1 Preces em geral;
Com o fim de chamar a atenção mais particularmente sobre o
objetivo de cada prece e tornar mais compreensível o seu sentido,
são todas precedidas de uma exposição de motivos sob o título de
Instrução Preliminar.
1 PRECES EM GERAL
Oração Dominical
2 Instrução Preliminar
Os Espíritos recomendaram colocar a oração dominical, o Pai-
Nosso, no início desta coletânea, não somente como prece, mas
também como símbolo. De todas as preces, é a que colocam em
primeiro lugar, porque veio do próprio Jesus (Mateus, 6:9 a 13) e porque
pode substituir a todas conforme a idéia e o sentimento que se lhe
atribua. É o mais perfeito modelo de concisão*, verdadeira obra prima,
sublime na sua simplicidade. De fato, sob a forma mais singela,
resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo
* N. E. - Concisão: precisão, exatidão, síntese mesmo e para com o próximo.
Encerra uma profissão de fé*, um ato de adoração e de submissão, o
pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Dizê-la
em intenção de alguém é pedir para outrem o que se pediria para si mesmo.
Mas, em virtude de ser concisa, o profundo sentido contido nas
poucas palavras que a compõem escapa à maioria. É por isso que a
oração dominical* é, muitas vezes, dita sem se fixar o pensamento
sobre o sentido de cada uma de suas partes. Dizem-na decorada,
como uma fórmula, cuja eficiência está condicionada ao número de
vezes que é repetida e, quase sempre, esse número é cabalístico:
três, sete ou nove, tirado da antiga crença supersticiosa do poder atribuído
aos números e em uso nos círculos da magia.
Para auxiliar e aclarar a mente sobre as proposições do Pai-Nosso,
de acordo com o conselho e com a assistência dos bons Espíritos,
a cada proposição da prece foi feito um comentário que lhe desenvolve
o sentido e mostra as aplicações. Conforme as circunstâncias e o tempo
disponível, pode-se dizer a Oração Dominical simples ou desenvolvida.
3 Prece
3.1. Pai nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso nome!
Acreditamos em vós, Senhor, pois tudo revela vosso poder e vossa
bondade. A harmonia do Universo testemunha uma sabedoria, uma prudência
e uma previdência que ultrapassam toda a compreensão humana.
O nome de um ser soberanamente grande e sábio está inscrito em todas
as obras da Criação, desde o ramo da erva e o mais pequeno inseto até
os astros que se movem no espaço. Em todos os lugares, vemos a prova
de um amor paternal. É por isso que cego é aquele que não vos reconhece
em vossas obras, orgulhoso aquele que não vos glorifica, e ingrato
aquele que não vos rende graças.
3.2. Venha a nós o vosso reino!
Senhor, destes aos homens leis perfeitas de sabedoria, que os
fariam felizes se as seguissem. Com essas leis, fariam reinar entre si a
paz e a justiça; ajudariam-se mutuamente ao invés de prejudicaremse
como o fazem; o forte ajudaria o fraco ao invés de massacrá-lo;
evitariam os males que geram os abusos e os excessos de todas as
espécies. Todas as misérias da Terra vêm da violação de vossas leis,
pois não há uma única infração a essas leis que não tenha conseqüências
inevitáveis.
Destes ao animal o instinto, que o mantém no limite do necessário,
e ele se conforma naturalmente com isso. Ao homem, além do instinto,
destes a inteligência e a razão; destes também a liberdade de respeitar
ou violar aquelas de vossas leis que lhe dizem respeito pessoalmente, ou
seja, de escolher entre o bem e o mal, a fim de que tenha o mérito e a
responsabilidade de suas ações.
Ninguém pode alegar ignorância de vossas leis, porque, em vossa
previdência paternal, quisestes que fossem gravadas na consciência de
cada um, sem distinção de cultos, nem de nações. Aqueles que as desobedecem,
é porque vos desconhecem.
Chegará o dia em que, de acordo com vossa promessa, todos praticarão,
e então a incredulidade terá desaparecido. Todos vós
reconhecerão o Senhor soberano de todas as coisas, e o reinado de
vossas leis será vosso reino na Terra.
Dignai-vos, Senhor, a apressar a sua vinda, dando aos homens a
luz necessária que os conduza ao caminho da verdade.
3.3. Seja feita a vossa vontade assim na Terra como nos Céus!
Se a submissão é um dever do filho com relação ao pai, do inferior
com relação ao superior, quanto maior não deve ser a da criatura em
relação ao seu Criador! Fazer vossa vontade, Senhor, é obedecer vossas
leis e se submeter sem lamentações aos vossos decretos divinos. O homem
se submeterá a ela quando compreender que sois a fonte de toda
sabedoria e que sem vós nada pode. Então fará vossa vontade na Terra
como os eleitos a fazem nos Céus.
3.4. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje!
Dai-nos o alimento para a manutenção das forças do corpo; dai-nos
também o alimento espiritual para o desenvolvimento de nosso Espírito.
O animal encontra sua pastagem, mas o homem deve o seu alimento
à sua própria atividade e aos recursos de sua inteligência, porque
vós o criastes livre.
Vós lhe dissestes: “Tirarás teu alimento da terra com o suor de teu
rosto”. Com isso lhe fizestes do trabalho uma obrigação, a fim de que
exercite sua inteligência pela procura dos meios de preencher as suas
necessidades e o seu bem-estar; uns pelo trabalho manual, outros pelo
trabalho intelectual. Sem o trabalho, ficaria estacionário e não poderia
pretender alcançar a felicidade dos Espíritos superiores.
Auxiliais o homem de boa vontade que se confia a vós para obter o
necessário, mas não aquele que encontra prazer no vício de gastar o
tempo inutilmente, que gostaria de tudo obter sem esforço, nem o que
procura o desnecessário.
Quantos são os que caem vencidos por sua própria culpa, por seu
descuido, sua imprevidência ou sua ambição, e por não quererem se
contentar com o que lhes destes. Estes são os que fazem a sua própria
desgraça e não têm o direito de se lamentar, já que são punidos naquilo
mesmo em que pecaram. Apesar disso, nem a estes abandonais, pois
sois infinitamente misericordioso; vós lhes estendeis a mão em socorro
desde que, como o filho pródigo•, retornem sinceramente a vós.
Antes de nos lamentar da nossa sorte, perguntemo-nos se ela não
é obra nossa. Perguntemo-nos se a cada infelicidade que nos chega não
dependia de nós evitá-la, e consideremos também que Deus nos deu a
inteligência para nos tirar do lamaçal e que depende de nós fazer bom
uso dela.
Uma vez que na Terra o homem se acha submetido à lei do trabalho,
dai-nos a coragem e a força de cumpri-la. Dai-nos também a
prudência, a previdência e a moderação, para que não venhamos a perder
os seus frutos.
Dai-nos, Senhor, nosso pão de cada dia, ou seja, os meios de adquirir,
pelo trabalho, as coisas necessárias à vida, pois ninguém tem o
direito de reclamar o desnecessário.
Se o trabalho nos é impossível, confiamo-nos à vossa Divina Providência.
Se está em vossa vontade nos provar pelas mais duras privações,
apesar de nossos esforços, nós as aceitamos como uma justa expiação
das faltas que tenhamos cometido nesta vida ou numa outra anterior,
pois sois justo. Sabemos que não há sofrimentos que não sejam merecidos
e que nunca há punições sem causa.
Preservai-nos, meu Deus, de invejar aqueles que possuem o que
não temos, e nem mesmo invejar os que têm o excessivo quando nos
falte o necessário. Perdoai-lhes, se esquecem a lei da caridade e de amor
ao próximo que lhes ensinastes.
