão X (espírito) Livro: Idéias e Ilustrações
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OS MAIORES INIMIGOS
Certa feita, Simão Pedro perguntou a Jesus:
– Senhor, como saberei onde vivem nossos maiores inimigos? Quero combatê-los, a fim de trabalhar com eficiência pelo Reino de Deus.
Iam os dois de caminho entre Cafarnaum e Magdala, ao sol rutilante de perfumada manhã.
O Mestre ouviu e mergulhou-se em longa meditação.
Insistindo, porém, o discípulo, ele respondeu benevolamente:
– A experiência tudo revela no momento preciso.
– Oh! – exclamou Simão, impaciente – a experiência demora muitíssimo.
O Amigo Divino esclareceu, imperturbável:
– Para os que possuem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, uma hora, às vezes, basta ao aprendizado de inesquecíveis lições.
Pedro calou-se, desencantado.
Antes que pudesse retornar às interrogações, notou que alguém se esgueirava por trás de velhas figueiras, erguidas à margem. O apóstolo empalideceu e obrigou o Mestre a interromper a marcha, declarando que o desconhecido era um fariseu que procurava assassiná-lo. Com palavras ásperas desafiou o viajante anônimo a afastar-se, ameaçando-o, sob forte irritação. E quando tentava agarrá-lo, à viva força, diamantina risada se fez ouvir. A suposição era injusta. Ao invés de um fariseu, foi André, o próprio irmão dele, quem surgiu sorridente, associando-se à pequena caravana.
Jesus endereçou expressivo gesto a Simão e obtemperou:
– Pedro, nunca te esqueças de que o medo é um adversário terrível.
Recomposto o grupo, não haviam avançado muito, quando avistaram um levita que recitava passagens da Tora e lhes dirigiu a palavra, menos respeitoso.
Simão inchou-se de cólera. Reagiu e discutiu, longe das noções de tolerância fraterna, até que o interlocutor fugiu, amedrontado.
O Mestre, até então silencioso, fixou no aprendiz os olhos muito lúcidos e inquiriu:
– Pedro, qual é a primeira obrigação do homem que se candidata ao Reino Celeste?
A resposta veio clara e breve:
– Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
– Terás observado a regra sublime, neste conflito? – continuou o Cristo, serenamente – recorda que, antes de tudo, é indispensável nosso auxílio ao que ignora o verdadeiro bem e não olvides que a cólera é um perseguidor cruel.
Mais alguns passos e encontraram Teofrasto, judeu grego dado à venda de perfumes, que informou sobre certo Zeconias, leproso curado pelo profeta nazareno e que fugira para Jerusalém, onde acusava o Messias com falsas alegações.
O pescador não se conteve. Gritou que Zeconias era um ingrato, relacionou os benefícios que Jesus lhe prestara e internou-se em longos e amargosos comentários, amaldiçoando-lhe o nome.
Terminando, o Cristo indagou-lhe:
– Pedro, quantas vezes perdoarás a teu irmão?
– Até setenta vezes sete – replicou o apóstolo, humilde.
O Amigo Celeste contemplou-o, calmo, e rematou:
– A dureza é um carrasco da alma.
Não atravessaram grande distância e cruzaram com Rufo Grácus, velho romano semiparalítico, que lhes sorriu, desdenhoso, do alto da liteira sustentada pelos escravos fortes.
Marcando-lhe o gesto sarcástico, Simão falou sem rebuços:
– Desejaria curar aquele pecador impenitente, a fim de dobrar-lhe o coração para Deus.
Jesus, porém, afagou-lhe o ombro e ajuntou:
– Por que instituiríamos a violência no mundo, se o próprio Pai nunca se impôs a ninguém?
E, ante o companheiro desapontado, concluiu:
– A vaidade é um verdugo sutil.
Daí a minutos, para repasto ligeiro, chegavam à hospedaria modesta de Aminadab, um seguidor das idéias novas.
À mesa, um certo Zadias, liberto de Cesaréia, se pôs a comentar os acontecimentos políticos da época. Indicou os erros e desmandos da Corte Imperial, ao que Simão correspondeu, colaborando na poda verbalística. Dignitários e filósofos, administradores e artistas de além-mar sofreram apontamentos ferinos. Tibério foi invocado com impiedosas recriminações.
Finda a animada palestra, Jesus perguntou ao discípulo se acaso estivera alguma vez em Roma.
O esclarecimento veio depressa:
– Nunca.
O Cristo sorriu e observou:
– Falaste com tamanha desenvoltura sobre o Imperador que me pareceu estar diante de alguém que com ele houvesse privado intimamente.
Em seguida, acrescentou:
– Estejamos convictos de que a maledicência é algoz terrível.
O pescador de Cafarnaum silenciou, desconcertado.
O Mestre contemplou a paisagem exterior, fitando a posição do astro do dia, como a consultar o tempo, e, voltando-se para o companheiro invigilante, acentuou, bondoso:
– Pedro, há precisamente uma hora procurava situar o domicilio de nossos maiores adversários. De então para cá, cinco apareceram, entre nós: o medo, a cólera, a dureza, a vaidade e a maledicência… Como reconheces, nossos piores inimigos moram em nosso próprio coração.
E, sorrindo, finalizou:
– Dentro de nós mesmos, será travada a guerra maior.
Chico Xavier (médium)
Irmão X (espírito) Livro: Luz Acima
Irmão X (espírito) Livro: Luz Acima
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O GRANDE CAMINHO
Um homem de muita fé morava num vale extenso e triste e por que assinalasse amarga solidão, elevou-se em espírito ao Senhor e pediu-lhe, atormentado:
– Benfeitor Eterno, vejo-me vencido pelo desânimo… Que fazer para melhorar o ambiente em que respiro?
– Educa a terra em que foste localizado – aconselhou o Divino Orientador.
– Usa o alvião e o arado, a enxada e a semente e, em breve, o solo dar-te-á o pão e alegria.
O servo regressou e seguiu-lhe o conselho.
Com o aperfeiçoamento da gleba, porém, surgiram colonos variados e as rixas explodiram, na disputa dos terrenos em torno.