Afastai também de nós o pensamento de negar vossa justiça, ao
ver a prosperidade do mau e a infelicidade que, por vezes, aflige o homem
de bem. Graças às novas luzes que nos destes, sabemos agora
que vossa justiça sempre se cumpre e não falha com ninguém, porque a
prosperidade material do mau é tão transitória e passageira quanto a sua
existência corporal, e que terá que passar por reencarnações dolorosas,
enquanto a alegria reservada àqueles que sofrem com resignação será
eterna.
3.5. Perdoai nossas dívidas como nós as perdoamos àqueles que
nos devem! – Perdoai nossas ofensas como nós perdoamos àqueles
que nos ofenderam!
Cada uma de nossas infrações às vossas leis, Senhor, é uma ofensa
que vos fazemos, e uma dívida contraída que cedo ou tarde será
preciso resgatar. Solicitamos o perdão de vossa infinita misericórdia e vos
prometemos empregar nossos esforços para não contrair novas dívidas.
Na caridade, nos ensinastes a maior das leis; mas a caridade não
consiste somente em amparar ao semelhante na necessidade; consiste
também no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito
reclamaríamos vossa indulgência, se nós mesmos não usássemos dela
para com aqueles dos quais temos do que nos queixar?
Dai-nos, meu Deus, a força para apagar em nossa alma todo o
ressentimento, todo o ódio e todo o rancor. Fazei com que a morte não
nos surpreenda com nenhum desejo de vingança no coração. Se for de
vossa vontade nos retirar hoje mesmo da Terra, fazei com que possamos
nos apresentar diante de vós puros, libertos de ódios, como o Cristo,
cujas últimas palavras foram de perdão em favor dos seus martirizadores.
As perseguições que os maus nos fazem suportar são parte das
nossas provas terrenas. Devemos aceitá-las sem lamentações, como todas
as outras provas, e não amaldiçoar aqueles que com suas maldades nos
dão a oportunidade de perdoar-lhes, abrindo-nos o caminho da felicidade
eterna, já que nos dissestes pelo ensinamento de Jesus: Bem-aventurados
os que sofrem pela justiça! Bendigamos a mão que nos fere e nos humilha,
porque sabemos que as angústias do corpo fortalecem nossa alma, e
seremos glorificados em nossa humildade.
Abençoado seja o vosso nome, Senhor, por nos teres ensinado que
nossa sorte não está irrevogavelmente fixada após a morte. Que
encontraremos em outras existências os meios de resgatar e reparar nossas
faltas passadas, e de cumprir, em uma nova vida, o que não pudemos
fazer nesta para o nosso adiantamento.
Assim se explicam todas as desigualdades aparentes da vida terrena.
É a luz lançada sobre nosso passado e nosso futuro o sinal evidente de
vossa soberana justiça e de vossa bondade infinita.
3.6. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!
Dai-nos, Senhor, a força para resistir às sugestões dos maus Espíritos
que, inspirando-nos maus pensamentos, tentam nos desviar do caminho
do bem.
Somos Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar nossas
faltas e melhorar-nos. A principal causa do mal está em nós mesmos, e
os maus Espíritos apenas se aproveitam de nossas más inclinações e
vícios para nos tentar.
Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, conquanto
são impotentes e renunciam a qualquer tentativa contra os seres
(1) Algumas traduções trazem: Não nos induzas à tentação (et ne nos inducas
in tentationem);
essa expressão daria a entender que a tentação vem de Deus, que incita
voluntariamente os
homens à prática do mal, pensamento ultrajante e insultuoso que assemelharia
Deus a Satã e
que não pode ter sido o de Jesus, porque está de acordo com a doutrina comum
sobre o papel
dos demônios perfeitos. Se não tivermos vontade firme e determinada para
praticar o
bem e renunciar ao mal, tudo o que fizermos para afastá-los será inútil.
Portanto, precisamos direcionar nossos esforços para combater as nossas
más inclinações e os nossos vícios; então, os maus Espíritos naturalmente
se afastarão, porque é o mal que os atrai, enquanto o bem os repele.
Senhor, sustentai-nos em nossa fraqueza; inspirai-nos, pela voz de
nossos anjos guardiães e pelos bons Espíritos, a vontade de corrigir nossas
imperfeições a fim de impedir aos Espíritos impuros o acesso à nossa
alma.
Senhor, como sois a fonte de todo o bem, não criais nada de mau,
não podendo, por isso, o mal ser obra vossa. Nós mesmos o criamos ao
desprezar as vossas leis, e pelo mau uso que fazemos do livre-arbítrio
que nos destes. Quando os homens cumprirem vossas leis, o mal desaparecerá
da Terra, como já desapareceu em mundos mais avançados.
A prática do mal não é uma necessidade fatal ou irresistível para
ninguém, e apenas parece irresistível àqueles que nela se satisfazem. Se
temos a vontade de fazer o mal, podemos também ter a de fazer o bem.
Senhor, meu Deus, é por isso que pedimos vossa assistência e a dos
bons Espíritos para resistir à tentação.
3.7. Assim seja!
Permite, Senhor, que nossos desejos se realizem! Mas curvamonos
diante de vossa infinita sabedoria. Que todas as coisas que não
compreendamos sejam feitas conforme vossa santa vontade, e não a
nossa, pois quereis apenas o nosso bem e sabeis melhor do que nós o
que nos é conveniente.
A vós, meu Deus, dirigimos esta prece por nós e em favor de todas
as almas sofredoras, encarnadas ou desencarnadas, pelos nossos amigos
e inimigos, por todos aqueles que solicitem nossa assistência, e em
particular por... (Podem-se formular a seguir os agradecimentos que são
dirigidos a Deus e os que se queira pedir para nós mesmos ou para os
outros.
Suplicamos vossa misericórdia e vossa bênção para todos.
Reuniões Espíritas
4. Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em
meu nome, eu me encontrarei entre elas. (Mateus, 18:20)
5 Instrução Preliminar
Para as pessoas se acharem reunidas em nome de Jesus não basta
estarem fisicamente juntas. É preciso estarem espiritualmente unidas,
pela comunhão de intenções e de pensamentos para o bem. Assim,
Jesus ou os Espíritos puros que O representam se encontrarão no meio
da assembléia. O Espiritismo nos faz compreender como os Espíritos
podem estar entre nós. Eles estão com seu corpo fluídico ou espiritual,
e com a aparência que nos permitiria reconhecê-los, caso se
tornassem visíveis. Quanto mais são elevados na ordem espiritual,
maior é seu poder de irradiação. É assim que possuem o dom da
ubiqüidade, isto é, podem estar em muitos lugares ao mesmo tempo,
bastando para isso usarem um raio de seu pensamento, que se projeta
para onde eles querem.
Por estas palavras Jesus quis mostrar o efeito da união e da
fraternidade. Não é o maior ou o menor número de pessoas reunidas
que garante a presença espiritual de Jesus ou dos bons Espíritos,
pois, ao invés de duas ou três, poderia Ele ter dito dez ou vinte, ou até
mais. A presença espiritual de Jesus e a dos bons Espíritos se dará
sempre que o sentimento de caridade seja a base da união com
fraternidade, ainda que só se conte com duas pessoas. Porém, se
essas duas pessoas orarem, cada uma no seu canto, embora se dirijam
a Jesus, não existirá entre elas comunhão de pensamentos se não
estiverem tocadas por um sentimento de benevolência mútua. Em se
olhando com prevenção, ódio, inveja ou ciúme, as correntes fluídicas
de seus pensamentos serão opostas, ao invés de se unirem num
impulso comum de simpatia e, assim, não estarão reunidas em nome
de Jesus. Jesus será para elas apenas um pretexto da reunião, e não
o verdadeiro motivo.
Isto não significa que Jesus não atenda à voz de uma única pessoa.
Se Ele disse: Eu virei para todo aquele que me chamar, é que exige, antes
de tudo, o amor ao próximo, do qual se podem dar provas quando oramos
em grupo, melhor do que isoladamente, e isentos de todo sentimento
pessoal e egoísta. Segue-se que, se numa assembléia numerosa, apenas
duas ou três pessoas se unem de coração pelo sentimento da verdadeira
caridade, enquanto as outras se isolam e se concentram em pensamentos
egoístas ou mundanos, Ele estará com os primeiros e não com os demais.
Não são, pois, o coro das palavras, dos cânticos ou os atos exteriores
que constituem a reunião em nome de Jesus, mas a comunhão de
pensamentos em harmonia com o espírito de caridade que Ele personifica.
Este deve ser o caráter das reuniões espíritas sérias, aquelas em
que se deseja a participação dos bons Espíritos.
6 Prece (para o início da reunião)
Suplicamos ao Senhor Deus todo poderoso enviar-nos bons Espíritos
para nos assistir, afastar aqueles que poderiam nos levar ao erro e nos
dar a luz necessária para distinguir a verdade da impostura.
Afastai também os Espíritos malévolos, encarnados e desencarnados,
que poderiam tentar provocar a desunião entre nós e desviar-nos
da caridade e do amor ao próximo. Se alguns procurarem aqui se introduzir,
fazei com que não achem acesso no coração de nenhum de nós.
Bons Espíritos que vindes nos instruir, tornai-nos dóceis aos vossos
conselhos; desviai-nos de todo pensamento de egoísmo, orgulho,
inveja e ciúme; inspirai-nos a indulgência e a benevolência para com os
nossos semelhantes, presentes ou ausentes, amigos ou inimigos; fazei
com que, pelos sentimentos de amor que nos envolvem, reconheçamos
a vossa salutar influência.
Dai aos médiuns que escolherdes para transmitir vossos ensinamentos
a consciência da santidade do mandato que lhes foi confiado, e
da seriedade do ato que vão realizar, a fim de que o façam com o fervor
e a responsabilidade necessários.
Se, na reunião, houver pessoas que tenham vindo por outros sentimentos
que não o do bem, abri-lhes os olhos à luz e perdoai-lhes, como
nós lhes perdoamos se vierem com intenções malévolas.
Rogamos especialmente ao Espírito de ..., nosso guia espiritual, para
nos assistir e velar por nós.
7 Prece (para o fim da reunião)
Agradecemos aos bons Espíritos que vieram se comunicar conosco;
rogamo-lhes que nos ajudem a colocar em prática as instruções que
nos foram dadas, e que cada um de nós, ao sair daqui, se sinta fortalecido
para a prática do bem e do amor ao próximo.
Desejamos igualmente que suas instruções sejam proveitosas aos
Espíritos sofredores, ignorantes ou viciosos, que puderam assistir a esta
reunião, e para os quais suplicamos a misericórdia de Deus.
Pelos Médiuns
8. Nos últimos tempos, disse o Senhor, espalharei meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos jovens
terão visões, e vossos velhos, sonhos. Nesses dias, espalharei de meu
Espírito sobre meus servidores, e eles profetizarão. (Atos, 2:17 e 18)
9 Instrução Preliminar
O Senhor quis que a luz se fizesse para todos os homens e que a
voz dos Espíritos penetrasse por todos os lugares, a fim de que cada
um pudesse ter provas da imortalidade do Espírito. É com esse objetivo
que hoje os Espíritos se manifestam em todos os pontos da Terra,
e a mediunidade se revela em pessoas de todas as idades e de todas
as condições, nos homens e nas mulheres, nas crianças e nos velhos.
É um dos sinais de que chegaram os tempos anunciados.
Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos
da natureza material, Deus deu ao homem a visão, os sentidos e instrumentos
especiais. Com o telescópio, ele lança seus olhares na profundeza
do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente
pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade.
Os médiuns são os intérpretes encarregados de transmitir aos
homens os ensinamentos dos Espíritos; ou melhor, são os instrumentos
materiais pelos quais se comunicam os Espíritos para se tornarem
compreensíveis aos homens. Sua missão é santa e tem o objetivo de
abrir os horizontes da vida eterna.
Os Espíritos vêm instruir o homem sobre sua destinação futura, a
fim de o orientar no caminho do bem, e não para poupar-lhe o trabalho
material que deve cumprir na Terra para seu adiantamento, nem para
favorecer sua ambição e sua cobiça. Eis do que os médiuns devem se
compenetrar, para não fazer mau uso dos seus dons mediúnicos.
Aquele que compreende a seriedade do mandato de que está investido
cumpre-o religiosamente. Sua consciência o reprovaria, como um ato
de sacrilégio, isto é, uma profanação, se transformasse em divertimento
e distração, para ele ou para os outros, o dom mediúnico que lhe foi
dado com um objetivo muito sério e que o coloca em contato com os
seres do mundo espiritual.
Como intérpretes do ensinamento dos Espíritos, os médiuns
devem exercer um papel importante na transformação moral que se
opera na Terra. Os serviços que podem prestar estão na razão da boa
direção que dão às suas faculdades mediúnicas, pois aqueles que
estão em mau caminho são mais prejudiciais do que úteis à causa do
Espiritismo. Pelas más impressões que produzem, retardam mais de
uma conversão. É por isso que terão de prestar contas do uso que
fizeram de um dom, que lhes foi dado para o bem de seus semelhantes.
O médium que quer conservar a assistência dos bons Espíritos deve
trabalhar para a sua própria melhoria. Aquele que quer ver crescer e
desenvolver capacidades mediúnicas, deve aperfeiçoar-se moralmente,
e afastar-se de tudo que o levaria a desviar-se de seu objetivo
providencial.
Se, por vezes, os bons Espíritos se servem de médiuns
imperfeitos, é para lhes dar bons conselhos e fazê-los retornar ao
bem. Se encontram corações endurecidos e se seus conselhos não
são escutados, eles se retiram, e, então, os maus têm o caminho livre.
A experiência prova que, para os que não aproveitam os conselhos
que recebem dos bons Espíritos, as comunicações se deturpam pouco
a pouco, após ter revelado algum brilho durante um certo tempo, e
acabam por cair no erro, no palavreado vazio e no ridículo, sinal
evidente do afastamento dos bons Espíritos.
Obter a assistência dos bons Espíritos, afastar os Espíritos levianos
e mentirosos deve ser a meta dos esforços constantes de todos os
médiuns sérios. Sem isso, a mediunidade é um dom estéril, que pode
resultar em prejuízo daquele que a possua, pois pode transformar-se em
perigosa obsessão.
O médium que compreende o seu dever, ao invés de se envaidecer
por um dom que não lhe pertence, uma vez que pode lhe ser retirado,
atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se suas comunicações merecem
elogios, não se envaidece por isso, pois sabe que elas são independentes
de seu mérito pessoal, e agradece a Deus por ter permitido que os bons
Espíritos viessem se manifestar por meio dele. Por outro lado, se for
criticado, não se ofenderá por isso, porque não são obras do seu próprio
Espírito. Reconhecerá não ter sido ele um bom instrumento, admitindo
que ainda não possui todas as qualidades necessárias para se opor à
influência de Espíritos atrasados. É por isso que procura adquirir essas
qualidades, e pede, pela prece, a força que lhe falta.
10 Prece
Deus Todo-Poderoso, permiti aos bons Espíritos me assistirem na
comunicação que solicito. Preservai-me da presunção de me julgar
resguardado dos maus Espíritos; do orgulho que poderia me induzir ao
erro sobre o valor do que obtenha; de todo sentimento contrário à caridade
com relação aos outros médiuns. Se for induzido ao erro, inspirai a alguém
o pensamento de me advertir, e a mim a humildade que me fará aceitar a
crítica com gratidão e tomar para mim mesmo, e não para os outros, os
conselhos que me quiseram ditar os bons Espíritos.
Se for tentado a abusar, no que quer que seja, ou me envaidecer
por causa do dom que vós me concedestes, eu vos suplico para retirá-la
de mim, antes de permitir que seja desviada de seu objetivo providencial,
que é o bem de todos e meu próprio adiantamento moral.