Alarmado, o devoto retornou ao Senhor e clamou:
– Inefável Amigo, melhorada a região a que dei minha ajuda, vieram os companheiros da Humanidade e com eles chegaram inquietantes enigmas. Não mais vivo só, entretanto, as feras da posse, os dragões do ciúme, as serpes do despeito e os monstros da inveja bramem e se arrastam junto de mim… Que fazer para o sustento da paz?
– Educa os irmãos que te cercam a experiência – determinou o magnânimo interpelado, e explica-lhes que o sol brilha para justos e injustos, que o trabalho sinceramente respeitado e bem dividido faz a riqueza de todos e que sem a cooperação fraternal o dever é um cárcere insuportável… Usa a escola e o livro, a palavra e a própria virtude! O tempo assegurar-te-á harmonia e vitória.
O crente agiu em consonância com o ensinamento recebido e, por que prosperasse o encanto social na colônia, desposou uma jovem que lhe parecia responder ao ideal de ventura, no entanto, com o casamento vieram os filhos e os problemas. A alma da companheira sofria incompreensível divisão entre ele e os rebentos do lar que o crivavam de pesares e preocupações.
Aflito, voltou à Amorosa Presença e solicitou:
– Todo Compassivo, tenho minh´alma sangrando de sofrimento… Como proceder para encontrar o equilíbrio, junto da mulher e dos filhos que me deste?
– Educa-os e alcançarás a bênção merecida, – disse-lhe o Abnegado Condutor. – Através de teus próprios exemplos, usa a boa vontade e a renúncia e atingirás, um dia, o fruto de preciosa compreensão.
O trabalhador desceu à Terra e atendeu à advertência. Contudo, com o crescimento da família, multiplicada agora em lares diversos, notou que os parentes padeciam, desarvorados, a visitação da enfermidade e da morte.
Agoniado, compareceu diante do Senhor e Implorou:
– Protetor Infatigável, estou conturbado, em pavoroso desalento… Os corações que me confiastes tremem de angústia e medo, ante a ventania gelada do túmulo… Que fazer para consolá-los e obter-lhes conformação?
– Educa-os para a vida, cujas provas são lições de subido valor – respondeu-lhe o Mentor Celeste, – Ensina-lhes que a doença é um gênio benfazejo e que o sepulcro é passagem para a imortalidade triunfante. Revela-lhes, porém, semelhantes verdades com a tua própria demonstração de coragem e submissão incessante à Infinita Sabedoria.
O homem tornou ao seu campo de luta e devotou-se à tarefa que lhe cabia com humildade e bom ânimo.
Quando o tempo lhe enrugou a face, alvejando-lhe os cabelos, fatigado ao peso das responsabilidades que trazia no coração, procurou o Senhor e implorou em lágrimas:
– Fiador de meus dias, compadece-te de mim!… Meu corpo agora é um instrumento cansado, sinto frio em meus ossos!… Tenho saudades de ti, Senhor!… Que fazer para transferir-me, em definitivo, para o Céu?
– Educa-te e raiará para teu espírito a luminosa libertação, educa-te e o próprio mundo te elevará à glória suprema da vida espiritual!
– Senhor, – ponderou o fiel devoto – ensinaram-me na Terra que fora da caridade não há salvação e sempre respeitei a caridade, executando-te as ordens divinas… Ter-se-iam enganado os teus mensageiros no mundo?
O Mestre sorriu e obtemperou:
– Os emissários celestiais não se equivocaram na afirmativa. Realmente, fora da caridade não há salvação, mas fora da educação não há caridade bem conduzida…
E por que o crente meditasse em lacrimoso silêncio, o Senhor concluiu:
– A caridade é a chave que abre as portas do Céu, mas a educação é o grande caminho que conduz até ele…
Foi então que o aprendiz leal voltou às obrigações que lhe competiam no mundo e consagrou o resto da existência ao serviço de educar-se, com o que passou a educar os outros com mais segurança.
Chico Xavier (médium)
IrmãoX(espírito) Fonte: Livro: Relatos da Vida
IrmãoX(espírito) Fonte: Livro: Relatos da Vida
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DEVER CRISTÃO
Rossi e Alves eram diretores de conhecido templo espírita e se davam muito bem na vida particular. Afinidade profunda. Amizade recíproca. Sempre juntos nas boas obras, integravam-se perfeitamente no programa do bem.
Alves, com desapontamento, passou a saber que Rossi, nas três noites da semana sem atividades doutrinárias, era visto penetrando a porta de uma casa evidentemente suspeita, lugar tristemente adornado para encontros clandestinos de casais transviados.
Persistindo semelhante situação por mais de um mês, Alves, certa noite, informado de que o amigo entrara na casa referida, veio esperá-lo à saída.
Dez, onze, meia-noite…
Dez, onze, meia-noite…
Alguns minutos depois de zero hora, Rossi saiu calmo e o amigo abordou-o.
– Meu caro – advertiu Alves sisudo -, não posso vê-lo reiteradamente neste lugar. Você é casado, pai de família e, além de tudo, carrega nos ombros a responsabilidade de mentor em nossa Casa. Nada podemos condenar, mas você não ignora que álcool e entorpecentes, aí dentro, andam em bica…
– Meu caro – advertiu Alves sisudo -, não posso vê-lo reiteradamente neste lugar. Você é casado, pai de família e, além de tudo, carrega nos ombros a responsabilidade de mentor em nossa Casa. Nada podemos condenar, mas você não ignora que álcool e entorpecentes, aí dentro, andam em bica…
Rossi coçou a cabeça num gesto característico e observou:
– Não há nada. Estou apenas cumprindo um dever cristão.
– Dever cristão?
– Sim, a filha de um dos meus melhores amigos está freqüentando este círculo. Jovem inexperiente. Ave desprevenida em furna de lobos. Enganada por lamentável explorador de meninas, acreditou nele… Mas a batalha está quase ganha. Convidei-a a pensar. Há mais de um mês prossegue a luta. Hoje, porém, viu com os próprios olhos o logro de que é vítima. Acredito que amanhã surgirá renovada…
– Dever cristão?