Aos anjos guardiães e aos espíritos protetores
11 Instrução Preliminar
Todos nós temos um bom Espírito que está ligado a nós desde nosso
nascimento e que nos tomou sob sua proteção. Desempenha junto de
nós a missão de um pai junto a um filho: a de nos conduzir no caminho do
bem e do progresso no decurso das provas da vida. Fica feliz quando
correspondemos aos seus cuidados e sofre quando nos vê fracassar.
Seu nome pouco importa, pois pode não ter nenhum nome conhecido
na Terra. Nós o invocamos, então, como nosso anjo guardião,
nosso bom amigo espiritual. Podemos até mesmo invocá-lo sob o
nome de um Espírito superior, pelo qual sentimos particularmente uma
simpatia especial.
Além do anjo guardião, que sempre é um Espírito superior, temos
os Espíritos protetores que, embora menos elevados, são igualmente
bons e generosos. Eles são, geralmente, parentes, amigos ou quaisquer
pessoas que não conhecemos em nossa existência atual. Eles nos
ajudam pelos seus conselhos, e muitas vezes intervindo nos atos de
nossa vida.
Os Espíritos simpáticos são os que se ligam a nós por uma certa
semelhança de gostos e tendências. Podem ser bons ou maus, conforme
a natureza das nossas inclinações, que os atraem para nós.
Os Espíritos sedutores se esforçam para nos desviar do caminho
do bem, sugerindo-nos maus pensamentos. Eles se aproveitam de
todas as nossas fraquezas e também de tantas outras portas abertas
que lhes dão acesso à nossa alma. Há os que se agarram a nós como
a uma presa, mas se afastam quando reconhecem sua impotência para
lutar contra a nossa vontade.
Deus nos deu um guia principal e superior, em nosso anjo guardião,
e guias secundários nos Espíritos protetores e familiares. É um
erro acreditar que forçosamente temos um mau Espírito colocado perto
de nós para contrabalançar as boas influências. Os maus Espíritos
vêm voluntariamente, desde que encontrem acesso em nós, pela nossa
fraqueza ou pela nossa negligência em seguir as inspirações dos
bons Espíritos. Portanto, somos nós que os atraímos. Resulta disso
que nunca se está privado da assistência dos bons Espíritos, e depende
de nós o afastamento dos maus. Por suas imperfeições, o
homem é o causador das misérias que suporta; ele é, na maioria das
vezes, seu próprio mau Espírito que ele pensa que o atormenta.
A prece aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores deve ter por
objetivo solicitar sua intervenção junto a Deus, para pedir-lhes força para
resistir às más sugestões e sua assistência nas necessidades da vida.
12 Prece
Espíritos sábios e benevolentes, mensageiros de Deus, cuja missão é
assistir os homens e conduzi-los ao bom caminho, sustentai-me nas provas
desta vida; dai-me a força para suportá-las sem lamentações; desviai de
mim os maus pensamentos e fazei com que eu não me afine com nenhum
dos maus Espíritos que tentarem me induzir ao mal. Iluminai minha
consciência
sobre meus defeitos e tirai de sobre meus olhos o véu do orgulho que
poderia me impedir de os distinguir para os combater em mim mesmo.
Vós, ..., meu anjo guardião, que velais mais particularmente por mim,
e todos vós, Espíritos protetores que vos interessais por mim, fazei com
que eu me torne digno de vossa benevolência. Conheceis minhas necessidades,
que elas sejam satisfeitas segundo a vontade de Deus.
13 Prece (outra)
Meu Deus, permiti aos bons Espíritos que me assistem virem em minha
ajuda quando estiver em sofrimento e amparar se eu vacilar. Fazei, Senhor,
com que me inspirem a fé, a esperança e a caridade; que sejam para mim
um apoio, uma esperança e uma prova de vossa misericórdia; fazei enfim
com que encontre junto a eles a força que me falta nas provas da vida, para
resistir às sugestões do mal, a fé que salva, o amor que consola.
14 Prece (outra)
Espíritos bem-amados, anjos guardiães, vós a quem Deus, em sua
infinita misericórdia, permite velar pelos homens, sede nossos protetores
nas provas de nossa vida terrena. Dai-nos a força, a coragem e a
resignação; inspirai-nos tudo o que é bom, livrai-nos da inclinação para o
mal; que vossa doce influência penetre em nossa alma; fazei com que
sintamos que um amigo devotado está conosco, perto de nós, que vê
nossos sofrimentos e partilha de nossas alegrias.
E vós, meu bom anjo, não me abandoneis. Tenho necessidade de
toda a vossa proteção para suportar com fé e amor as provas que a
vontade de Deus me enviar.
15 Para afastar os maus Espíritos
Infelizes de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque limpais o
exterior do copo e do prato e estais por dentro cheios de rapina* e
impurezas. Fariseus cegos, limpai primeiramente o interior do copo e do
prato, a fim de que o exterior fique limpo também. Infelizes de vós,
escribas
e fariseus hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados de branco,
que no exterior parecem belos aos olhos dos homens, mas que, no interior,
estão cheios de toda a espécie de podridão. Assim, exteriormente pareceis
justos aos olhos dos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia
e iniqüidades*. (Mateus, 23:25 a 28)
16 Instrução Preliminar
Os maus Espíritos apenas vão aos lugares aonde podem satisfazer
sua perversidade. Para os afastar, não basta pedir-lhes, nem mesmo
ordenar-lhes que se afastem: é preciso que o homem elimine de si o
que os atrai. Os maus Espíritos percebem as chagas da alma, como
as moscas farejam as chagas do corpo. Da mesma forma que limpais
o corpo para evitar os vermes, deveis limpar também a alma de suas
impurezas para evitar os maus Espíritos. Como vivemos num mundo
em que há grande quantidade de maus Espíritos, as boas qualidades
do coração nem sempre nos protegem de suas tentativas, mas nos
dão a força para lhes resistir.
17 Prece
Em nome de Deus Todo-Poderoso, que os maus Espíritos se
afastem de mim e que os bons me sirvam de proteção contra eles!
Espíritos malévolos, que inspirais aos homens maus pensamentos;
Espíritos trapaceiros e mentirosos, que os enganais; Espíritos zombeteiros,
que brincais com a credulidade deles, eu vos afasto com todas as
forças de minha alma e fecho os meus ouvidos às vossas sugestões;
mas imploro para vós a misericórdia de Deus.
Bons Espíritos que generosamente me amparais, dai-me a força para
resistir à influência dos maus Espíritos e as luzes necessárias para não ser
enganado por suas artimanhas. Preservai-me do orgulho e da vaidade; afastai
de meu coração o ciúme, o ódio, a malevolência e todo sentimento contrário
à caridade, que são outras tantas portas abertas aos Espíritos maus.
Para corrigir um defeito
18 Instrução Preliminar
Nossos maus instintos decorrem da imperfeição de nosso próprio
Espírito e não do nosso corpo físico; de outro modo, o homem
estaria livre de toda a espécie de responsabilidade. Nosso aperfeiçoamento
depende de nós, pois todo homem que possui o completo
domínio da razão tem, perante todas as coisas, a liberdade de fazer
ou não o que quiser. Assim é que, para fazer o bem, basta-lhe a vontade
do querer.
19 Prece
Vós me destes, meu Deus, a inteligência necessária para distinguir
o bem do mal. Portanto, a partir do momento que reconheço que algo é
mau, sou culpado por não me esforçar por lhe resistir.
Preservai-me do orgulho que poderia me impedir de perceber meus
defeitos, e dos maus Espíritos que poderiam me incentivar a continuar
com esses defeitos.
Entre minhas imperfeições, reconheço que sou particularmente
inclinado à..., e se não resisto a esse arrastamento, é pelo hábito que
contraí de ceder.