– Sim, a filha de um dos meus melhores amigos está freqüentando este círculo. Jovem inexperiente. Ave desprevenida em furna de lobos. Enganada por lamentável explorador de meninas, acreditou nele… Mas a batalha está quase ganha. Convidei-a a pensar. Há mais de um mês prossegue a luta. Hoje, porém, viu com os próprios olhos o logro de que é vítima. Acredito que amanhã surgirá renovada…
E ante os olhos desconfiados do amigo:
– Você sabe. É preciso agir, sem rumor, sem escândalo. Quem sabe? Talvez em futuro próximo a invigilante pequena possa encontrar companheiro digno. E ser mãe respeitada.
Alves riu-se às pampas, de maneira escarninha, e falou:
– Vou ver se é verdade.
– Não, não! Não vá! – pediu Rossi, em súplica ansiosa.
– Tem medo de ser apanhado em mentira? -disse Alves, com a suspeita no rosto.
– Não, não! Não vá! – pediu Rossi, em súplica ansiosa.
– Tem medo de ser apanhado em mentira? -disse Alves, com a suspeita no rosto.
E sem mais nem menos entrou casa à dentro, encontrando, num pequeno salão, sua própria filha chorando ao pé de um cavalheiro desconhecido…
Waldo Vieira ( médium )
Hilário Silva ( espírito ) Livro: A vida escreve
Hilário Silva ( espírito ) Livro: A vida escreve
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A MENTIRA
Sei da história de um pastor americano ou escocês (já não me lembro o hemisfério desse conto) o qual, uma vez, ao largo e atento auditório que costumava ouvi-lo, fez saber que no dia seguinte iria falar sobre o pecado da mentira.
– Vou pregar amanhã sobre a mentira, advertiu o bom pastor. Peço, porém, a todos os meus queridos ouvintes que, para melhor preparação do que irei dizer, leiam todo o capitulo dezessete de São Marcos. Considero indispensável essa leitura prévia.
No dia seguinte, compareceram todos. E logo, o pastor inquiriu previamente.
– Aqueles que leram o capitulo 17 de São Marcos, conforme a minha recomendação, queiram levantar-se.
Levantaram-se todos como um só homem. E o pastor prosseguiu:
– Sois vós realmente os verdadeiros ouvintes do meu sermão de hoje sobre a mentira. Porque, em verdade, não existe o capitulo dezessete. O Evangelho de São Marcos tem apenas 16 capítulos.
Antônio F. Rodrigues
Livro: Antologia Espírita e Popular – Mensagens dos Mestres
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A LENDA DAS COTOVIAS
Certa feita, os emissários benditos, por designação celestial, foram à floresta com a tarefa de visitarem os ninhos de todas as espécies de aves para distribuir, a cada agrupamento, as suas missões junto à Terra.
Todas as aves foram agraciadas com tamanho e beleza, visão e precisão na caça pela sobrevivência e perfeição no vôo.
Enquanto os trabalhadores do Senhor cumpriam suas tarefas, alguns pássaros envaideceram-se e festejavam demonstrando uns aos outros o que haviam recebido.
As cotovias, porém, sofreram toda a sorte de desprezo e escárnio. Diziam que elas não possuíam importância para Deus, pois os melhores “dons” haviam sido atribuídos aos mais experientes, maiores e melhores. De que serviria, então, o dom do canto diante dos grandes desafios da vida?
Após certo tempo, os emissários retornaram à floresta com o intuito de verificarem como foram utilizados os “dons” que haviam sido depositados naqueles corações. Alguns os utilizaram de forma digna e correta, porém outros desvirtuaram seus caminhos e entregaram-se totalmente à vaidade.
Antes de partirem, os representantes divinos encontraram as cotovias resignadas e aconchegadas em seus ninhos. Ao se aproximarem, as pequeninas derramavam lágrimas e, emocionadas, cantavam corajosamente em perfeita afinação, louvando e agradecendo todas as lições que aprendiam dia a dia com as dificuldades do mundo e com os desafios de enfrentar o impiedoso prado, fazendo suas dores converterem-se em melodias, sem lamento ou reclamações, até o momento de suas mortes.
Tamanha era a força daquele canto que todos paravam para escutá-lo e, assim, sentiam suas almas tocadas por profundo alívio e alegria.
Embevecidos pela majestosa cantoria, os trabalhadores celestes reconheceram o esforço daquelas humildes criaturas e, como recompensa, quando libertas dos infortúnios do corpo emplumado, passavam a habitar as moradas celestiais, como membros das orquestras de luzes, com a missão especial de derramar sobre a humanidade as melodiosas virtudes: coragem, esperança e fé.
Gilvanize Pereira (médium)
Ferdinando (espírito) Livro: Horizonte das Cotovias
Ferdinando (espírito) Livro: Horizonte das Cotovias
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ESTRELA DE CINCO RAIOS
Quando psicografava o livro Paulo e Estevão, do Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier via, ao seu lado, um sapo feio, gorduchão, que o amedrontava muito…
No princípio, distava-lhe alguns metros. Depois, à proporção que a grande obra chegava ao fim, o sapo estava quase aos pés do médium.
Isto lhe dava um mal-estar intraduzível.
Isto lhe dava um mal-estar intraduzível.
Emmanuel, observando-lhe o receio, diz-lhe:
– O sapo é um animal inofensivo, um abnegado jardineiro, que limpa os jardins dos insetos perniciosos. Não compreendo, pois, sua antipatia pelo pobre batráquio… Procure observá-lo mais de perto, com simpatia, e acabará sentindo-lhe estima.
– O sapo é um animal inofensivo, um abnegado jardineiro, que limpa os jardins dos insetos perniciosos. Não compreendo, pois, sua antipatia pelo pobre batráquio… Procure observá-lo mais de perto, com simpatia, e acabará sentindo-lhe estima.
Após ponderação justa de seu Guia, o Chico começou a ter simpatia pelo sapo, e achar-lhe até certa beleza, particular utilidade, um verdadeiro servidor.
Terminou a recepção do formoso livro e Emmanuel, completando o asserto, pondera-lhe, bondoso:
– O homem, Chico, será um dia, uma Estrela de Cinco Raios, quando possuir os pés, as mãos, e a cabeça alevantados, liberados.
Já possui três raios: as mãos e a cabeça, faltando-lhes os dois pés, os quais serão libertados quando perder a atração da Terra.
– O homem, Chico, será um dia, uma Estrela de Cinco Raios, quando possuir os pés, as mãos, e a cabeça alevantados, liberados.
Já possui três raios: as mãos e a cabeça, faltando-lhes os dois pés, os quais serão libertados quando perder a atração da Terra.
Existem, no entanto, germes, animais, seres outros, com os cinco raios voltados para baixo, para a Terra, sugando-lhe o seio, vivendo de sua vida.
Assim é o sapo, coitado, que luta intensamente para levantar um raio, pelo menos a cabeça. O boi já possui a cabeça alevantada, já que progrediu um pouco.
É preciso, pois, que o Homem sinta a graça que já guarda e lute, através dos três raios já suspensos, pela aquisição dos outros dois.
Que saiba sofrer, amar, perdoar, renunciar, até libertar-se do erro, dos vícios, das paixões, e, desta forma, terá livres os pés para transformar-se numa Estrela de Cinco Raios e participar da vida de outras Constelações, em meio das quais brilha uma Estrela Maior, que é Jesus.
Que saiba sofrer, amar, perdoar, renunciar, até libertar-se do erro, dos vícios, das paixões, e, desta forma, terá livres os pés para transformar-se numa Estrela de Cinco Raios e participar da vida de outras Constelações, em meio das quais brilha uma Estrela Maior, que é Jesus.
Ramiro Gama Livro: Chico Xavier na Intimidade
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A SOMBRA DO BURRO
Certa vez, promovendo uma assembléia pública em Atenas para tratar de altos interesses da pátria grega, Demóstenes viu-se apupado pela turba impaciente, que fazia menção de retirar-se sem ouvi-lo. Então, elevando a voz, disse que tinha uma historia interessante a contar. Obteve, assim, silêncio e atenção, e começou:
– Certo jovem, precisando ir de sua casa até Mégara durante o auge do verão, alugou um burro, pondo-se a caminho. Quando o sol ficou a pino, ardentíssimo, tanto o moço como o dono do animal alugado tiveram vontade de sentar-se à sombra do burro, e começaram a empurrar-se mutuamente, a fim de ficar com o lugar. Dizia o dono do animal que apenas alugara o burro e não a sua sombra, e o outro afirmava que tendo pago o aluguel do burro, pagara também o de sua sombra, pois tudo quanto pertencia ao burro lhe fora alugado com ele…
A esta altura. Demóstenes levantou-se e fez menção de retirar-se. A multidão protestou, desejosa de ouvir o resto da historia. Foi então que o prodigioso orador, erguendo-se em toda a sua altura, e encarando com firmeza o auditório, declarou, a voz trovejante:
– Atenienses! Que espécie de homens sois, que insiste em saber a historia da sombra de um burro e recusais tomar conhecimento dos fatos mais graves que vos dizem respeito?
Só então pode fazer o discurso que pretendia, para um auditório envergonhado e atento, que, afinal, ficou sem saber o fim da historia da sombra do burro.
Antônio F. Rodrigues
Livro:Antologia Espírita e Popular “Mensagens dos Mestres”
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NUM DOMINGO DE CALOR
Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Espíritas Cristãs, de Araçatuba, no Estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência. E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pôde esquivar-se.
Entretanto, a presença da conhecida missionária causava espécie.
O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto mantô de lã, apenas compreensível em tempo frio.
– Mania! – cochichava alguém, a pequena distância.
– De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu… – dizia elegante senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.
– Isso é pura vaidade – falou outra -, ela quer parecer diferente.
– Caso de obsessão! – certa amiga lembrou em voz baixa.
– De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu… – dizia elegante senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.
– Isso é pura vaidade – falou outra -, ela quer parecer diferente.
– Caso de obsessão! – certa amiga lembrou em voz baixa.
Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e de amor.
Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembléia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros, e, em razão disso, rogou a ela tirasse o mantô por gentileza.
Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável, que sustentava em Araçatuba dezenas de enfermos, com o suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.
Chico Xavier (médium)
Hilário Silva (espírito) Livro: Idéias e Ilustrações
Hilário Silva (espírito) Livro: Idéias e Ilustrações
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A DIVINA VISÃO
Muitos anos orara certa devota, implorando uma visão do Senhor.
Mortificava-se. Aflitivas penitências alquebraram-lhe o corpo e a alma. Exercitava não somente rigorosos jejuns. Confiava-se a difícil adestramento espiritual e entesourara no íntimo preciosas virtudes cristãs. Em verdade, a adoração impelira-a ao afastamento do mundo. Vivia segregada, quase sozinha. Mas, a humildade pura lhe constituía cristalina fonte de piedade. A oração convertera-se-lhe na vida em luz acesa. Renunciara às posses humanas. Mal se alimentava. Da janela ampla de seu alto aposento, convertido em genuflexório, fitava a amplidão azul, entre preces e evocações. Muitas vezes notava que largo rumor de vozes vinha de baixo, da via pública. Não se detinha, porém, nas tricas dos homens. Aprazia-lhe cultivar a fé sem mácula, faminta de integração com o Divino Amor.
Em muitas ocasiões, olhos lavados em lágrimas, inquiria, súplice, ao Alto:
– Mestre, quando virás?
Findo o colóquio sublime, voltava aos afazeres domésticos. Sabia consagrar-se ao bem das pessoas que lhe eram queridas. Carinhosamente distribuía a água e o pão à mesa. Em seguida, entregava-se a edificante leitura de páginas seráficas. Mentalizava o exemplo dos santos e pedia-lhes força para conduzir a própria alma ao Divino Amigo.
Milhares de dias alongaram-lhe a expectação.
Rugas enormes marcavam-lhe, agora, o rosto. A cabeleira, dantes basta e negra, começava a encanecer.
De olhos pousados no firmamento, meditava sempre, aguardando a Visita Celestial.
Certa manhã ensolarada, sopitando a emoção, viu que um ponto luminoso se formara no Espaço, crescendo… crescendo… até que se transformou na excelsa figura do Benfeitor Eterno.