Vós não me criastes culpado, pois sois justo, mas com uma disposição
igual para o bem e para o mal; se segui o mau caminho, foi pelo uso do meu
livre-arbítrio•. Mas, assim como tive a liberdade de fazer o mal, tenho a de
fazer o bem e, por conseguinte, tenho a de mudar o meu caminho.
Meus defeitos atuais são restos das imperfeições que conservo de
minhas existências anteriores. São o meu pecado original*, do qual posso
me livrar por minha vontade e com a assistência dos bons Espíritos.
* N. E. - Pecado original: conforme entendimento bíblico, pecado de Adão e
Eva transmitido a
toda a raça humana. Conforme entendimento da Doutrina Espírita: são os
nossos erros,
imperfeições das vidas passadas que temos que superar (nossa expiação) para
nos purificar.
Bons Espíritos que me protegeis, e vós, meu anjo guardião, daime
a força para resistir às más sugestões e de sair vitorioso da luta.
Os defeitos são barreiras que nos separam de Deus e cada defeito
eliminado é um passo no caminho que deve me aproximar d'Ele.
O Senhor, em sua infinita misericórdia, dignou-se em me conceder
a existência atual para que ela servisse para o meu adiantamento.
Bons Espíritos, ajudai-me para que eu a aproveite, a fim de que ela
não se torne perdida para mim e, quando Deus dela me retirar, eu saia
melhor do que entrei.
Para resistir a uma tentação
20 Instrução Preliminar
Todo mau pensamento pode ter duas origens: a nossa própria
imperfeição espiritual ou uma influência negativa que age sobre
nós. Neste último caso, é sempre o indício de uma fraqueza que
nos torna sujeitos a receber essa influência. Há, portanto, indício
de imperfeição em nós. No entanto, aquele que fracassou não
poderá desculpar-se, alegando ser vítima da influência de um
Espírito estranho que o levou ao fracasso, uma vez que esse Espírito
não o teria induzido a praticar o mal se ele fosse inacessível a essa
sedução.
Quando em nós surge um mau pensamento, podemos imaginar
que um Espírito malévolo nos sugere o mal; porém, somos tão livres
de ceder ou de resistir como se tratasse da solicitação de uma
pessoa viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar que nosso anjo
guardião, ou Espírito protetor, por sua vez, combate em nós a má
influência e espera com ansiedade a decisão que vamos tomar.
Nossa hesitação em fazer o mal é a voz do bom Espírito que se faz
ouvir pela nossa consciência.
Reconhece-se que um pensamento é mau quando se afasta
da caridade, que é a base da verdadeira moral; quando tem por
princípio o orgulho, a vaidade ou o egoísmo; quando a sua realização
pode causar um prejuízo qualquer a outra pessoa; quando, enfim,
sugere fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem
conosco.
21 Prece
Deus Todo-Poderoso, não me deixeis ceder à tentação que me leva
a cair em erro. Espíritos benevolentes que me protegeis, desviai de mim
este mau pensamento e dai-me a força para resistir à sugestão do mal.
Se eu não resistir, terei merecido a expiação de minha falta nesta vida e
em outra, pois sou livre para escolher.
Ação de graças pela vitória obtida sobre uma tentação
22 Instrução Preliminar.
Aquele que resistiu a uma tentação deve o fato à assistência dos
bons Espíritos dos quais escutou a voz. Ele deve agradecer a Deus e
a seu anjo guardião.
23 Prece
Meu Deus, eu vos agradeço por me terdes permitido sair vitorioso
da luta que acabo de sustentar contra o mal. Fazei com que esta vitória
me dê a força para resistir a novas tentações.
E a vós, meu anjo guardião, eu vos agradeço pela assistência que
me destes. Que possa minha submissão aos vossos conselhos tornarme
digno de merecer novamente vossa proteção.
Para pedir um conselho
24 Instrução Preliminar
Quando estamos indecisos de fazer ou não qualquer ação, devemos
antes de mais nada nos fazer as seguintes perguntas:
1º-) Aquilo que eu hesito em fazer pode trazer prejuízo a outra
pessoa?
2º-) Pode ser útil a alguém?
3º-) Se agissem assim comigo, eu ficaria satisfeito?
Se o que desejamos fazer só interessa a nós mesmos, é conveniente
colocar na balança as vantagens e desvantagens pessoais que
podem disso resultar.
Se ela interessa a outra pessoa e, se ao fazer o bem a um, possa
fazer o mal a um outro, é preciso pesar igualmente a soma do bem e
do mal para se abster ou agir.
Enfim, mesmo em se tratando das melhores coisas, ainda é preciso
considerar a oportunidade e as circunstâncias do fato, pois uma
coisa boa por ela mesma pode ter maus resultados em mãos inábeis,
se não for conduzida com prudência e seriedade. Antes de empreendê-
la, convém analisar detalhadamente as nossas forças, bem como
os meios de a executar.
Em todos os casos, pode-se sempre solicitar a assistência dos
nossos Espíritos protetores e se lembrar deste sábio ensinamento: Na
dúvida, abstém-te.
25 Prece
Em nome de Deus Todo-Poderoso, bons Espíritos que me protegeis,
inspirai-me a melhor resolução a tomar na incerteza em que me
encontro. Dirigi meus pensamentos para o bem e desviai-me da influência
dos que tentarem me desencaminhar.
Nas aflições da vida
26 Instrução Preliminar
Podemos pedir a Deus benefícios materiais, e Ele pode nos atender,
quando tenham um objetivo útil e sério. Mas, como julgamos a
utilidade das coisas do nosso ponto de vista, e sendo a nossa visão
limitada ao presente, nem sempre vemos o lado mau do que desejamos.
Deus, que vê melhor do que nós e apenas quer o nosso bem,
pode nos recusar o que pedimos, como um pai recusa ao filho o que
poderia prejudicá-lo. Se o que pedimos não nos é concedido, não devemos
desanimar por isso; é preciso pensar, ao contrário, que a privação
do que desejamos nos é imposta como prova ou como expiação, e que
a nossa recompensa será proporcional à resignação com que a tivermos
suportado.
27 Prece
Deus Todo-Poderoso, que vedes nossas misérias, dignai-vos escutar,
favoravelmente, a súplica que vos dirijo neste momento. Se meu pedido
for inconveniente, perdoai-me; se for útil e justo a vossos olhos, que os
bons Espíritos, que executam vossa vontade, venham em minha ajuda
para sua realização.
Como quer que seja, meu Deus, que vossa vontade seja feita. Se
meus desejos não forem atendidos, é que é da vossa vontade provarme,
e eu me submeto sem queixas. Fazei com que eu não desanime
nem desencorage e que nem minha fé e nem minha resignação sejam
abaladas. (Fazer o pedido em seguida.)
Ação de graças por um favor obtido
28 Instrução Preliminar
Não devemos considerar como acontecimentos felizes apenas
as coisas de grande importância. As mais pequenas na aparência são,
muitas vezes, as que mais influem sobre nosso destino. O homem
esquece facilmente o bem e se lembra mais daquilo que o aflige. Se
registrássemos, dia a dia, os benefícios que recebemos sem tê-los
pedido, ficaríamos espantados de ter recebido tanto e em tanta quantidade
que até os esquecemos, e nos sentiríamos envergonhados com
a nossa ingratidão.
A cada noite, ao elevar nossa alma a Deus, devemos nos lembrar
dos favores que Ele nos concedeu durante o dia e agradecer-Lhe por
eles. É, sobretudo, no próprio momento em que provamos o efeito de
sua bondade e de sua proteção que, espontaneamente, devemos testemunhar-
Lhe nossa gratidão. Basta para isto um pensamento que
agradeça o benefício, sem que haja necessidade de interromper o
trabalho que estejamos fazendo.
Os benefícios de Deus não consistem somente em coisas
materiais. É preciso igualmente agradecer as boas idéias, as
inspirações felizes que nos são sugeridas. Enquanto os orgulhosos
acham nelas um mérito próprio e o incrédulo as atribui ao acaso,
aquele que tem fé rende graças a Deus e aos bons Espíritos. São
desnecessárias, para isso, longas frases: “Obrigado, meu Deus, pelo
bom pensamento que me inspiraste”, diz mais do que muitas palavras.
O impulso espontâneo que nos faz atribuir a Deus o que nos acontece
de bom testemunha um hábito de agradecimento e de humildade
que nos sintoniza com a simpatia dos bons Espíritos.
29 Prece
Deus, infinitamente bom, que vosso nome seja abençoado pelos
benefícios que me concedestes. Eu seria indigno se os atribuísse ao acaso
dos acontecimentos ou ao meu próprio mérito.
Bons Espíritos, que fostes os executores da vontade de Deus, e
sobretudo a vós, meu anjo guardião, eu vos agradeço. Desviai de mim a
idéia de orgulhar-me pelo que recebi e de não aproveitar os benefícios
recebidos somente para o bem.
Eu vos agradeço especialmente por... (Citar o favor recebido.)
Ato de submissão e de resignação
30 Instrução Preliminar
Quando um motivo de aflição nos atinge, se procuramos a sua
causa, muitas vezes reconheceremos que é conseqüência de nossa
imprudência, de nossa imprevidência ou de uma ação anterior. Assim,
devemos atribuí-la apenas a nós mesmos. Se a causa de uma
infelicidade é independente de toda a nossa participação, ou ela é
uma prova para esta vida, ou é a expiação de alguma falta de uma
existência passada. Neste último caso, a natureza da expiação pode
nos fazer conhecer a natureza da falta, pois sempre somos punidos
naquilo que pecamos. (Veja nesta obra Cap. 5:4, 6 e seguintes.)
Naquilo que nos aflige, vemos em geral apenas o mal do momento,
e não as conseqüências favoráveis seguintes que isso pode ter. O
bem é, muitas vezes, a conseqüência de um mal passageiro, como a
cura de uma doença é o resultado dos meios dolorosos que se
empregaram para obtê-la. Em todos os casos devemos nos submeter
à vontade de Deus, suportar com coragem as aflições da vida, se
queremos que elas nos sejam levadas em conta e que estas palavras
do Cristo se apliquem a nós: Bem-aventurados os que sofrem.
31 Prece
Meu Deus, sois soberanamente justo; todo sofrimento na Terra deve,
pois, ter sua causa e sua utilidade. Aceito a aflição que me atormenta como
uma expiação por minhas faltas passadas e uma prova para o futuro.
Bons Espíritos que me protegeis, dai-me a força para suportá-la sem
lamentações. Fazei com que seja para mim uma advertência salutar; que
aumente minha experiência, que combata em mim o orgulho, a ambição, a
tola vaidade e o egoísmo; que contribua assim para o meu adiantamento.
32 Prece (outra)
Sinto, meu Deus, a necessidade de vos rogar para que me dês
forças para suportar as provações que vós me enviastes. Permiti que a
luz se faça bastante viva em meu Espírito, para que eu aprecie toda a
extensão de um amor que me aflige por querer me salvar. Eu me submeto
com resignação, meu Deus. Mas a criatura é tão fraca que, se vós não
me amparardes, temo cair. Não me abandoneis, Senhor, pois sem vós
não sou nada.
33 Prece (outra)
Elevei meu olhar para ti, ó Eterno, e me senti fortalecido. Tu és minha
força, não me abandones. Meu Deus, estou esmagado sob o peso de
minhas maldades! Ajuda-me. Conheces a fraqueza de minha carne, não
desvies teu olhar de mim!
Estou devorado por uma sede ardente; faze jorrar a fonte de água
viva que aliviará minha sede. Que minha boca apenas se abra para cantar
teus louvores e não para reclamar das aflições da vida. Sou fraco, Senhor,
mas teu amor me sustentará.
Senhor, Eterno Deus! Somente tu és grande, somente tu és o fim e
a meta de minha vida! Seja bendito teu nome, se me fazes sofrer, pois és
o Senhor e eu o servidor infiel. Curvarei minha fronte sem me lamentar,
porque só tu és grande, só tu és a meta.
Diante de um perigo iminente
34 Instrução Preliminar
Diante dos perigos que corremos, Deus nos adverte da nossa
fraqueza e da fragilidade de nossa existência. Ele nos mostra que
nossa vida está nas suas mãos e que ela se acha presa por um fio que
pode se romper no momento em que nós menos esperamos. Sob
este aspecto, não há privilégio para ninguém, pois o grande e o
pequeno estão submetidos às mesmas condições.
Se examinarmos a natureza e as conseqüências do perigo, veremos
que, freqüentemente, essas conseqüências, caso se
realizassem, teriam sido a punição de uma falta cometida ou de um
dever negligenciado.
35 Prece
Deus Todo-Poderoso, e vós, meu anjo guardião, ajudai-me! Se devo
desencarnar, que a vontade de Deus seja feita. Se for salvo, que o resto
de minha vida repare o mal que fiz e do qual me arrependo.
Ação de graças após ter escapado de um perigo
36 Instrução Preliminar
Quando escapamos de um perigo que corremos, Deus nos mostra
que podemos, de um momento para o outro, ser chamados a prestar
contas do emprego que fizemos da vida. Ele nos adverte, assim, para
examinarmos nossas ações e nos corrigirmos.
37 Prece
Meu Deus, e vós, meu anjo guardião, eu vos agradeço pela ajuda
que me enviastes no perigo que me ameaçou. Que esse perigo seja para
mim uma advertência e me esclareça sobre as faltas que o atraíram para
mim. Eu compreendo, Senhor, que minha vida está em vossas mãos e
que podeis retirá-la, a qualquer momento. Inspirai-me, pelos bons Espíritos
que me ajudam, o pensamento de como empregar utilmente o tempo
que ainda me deres na Terra.
Meu anjo guardião, sustentai-me na resolução que tomo de reparar
meus erros e de fazer todo o bem que estiver ao meu alcance, a fim
de chegar menos imperfeito ao mundo dos Espíritos, quando Deus me
chamar.
Na hora de dormir
38 Instrução Preliminar
O sono é o repouso do corpo; o Espírito, porém, não tem necessidade
de repouso. Enquanto os nossos sentidos físicos estão
adormecidos, a alma se liberta em parte da matéria e assume o domínio
de suas capacidades espirituais. O sono foi dado ao homem para
a reposição das forças orgânicas e das forças morais. Enquanto o
corpo recupera as energias que perdeu pela atividade no dia anterior,
o Espírito vai fortalecer-se entre outros Espíritos. As idéias que encontra
ao despertar, em forma de intuição, ele as obtém do que vê, do
que ouve e dos conselhos que lhe são dados. Equivale ao retorno
temporário do exilado à sua verdadeira pátria, como um prisioneiro
momentaneamente libertado.
Mas, tal como acontece a um prisioneiro perverso, acontece o
mesmo ao Espírito que, nem sempre, aproveita esses momentos de
liberdade para seu adiantamento. Se tem maus instintos, ao invés de
procurar a companhia dos bons Espíritos, procura a dos maus, seus
semelhantes, e vai visitar os lugares onde pode dar livre curso à suas
más tendências.
Que aquele que esteja consciente desta verdade eleve o seu
pensamento a Deus no momento em que sentir a aproximação do
sono. Que peça conselhos aos bons Espíritos e àqueles cuja memória
lhe seja cara, a fim de que possa juntar-se a eles no curto intervalo
que lhe é concedido e, ao despertar, ele se sentirá mais forte contra o
mal, com mais coragem contra as infelicidades.