O Inesquecível Amado como que lhe vinha ao encontro.
Que preciosa mercê lhe faria o Salvador? Arrebatá-la-ia ao paraíso? Enriquecê-la-ia com o milagre de santas revelações?
Extática, balbuciando comovedora súplica, reparou, no entanto, que o Mestre passou junto dela, como se lhe não percebesse a presença. Entre o desapontamento e a admiração, viu que Jesus parara mais adiante, na intimidade com os pedestres distraídos.
Incontinente, contendo a custo o coração no peito, desceu até à rua e, deslumbrada, abeirou-se dele e rogou, genuflexa:
– Senhor, digna-te receber-me por escrava fiel!… Mostra-me a tua vontade! Manda e obedecerei!…
O Embaixador Divino afagou-lhe os cabelos salpicados de neve e respondeu:
– Ajuda-me aqui e agora!… Passará, dentro em pouco, pobre menino recém-nascido. Não tem pai que o ame na Terra e nem lar que o reconforte. Na aparência, é um rebento infeliz de apagada mulher. Entretanto, é valioso trabalhador do Reino de Deus, cujo futuro nos cabe prevenir. Ajudemo-lo, bem como a tantos outros irmãos necessitados, aos quais devemos amparar com o nosso amor e dedicação.
– Ajuda-me aqui e agora!… Passará, dentro em pouco, pobre menino recém-nascido. Não tem pai que o ame na Terra e nem lar que o reconforte. Na aparência, é um rebento infeliz de apagada mulher. Entretanto, é valioso trabalhador do Reino de Deus, cujo futuro nos cabe prevenir. Ajudemo-lo, bem como a tantos outros irmãos necessitados, aos quais devemos amparar com o nosso amor e dedicação.
Logo após, por mais se esforçasse, ela nada mais viu.
O Mestre como que se fundira na neblina esvoaçante…
De alma renovada, porém, aguardou o momento de servir. E, quando a infortunada mãe apareceu, sobraçando um anjinho enfermo, a serva do Cristo socorreu-a, de pronto, com alimentação adequada e roupa agasalhante.
O Mestre como que se fundira na neblina esvoaçante…
De alma renovada, porém, aguardou o momento de servir. E, quando a infortunada mãe apareceu, sobraçando um anjinho enfermo, a serva do Cristo socorreu-a, de pronto, com alimentação adequada e roupa agasalhante.
Desde então, a devota transformada não mais esperou por Jesus, imóvel e zelosa, na janela do seu alto aposento. Depois de prece curta, descia para o trabalho à multidão desconhecida, na execução de tarefas aparentemente sem importância, fosse para lavar a ferida de um transeunte, para socorrer uma criancinha doente, ou para levar uma palavra de ânimo ou consolo.
E assim procedendo, radiante, tornou a ver, muita vezes, o Senhor que lhe sorria reconhecido…
Irmão X ( espírito )
Chico Xavier ( médium )
Chico Xavier ( médium )
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O DEVOTO DESILUDIDO
O fato parece anedota, mas um amigo nos contou a pequena história que passamos para frente, assegurando que o relato se baseia na mais viva realidade.
Hemetério Rezende era um tipo de crente esquisito, fixado à idéia de paraíso. Admitia piamente que a prece dispensava as boas obras, e que a oração ainda era o melhor meio de se forrar a qualquer esforço.
“Descansar, descansar!…” Na cabeça dele, isso era um refrão mental incessante. O cumprimento de mínimo dever lhe surgia à vista por atividade sacrificial e, nas poucas obrigações que exercia, acusava-se por penitente desventurado, a lamentar-se por bagatelas. Por isso mesmo, fantasiava o “doce fazer nada” para depois da morte do corpo físico. O reino celeste, a seu ver, constituir-se-ia de espetáculos fascinantes de permeio com manjares deliciosos… Fontes de leite e mel, frutos e flores, a se revelarem por milagres constantes, enxameariam aqui e ali, no éden dos justos…
Nessa expectativa, Rezende largou o corpo em idade provecta, a prelibar prazeres e mais prazeres.
Com efeito, espírito desencarnado, logo após o grande transe foi atraído, de imediato, para uma colônia de criaturas desocupadas e gozadoras que lhe eram afins, e aí encontrou o padrão de vida com que sonhara: preguiça louvaminheira, a coroar-se de festas sem sentido e a empanturrar-se de pratos feitos.
Nada a construir, ninguém a auxiliar…
As semanas se sobrepunham às semanas, quando, Rezende, que se supunha no céu, passou a sentir-se castigado por terrível desencanto. Suspirava por renovar-se e concluía que para isso lhe seria indispensável trabalhar…
Tomado de tédio e desilusão, não achava em si mesmo senão o anseio de mudança…
À face disso, esperou e esperou, e, quando se viu à frente de um dos comandantes do estranho burgo espiritual, arriscou, súplice:
– Meu amigo, meu amigo!… Quero agir, fazer algo, melhorar-me, esquecer-me!… Peço transformação, transformação!…
– Para onde desejas ir? – indagou o interpelado, um tanto sarcástico.
– Aspiro a servir, em favor de alguém… Nada encontro aqui para ser útil… Por piedade, deixe-me seguir para o inferno, onde espero movimentar-me e ser diferente…
Foi então que o enigmático chefe sorriu e falou, claro:
– Hemetério, você pede para descer ao inferno, mas escute, meu caro!… Sem responsabilidade, sem disciplina, sem trabalho, sem qualquer necessidade de praticar a abnegação, como vive agora, onde pensa você que já está?
Chico Xavier (médium)
Irmão X (espírito) Livro: Estante da Vida
Irmão X (espírito) Livro: Estante da Vida
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O ANJO E O MALFEITOR
O Mensageiro do Céu volveu do Alto a sombrio vale do mundo, em apoio de
centenas de criaturas mergulhadas na enfermidade e no crime, na, miséria e na ignorância, e, necessitando de concurso alheio para estender socorro urgente, começou por recorrer a publicação de apelos do Próprio Evangelho, induzindo corações, em nome do Cristo, à compaixão e a caridade.
centenas de criaturas mergulhadas na enfermidade e no crime, na, miséria e na ignorância, e, necessitando de concurso alheio para estender socorro urgente, começou por recorrer a publicação de apelos do Próprio Evangelho, induzindo corações, em nome do Cristo, à compaixão e a caridade.
Entretanto, porque tardasse qualquer resultado concreto, de vez que todos os habitantes do vale se comoviam com as legendas, mas não se encorajavam à menor manifestação de amparo ao próximo, o Enviado Celestial, convicto de que fora recomendado pelo Senhor a servir e não a questionar, julgou mais acertado assumir a forma de um homem e solicitar sem delongas o apoio de alguém que lhe pudesse prestar auxílio.
Materializado a preceito, procurou pela colaboração dos homens considerados mais responsáveis. Humilde e resoluto, repetia sempre o mesmo convite à prática evangélica, registrando respostas que o surpreendiam pela diferença.
O VIRTUOSO – Não posso manchar meu nome em contacto com os viciosos e transviados.
O SÁBIO – Cada qual está na colheita daquilo que semeou. Falta-me tempo para ajudar vagabundos, voluntariamente distanciados da própria restauração.
O PRUDENTE – Não posso arriscar minha posição dificilmente conquistada, na intimidade de pessoas que me prejudicariam a estima publica.
O FILANTROPO – Dou o dinheiro que seja necessário, mas de modo algum me animaria a lavar feridas de quem quer que seja.
O PREGADOR – Que diriam de mim se me vissem na companhia de criminosos?
O FILÓSOFO – Nunca desceria a semelhante infantilidade… Aspiro a alcançar as mais altas revelações do Universo. Devo estudar infinitamente… Além disso, estou cansado de saber que, se não houvesse sofrimento, ninguém se livraria do mal…
O PESQUISADOR DA VERDADE – Não sou a pessoa indicada. Caridade é capa de muitas dobras, que tanto acolhe o altruísmo quanto a fraude. Não me incomode… Procuro tão somente as realidades essenciais.
Desencantado, o Mensageiro bateu à porta de conhecido malfeitor, aliás, a pessoa menos categorizada para a tarefa, e reformulou a solicitação. O convidado, embora os desajustes íntimos, considerou, de imediato, a honra que o Senhor lhe fazia, propiciando-lhe o ensejo de operar no levantamento do bem geral, e meditou, agradecido, na Infinita Bondade que o arrancava da condenação para o favor do serviço. Não vacilou. Seguiu aquele desconhecido de maneiras fraternais que lhe pedia cooperação e entregou-se decididamente ao trabalho. Em pouco tempo, conheceu a fundo o martírio das mães desamparadas, entre a doença e a penúria, carregando órfãos de pais vivos; o pranto das viúvas relegadas à solidão; as aflições dos enfermos que esperavam a morte nas arcas de ninguém; a tragédia das crianças abandonadas; o suplício dos caluniados sem defesa; os problemas terríveis dos obsidiados sem assistência; a mágoa das vítimas dos preconceitos levados ao exagero pelo orgulho social; a angústia dos sofredores caídos em desespero pela ausência de fé…
Modificado nos mais profundos sentimentos, o ex-malfeitor consagrou-se ao alívio e à felicidade dos outros, e, percebendo necessidades e provações que não conhecia, procurou instruir-se e aperfeiçoar-se. Com quarenta anos de abnegação, adquiriu as qualidades básicas do Virtuoso, os recursos primordiais do Sábio, o equilíbrio do Prudente, as facilidades econômicas do Filantropo, a competência do Pregador, a acuidade mental do Filósofo e os altos pensamentos do Pesquisador da Verdade…
Quando largou o corpo físico, pela desencarnação – Espírito lucificado no cadinho da própria regeneração, ao calor do devotamento ao próximo -, entrou vitoriosamente no Céu, para a ascensão a outros Céus…
Um dia, chegaram ao limiar da Esfera Superior o Virtuoso, o Sábio, o
Prudente, o Filantropo, o Pregador, o Filósofo e o Pesquisador da Verdade…
Prudente, o Filantropo, o Pregador, o Filósofo e o Pesquisador da Verdade…
Examinados na Justiça Divina, foram considerados dignos perante as Leis do Senhor; entretanto, para o mérito de seguirem adiante, luzes acima, faltava-lhes trabalhar na seara do amor aos semelhantes… Enquanto na Terra não haviam desentranhado os tesouros que Deus lhes havia conferido em benefício dos outros Cabia-lhes, assim, o dever de regressar às lides da reencarnação, mas, porque haviam abraçado conduta respeitável no mundo, o Virtuoso receberia, na existência vindoura, mais veneração, o Sábio mais apreço, o Prudente mais serenidade, o Filantropo mais dinheiro, o Pregador mais inspiração, o Filósofo mais discernimento e o Pesquisador da Verdade mais luz…
Observando, porém, que o malfeitor, sobejamente conhecido deles todos, vestia alva túnica resplendente, funcionando entre os agentes da Divina Justiça, começaram a discutir entre si, incapazes de reconhecer que na obra do amor qualquer filho de Deus encontra os instrumentos e caminhos da própria renovação. Desalentados, passaram a reclamar… Em nome dos companheiros, o Virtuoso aproximou-se do orientador maior que lhes revisava os interesses no Plano Espiritual e indagou:
-Venerável Juiz, por que motivo um malfeitor atravessou antes de nós, as fronteiras do Céu?!…
O magistrado, porém, abençoou-lhe a inquietação com um sorriso e informou, simplesmente.
– Serviu.
Chico Xavier ( médium )
Irmão X ( espírito ) Livro: Estante da Vida
Irmão X ( espírito ) Livro: Estante da Vida
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PEDAÇO DE ESTRELA
Quando ainda era criança, fui visitado por um anjo durante o sono.
— Vem! – Disse-me ele. – Confiante, entreguei-me em seus braços!
Em poucos instantes fomos transportados para o Firmamento!
Contemplei de perto a beleza das Estrelas! Observei que entre elas havia um espaço vazio, parecia faltar uma delas, então perguntei:
— Para onde foi a Estrela que estava aqui?
— Foi para a Terra. – Respondeu o anjo.