39 Prece
Minha alma vai se encontrar por instantes com outros Espíritos. Que
aqueles que são bons venham me ajudar com seus conselhos. Meu anjo
guardião, fazei com que ao despertar eu conserve uma durável e salutar
impressão desse convívio.
Na previsão da morte próxima
40 Instrução Preliminar
A fé no futuro, a orientação do pensamento durante a vida em
direção à sua destinação futura ajudam o desligamento do Espírito
por enfraquecerem os laços que o prendem ao corpo, tanto que, muitas
vezes, a vida corporal ainda não se extinguiu completamente e a
alma, impaciente, já empreendeu seu vôo em direção à imensidade.
Para o homem que, ao contrário, concentra todos os seus pensamentos
nas coisas materiais, esses laços estão mais presos, a separação
é dolorosa e demorada e o despertar no além-túmulo é cheio de problemas
e de ansiedade.
41 Prece
Meu Deus, eu acredito em vós e na vossa bondade infinita. É por
isso que não posso acreditar que destes ao homem a inteligência para
vos conhecer e a aspiração pelo futuro para, depois, lançá-lo no nada.
Acredito que meu corpo é apenas o envoltório perecível de minha
alma e que, quando tiver cessado de viver, acordarei no mundo dos
Espíritos.
Deus Todo-Poderoso, sinto os laços que unem minha alma a meu
corpo romperem-se e que logo vou ter que prestar contas do uso que fiz
da vida enquanto encarnado.
Vou sofrer as conseqüências do bem e do mal que fiz. Lá não haverá
mais ilusão, nem mais desculpas possíveis, todo o meu passado vai se
desenrolar diante de mim e serei julgado segundo minhas obras.
Nada levarei dos bens da Terra. Honrarias, riquezas, satisfações
da vaidade e do orgulho, enfim, tudo o que se prende ao
corpo vai ficar na Terra. Nem a menor parcela me seguirá e nada
disso me será útil no mundo dos Espíritos. Levarei comigo apenas
o que pertence à alma, ou seja, as boas e as más qualidades que
serão pesadas na balança da mais rigorosa justiça. Serei julgado
com tanto maior severidade quanto mais minha posição na Terra
me tenha dado o maior número de ocasiões para fazer o bem que
não fiz.
Deus de Misericórdia, que o meu arrependimento chegue até
vós! Dignai-vos a estender sobre mim o manto da vossa indulgência.
Se é de vossa vontade prolongar minha existência, que seja
empregada para reparar, tanto quanto estiver ao meu alcance, o
mal que pratiquei. Se minha hora é chegada, levo o consolador
pensamento de que me será permitido resgatar as minhas faltas
em novas provas, a fim de merecer um dia a felicidade dos eleitos.
Se não me é dado imediatamente o gozo dessa felicidade pura,
que pertence somente ao justo por excelência, sei que a esperança
não me está perdida e que com o trabalho atingirei o objetivo,
mais cedo ou mais tarde, conforme meus esforços.
Sei que os bons Espíritos e meu anjo guardião estarão lá, perto
de mim, para me receber; em breve eu os verei, como eles me
vêem. Sei que encontrarei aqueles que amei na Terra, se o tiver
merecido, e aqueles que deixo virão, um dia, me reencontrar para
estarmos reunidos para sempre e, enquanto isso, poderei vir visitá-los.
Também sei que vou encontrar aqueles a quem ofendi. Possam
eles perdoar-me pelo que têm a me censurar: meu orgulho,
minha dureza, minhas injustiças, e que eu não me envergonhe na
presença deles!
Perdôo àqueles que me fizeram ou quiseram me fazer mal na
Terra; não levo nenhum ódio contra eles e rogo a Deus que os
perdoe.
Senhor, dai-me a força para deixar sem lamentações as alegrias
grosseiras deste mundo, que não são nada perto das alegrias
puras do mundo onde vou entrar! Lá, para o justo, não há mais
tormentos, sofrimentos, misérias; apenas o culpado sofre, mas resta-
lhe sempre a esperança.
Bons Espíritos, e vós, meu anjo guardião, não me deixeis fracassar
neste momento supremo. Fazei brilhar aos meus olhos a
divina luz, a fim de reanimar minha fé se ela vier a abalar-se.
Por alguém que esteja em aflição
42 Instrução Preliminar
Se é conveniente que a prova do aflito siga seu curso, ela não será
abreviada pelo nosso pedido. Porém, seria ato de impiedade se o
desencorajássemos
porque o pedido não é atendido, já que, na falta de cessação
da prova, pode-se esperar obter qualquer outra consolação que modere
a amargura. O que é verdadeiramente útil para aquele que sofre é a coragem
e a resignação, sem as quais o que suporta não tem proveito para
si, pois será obrigado a recomeçar a prova. É, pois, em direção a esse
objetivo que é preciso dirigir nossos esforços, seja pedindo aos bons
Espíritos em favor dele, seja levantando-lhe o moral pelos seus conselhos
e encorajamentos, seja também auxiliando-o materialmente, se for
possível. A prece, neste caso, também tem um efeito direto, dirigindo
sobre a pessoa, por quem é feita, uma corrente fluídica com o objetivo de
lhe fortalecer o ânimo.
43 Prece
Meu Deus, cuja bondade é infinita, dignai-vos em suavizar a amargura
da situação de ..., se assim for a vossa vontade.
Bons Espíritos, em nome de Deus Todo-Poderoso, eu vos suplico
para ampará-lo(a) nas suas aflições. Se, no seu interesse, elas não puderem
lhe ser poupadas, fazei-o(a) compreender que elas são necessárias
para o seu adiantamento. Dai-lhe a confiança em Deus e no futuro e elas
se tornarão menos amargas. Dai-lhe também a força de não se entregar
ao desespero, que lhe faria perder os frutos do seu sofrimento e tornaria
sua posição futura ainda mais difícil. Conduzi meu pensamento até ele(a),
e que eu o(a) ajude a manter sua coragem.
Ação de graças por um benefício concedido aos outros
44 Instrução Preliminar
Aquele que não é dominado pelo egoísmo alegra-se com o bem
do seu próximo, mesmo quando não o tenha solicitado pela prece.
45 Prece
Meu Deus, sede bendito pela felicidade que chegou a ...
Bons Espíritos, fazei que nisso ele(a) sinta uma felicidade, um efeito
da bondade de Deus. Se o bem que lhe chega é uma prova, inspirai-lhe
o pensamento de fazer um bom uso e de não tirar vantagem disso, a fim
de que esse bem não resulte em seu prejuízo para o futuro.
Vós, meu bom Espírito que me protegeis e desejais minha felicidade,
afastai de mim todo o sentimento de inveja e de ciúme.
Por nossos inimigos e por aqueles que nos querem mal
46 Instrução Preliminar
Jesus disse: Amai aos vossos inimigos. Neste ensinamento, estão
contidas a maior grandeza e a perfeição da caridade cristã. Mas
Jesus não diz que tenhamos pelos nossos inimigos a mesma ternura
que temos pelos nossos amigos. Ele nos diz, neste ensinamento, para
esquecer as ofensas e lhes perdoar o mal que nos façam e lhes retribuir,
com o bem, o mal que nos hajam feito. Além do mérito que isso
resulta aos olhos de Deus, mostra aos olhos dos homens o que é a
verdadeira superioridade.
47 Prece
Meu Deus, eu perdôo a ... o mal que me fez e o que quis me fazer,
como desejo que me perdoeis e que ele(a) também me perdoe pelos
erros que eu possa ter cometido. Se o(a) colocastes no meu caminho
como uma prova, que vossa vontade seja feita.
Senhor, meu Deus, desviai de mim a idéia de o maldizer e de todo o
desejo malévolo contra ele(a). Fazei com que eu não sinta nenhuma alegria
com as infelicidades que o(a) possam atingir, nem inveja pelos
benefícios que ele(a) receber, a fim de não manchar minha alma com
pensamentos indignos de um cristão.