— Como eu não a vi por lá?
— Ela se dividiu em pedacinhos para cumprir a missão que Deus lhe confiou.
— Quem é ela? – Perguntei.
— Ela é auxiliar direta de Deus, materializando a vida na Terra!
É forte como um gigante e frágil como uma flor! No seu coração Deus colocou a força do Universo e o segredo da felicidade!
Pelas suas entranhas a vida se renova! Pelo seu amor os mundos se transformam! Progenitora das gerações, se tornou o portal da vida, acolhendo carinhosamente em seu ventre os brutos e os santos, os sábios e os ignorantes, os justos e os injustos…
Enquanto o anjo falava, fui tomado por uma sensação de queda e acordei nos braços de minha mãe!
Então compreendi! Ali mesmo, apertando-me contra o peito, estava um pedaço enorme daquela Estrela!
Nelson Moraes Do Livro: Pedaço de Estrela
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O GOLPE DE VENTO
Ali, na solidão do quarto de estudo, Joanino Garcia descerrara a grande janela, à procura de ar fresco.
Repousara minutos breves.
Agora, porém, acreditava ter chegado ao fim.
Julgara haver lido numa obra de clínica médica a própria sentença de morte.
Facilmente sugestionável, há muito vinha dando imenso trabalho ao médico.
E, não obstante espírita convicto, deixava-se levar por impressões.
Em menos de dois anos, sentira-se vitimado por sintomas diversos.
A princípio, dominado por bronquite rebelde, compulsara um livro sobre tuberculose e supusera-se viveiro dos bacilos de Koch.
Tempo e dinheiro foram gastos em exames e chapas.
Entretanto, mal não acabara de se convencer do contrário, quando, numa noite, ao sentir-se trêmulo, sob o efeito de determinada droga, começou a estudar a doença de Parkinson e foi nova luta para que lhe desanuviasse o crânio.
Joanino mostrara-se contente, por alguns dias; entretanto, uma intoxicação alterou-lhe a pele e ei-lo crente de que fora atacado pela púrpura hemorrágica, obrigando o médico e a família a difícil trabalho de exoneração mental.
Naquele instante, contudo, via-se derrotado.
Experimentando muita dor, buscara o consultório na antevéspera e o clínico amigo descobrira uma artrite reumatóide, recomendando cuidados especiais.
No grande sofá, depois de leve refeição, ao sentir pontadas relampagueantes no ombro esquerdo, tomou o livro de anotações médicas e abriu no capítulo alusivo à moléstia que lhe fora diagnosticada.
Antes de iniciar a leitura, levantou-se com dificuldade, para um gole d’água, tentando aliviar as agulhadas nervosas, e não viu que o vento virara as folhas do volume.
Voltando, sobressaltado leu nas primeiras linhas da página:
– “A moléstia assume a forma de dor pungente e agonizante. Geralmente a crise perdura por segundos e termina com a morte. Sofrimento agudo e invencível. A dor começa no ombro esquerdo a refletir-se na superfície flexora do braço esquerdo até às pontas dos dedos médios”.
Joanino rendeu-se.
Quis gritar, pedir socorro, mas “a dor agonizante”, ali referida, crescia assustadora.
Pensou na mulher e nos quatro filhinhos.
Afligia-se como que sufocado.
Não podendo resistir, por mais tempo, aos próprios pensamentos concentrados na idéia da desencarnação, rendeu-se à morte.
Despertando, porém, fora do corpo de carne, afogado em preocupações, ao pé dos familiares em chorosa gritaria, viu o benfeitor espiritual que velava habitualmente por ele.
O amigo abraçou-o emocionado, e falou:
– É lamentável que você tenha vindo antes do tempo…
– Como assim? – respondeu Garcia, arrasado. – Li os sintomas derradeiros de minha enfermidade.
– Houve engano – explicou o instrutor – os apontamentos do livro reportavam-se à angina de peito e não à artrite reumatóide como a sua leitura fez supor. A corrente de ar virou a página do livro. Você possuía, em verdade, um processo anginoso, mas com catorze anos de sobrevida… Entretanto, com o peso de sua tensão mental…
Só aí Joanino veio a saber que morrera, de modo prematuro, em razão da sensibilidade excessiva, ante a leitura alterada por ligeiro golpe de vento.
Hilário Silva (espírito)
Chico Xavier (médium) Livro: Idéias e Ilustrações
Chico Xavier (médium) Livro: Idéias e Ilustrações
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LIÇÃO ESPÍRITA
Internara a filhinha num Lar de crianças sem pais.
Vendendo ilusões, fora antes vendida a um bordel, quando ludibriada nos sentimentos de menina-moça.
Comprometera-se não visitar a filha, a fim de fazê-la ignorar a origem. Desejava-a feliz, fosse educada, que se lhe desse uma profissão digna e despediu-se, emocionada, de alma amarfanhada.
Quatro anos depois, sucumbindo ao peso de cruel enfermidade, buscou rever a filha. Apresentou-se como se lhe fora tia. A pequena, porém, chamou-a “mamãe”.
Sem ocultar as lágrimas, reiterou a condição de tia, cuja irmã desencarnara em situação dolorosa…
Sentia-se desencarnar e informara ao diligente benfeitor da filha que eram poucos os seus dias na Terra.
Suplicou desvelado carinho para a menina.
Recusou-se receber qualquer assistência e partiu…
Um ano após, volveu, renovada.
– Gostaria que o senhor me ouvisse – solicitou.
E narrou que a enfermidade psíquica de uma amiga de infortúnio levara-as a um Centro Espírita, que funcionava no bairro de angústias, onde viviam.
Encontrara ali amparo, assistência moral, orientação.
A pesado sacrifício, começou a frequentar a Casa. À medida que recobrava a saúde, oportunamente, deparou-se naquele recinto com o homem que a infelicitara.
Dominada pelo ódio, que lhe irrompeu intempestivo, acusou-o diante de todos, apontando-o como o destroçador da sua vida…
– É verdade! – Retrucara o acusado – Naquele tempo, eu era igualmente um enfermo… do espírito.
E rogou-lhe perdão.
Ela se comoveu. Afinal, sob o ódio havia o amor magoado.
Tornaram-se amigos.
Há pouco tempo ele lhe prometera matrimônio.
Dissera que a amava.
Aceitara-o.
Ele retirou-a do “comércio carnal” em que vivia e alugara um apartamento onde a hospedou com dignidade.
Respeitavam-se.
Casaram-se logo depois.
– Seria possível, agora, conduzir a filha para o lar? – Indagou, ansiosa.
– Sem dúvida – concordou o amigo.
Prometeu, então, retornar depois, em companhia do esposo.
Ao fim da semana, jovial, fazia-se acompanhar do cônjuge.
Comprovaram a situação nova: moral e legal.
Quando a filhinha foi abraçá-la e o dirigente do Lar explicou que se tratava da sua genitora, respondeu a menina:
– Eu sabia! Orava a Jesus para que Ele me trouxesse minha mamãe de volta.
Reabilitados, agora abrem as mãos da caridade aos que padecem, laborando no santuário onde receberam a medicação espírita para a paz.
A lição espírita promove o homem e reabilita-o.
Só é legítima a crença que soergue e enobrece o crente.
O Espiritismo, por tal razão, é o Consolador, pois que, enxugando as lágrimas, liberta o que chora, levantando-o e dignificando-o, a fim de que não volte à furna do desespero donde se evadiu.
Divaldo P. Franco (médium)
Ignotus (espírito) Livro: Espelho D’álma
Ignotus (espírito) Livro: Espelho D’álma
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CONSCIÊNCIAS
Ao rei Tajuan, do Iémene, numa audiência rotineira, foram trazidos cinco malfeitores que lhe haviam requerido proteção e misericórdia.
Seguido de guardas vigilantes, aproximou-se o primeiro e rogou em lágrimas, após beijar o escabelo em que o soberano punha os pés:
– Perdão, ó rei! Juro pelo Altíssimo que não matei com intenção… Comecei a discutir com o ladrão de meus cavalos e, em certo momento, senti a cabeça turva… Rolei no chão sobre o meu contendor e, quando me dominei, o gatuno estava morto! Piedade! Piedade para mim, que não tive força de governar o coração!… Só agora, na prisão, ouvi a palavra de um homem que repetia as lições do Profeta… Só agora, compreendo que errei!
..O soberano chamou o vizir que o acompanha e determinou que entregassem ao réu aos cuidados de um médico, a fim que fosse julgado com indulgência, depois do tratamento preciso.
Adiantou-se o segundo e clamou, submisso:
– Glorificado seja Alá, em vossa presença, ó rei generoso! Compadecei-vos de mim, que sou ignorante e mau! Jamais pude ler uma só frase dos Sagrados Preceitos e somente agora, depois de embriagar-me e espancar meu pai, inconscientemente, é que vim a saber que o homem não deve crescer como as bestas do campo!…
O rei fitou-o, compassivo, e determinou que o denunciado fosse prontamente admitido à escola.
Veio o terceiro e implorou:
– Clemência para mim, ó representante de Alá… Sou analfabeto. Desde a infância, trabalho no mercado para sustentar meus avós paralíticos… Observando que vários negociantes obtinham maiores lucros, roubando nos pesos, não hesitei segui-lhes os maus exemplos. Juro pela memória de meus pais que não sabia o que andava fazendo…
Tajuan, complacente, recomendou medidas para que o desventurado permanecesse, largo tempo, sob as lições de um guia espiritual.
O quarto réu abeirou-se do estrado real e suplicou:
– Perdão, perdão ó rei justo! Assaltei a casa do avarento Aquibar, porque não mais suportava a penúria… Tenho mulher e nove filhos famintos e enfermos!… Sou um cão batido pelo sofrimento… Cresci na areia, sem ninguém que me quisesse… Sei que Alá existe, porque é impossível haja sol e caia chuva sem um pai que nos olhe do céu, mas nunca aprendi a soletrar o nome do Eterno!…
Extremamente comovido, Tajuan solicitou ao ministro expedisse socorro urgente à choupana do infeliz e ordenou que um mestre o instruísse nos deveres do homem de bem, antes que a falta subisse a mais ampla consideração dos juizes.
Por último, apresentou-se um homem de porte orgulhoso, que fez a reverência de estilo e solicitou:
– Sapientíssimo Rei, peço a vossa benevolência para mim, que tive a desventura de furtar um adereço de brilhantes, na festa de Joanan ben Kisma, judeu rico e preguiçoso, conhecido inimigo de nossa nação… Conheço as leis que nos regem e acato os ensinamentos do Profeta, mas não pude resistir à tentação de levar comigo uma jóia do usurário que as possui aos montões…
Benevolência, ó Rei Tajuan! Rogo a vossa benevolência!…
O soberano, porém, franziu a testa, contrariado e, com assombro de todos os circunstantes, determinou que o árabe culto recebesse, atado a um poste, trinta e seis chicotadas, ali mesmo, diante de seus olhos, para, em seguida, ser trancafiado no cárcere por dois anos.
– Pela glória de Alá, ó rei sábio! – exclamou, confundido, o vizir a cuja autoridade se rogara auxílio para o distinto acusado – como interpretar a vossa munificência? Destes medicação a um criminoso, escola a um ébrio e socorro material e moral a dois ladrões, e indicais pena assim tão cruel a um filho de nosso povo que venera o Profeta, unicamente pelo fato de haver desaparecido uma jóia dos tesouros de um agiota desprezível?
– Por isso mesmo, ó vizir, por isso mesmo! – falou Tajuan, desencantado – por saber tanto, é mais responsável… Os quatro primeiros eram ignorantes e todos os ignorantes são infelizes, mas o quinto culpado é um homem finamente instruído e sabe perfeitamente o que deve fazer!
*Há quem afirme que nós, os que nos fizemos espíritas, encarnados ou desencarnados, sofremos mais que os nossos semelhantes, carregando aparentemente cruzes mais pesadas; no entanto, nós os espíritas, conhecemos as leis que nos governam os destinos e, por essa razão, mais responsáveis somos pelos nossos atos.
Chico Xavier (médium)
Irmão X (espírito) Livro: Relatos da Vida
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