Senhor, que vossa vontade possa, ao estender-se sobre ele(a), conduzi-
lo(a) a melhores sentimentos para comigo!
Bons Espíritos, inspirai-me o esquecimento do mal e a lembrança
do bem. Que nem o ódio, nem o rancor, nem o desejo de pagar-lhe o mal
com o mal penetrem no meu coração, pois o ódio e a vingança são
próprios só dos maus Espíritos, encarnados e desencarnados! Que, ao
contrário, eu esteja pronto para lhe estender a mão fraterna, ao lhe pagar
o mal com o bem, e auxiliá-lo(a), se isso estiver ao meu alcance!
Desejo, para provar a sinceridade de minhas palavras, que a ocasião
de lhe ser útil me seja dada; mas, meu Deus, preservai-me de fazê-lo
por orgulho ou vaidade, impondo-lhe uma generosidade humilhante, o
que me faria perder o fruto de minha ação, porque, nesse caso, eu mereceria
que essas palavras do Cristo me fossem aplicadas: Já recebestes
a vossa recompensa.
Ação de graças pelo bem concedido aos nossos inimigos
48 Instrução Preliminar
Não desejar o mal aos seus inimigos é ser caridoso apenas pela
metade. A verdadeira caridade consiste em lhes desejar o bem e que
nos sintamos felizes com o bem que lhes acontece. (Veja nesta obra
Cap. 12:7 e 8.)
49 Prece
Meu Deus, em vossa justiça, decidistes alegrar o coração de ... Eu
vos agradeço por ele(a), apesar do mal que ele(a) me fez ou que procurou
fazer. Se ele(a) se aproveitar disso para me humilhar, eu o aceitarei
como uma prova para a minha caridade.
Bons Espíritos que me protegeis, não deixeis que eu sinta por isso
nenhum desgosto. Desviai de mim a inveja e o ciúme que rebaixam. Inspirai-
me, ao contrário, a generosidade que eleva. A humilhação está no
mal e não no bem, e sabemos que, cedo ou tarde, a justiça será feita a
cada um, segundo suas obras.
50 Pelos inimigos do Espiritismo
Bem-aventurados os que estão famintos de justiça, pois serão
saciados.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça,
pois é deles o reino dos Céus.
Sereis felizes quando os homens vos amaldiçoarem, vos perseguirem,
e disserem falsamente todo o mal contra vós, por minha causa.
Alegrai-vos, então, pois uma grande recompensa vos está reservada nos
Céus, pois é assim que perseguiram os profetas enviados antes de vós.
(Mateus, 5:6, 10 a 12)
Não temais por aqueles que matam o corpo, mas não podem matar
a alma; mas, antes, temei aquele que pode perder a alma e o corpo no
inferno. (Mateus, 10:28)
51 Instrução Preliminar
De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que compreende
também a liberdade da consciência. Amaldiçoar aqueles que
não pensam como nós é reclamar essa liberdade só para si, e recusála
aos outros é violar o primeiro mandamento de Jesus: o da caridade
e do amor ao próximo. Persegui-los, por causa de sua crença, é atentar
contra o direito mais sagrado que todo homem tem de acreditar no
que lhe convém, e de adorar a Deus como ele o entenda. Obrigá-los a
atos exteriores semelhantes aos nossos é mostrar que nos apegamos
mais à exterioridade do que à essência, às aparências mais do que à
convicção. Impor uma crença a alguém nunca deu a fé. Ela pode apenas
fazer fingidos, falsos crentes. É um abuso da força material que
não prova a verdade. A verdade é segura de si mesma: convence e não
persegue, porque não tem necessidade disso.
O Espiritismo é hoje uma religião, mas, se ele fosse somente uma
opinião ou uma crença, por que não se teria a liberdade de dizer-se
espírita como se tem a de se dizer católico, judeu ou protestante? De
ser partidário desta ou daquela doutrina filosófica, deste ou daquele
sistema econômico? Uma crença pode ser falsa ou verdadeira. Se o
Espiritismo for uma crença falsa, cairá por si mesmo, pois o erro não
pode prevalecer contra a verdade quando a luz se faz nas inteligências,
e, se é verdadeiro, nenhuma perseguição o tornará falso.
A perseguição é o batismo de toda idéia nova, grande e justa; ela
cresce com a grandeza e a importância da idéia. A perseguição e a
cólera dos inimigos da idéia são proporcionais ao temor que ela lhes
inspira. Foi por esta razão que o Cristianismo foi perseguido outrora e
que o Espiritismo o é hoje, entretanto, com uma diferença: o Cristianismo
foi perseguido pelos pagãos, enquanto o Espiritismo o é pelos
cristãos. O tempo das perseguições sangrentas passou, é verdade,
mas se não se mata mais o corpo, tortura-se a alma; ataca-se até
mesmo os sentimentos mais íntimos nas afeições mais queridas. Lança-
se a desunião nas famílias, joga-se a mãe contra a filha, a mulher
contra o marido; ataca-se até mesmo o corpo em suas necessidades
materiais, ao tirar às criaturas o seu ganha-pão para dominá-las pela
fome.
Espíritas, não vos aflijais com os golpes com que vos tentarão
atingir; eles só provam que estais com a verdade. Caso contrário, vos
deixariam tranqüilos e não vos perseguiriam. É uma prova para vossa
fé, visto que é pela vossa coragem, pela vossa resignação e pela vossa
perseverança que Deus vos reconhecerá entre os seus fiéis
servidores, dos quais faz hoje a contagem para dar a cada um a parte
que lhe cabe, segundo suas obras.
A exemplo dos primeiros cristãos, orgulhai-vos ao carregar a vossa
cruz. Acreditai na palavra do Cristo, que disse: Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por amor à justiça, pois é deles o reino dos
Céus. Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a
alma. Ele também disse: Amai aos vossos inimigos, fazei o bem àqueles
que vos fazem mal e orai por aqueles que vos perseguem. Mostrai que
sois seus verdadeiros discípulos e que vossa doutrina é boa, ao fazer
o que Ele disse e o que exemplificou.
A perseguição será temporária. Esperai, pacientemente, o romper
da aurora, pois a estrela da manhã já se mostra no horizonte.
52 Prece
Senhor, vós nos dissestes nas palavras de Jesus, vosso Messias:
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça; perdoai
aos vossos inimigos; orai por aqueles que vos perseguem. E Ele mesmo
nos mostrou o caminho ao orar por seus martirizadores.
Seguindo o exemplo de Jesus, Meu Deus, suplicamos vossa misericórdia
para aqueles que desconhecem vossas divinas leis, as únicas que
podem assegurar a paz neste mundo e no outro. Como o Cristo, nós também
dizemos: Perdoai-lhes, Pai, pois eles não sabem o que fazem.
Dai-nos a força para suportar com paciência e resignação suas
zombarias, injúrias, calúnias e perseguições como provas de nossa fé e
de nossa humildade; desviai-nos de todo o pensamento de vingança,
pois a hora de vossa justiça chegará para todos, e nós a esperaremos ao
nos submeter à vossa santa vontade.
Prece por uma criança que acaba de nascer
53 Instrução Preliminar
Os Espíritos apenas chegam à perfeição após terem passado
pelas provas da vida corporal. Aqueles que estão na erraticidade
esperam que Deus lhes permita retomar uma existência que deve lhes
proporcionar um meio de adiantamento, seja pela expiação de suas
faltas passadas, por meio das eventualidades da vida às quais ficarão
submetidos, seja ao executar uma missão útil à Humanidade. Seu
adiantamento e sua felicidade futura serão proporcionais à maneira
pela qual empreguem o tempo que devem passar na Terra. O encargo
de guiar-lhe seus primeiros passos e de dirigi-los em direção ao bem
é confiado a seus pais, que responderão diante de Deus pela maneira
como terão cumprido seu mandato. Foi para facilitar a execução disso
que Deus fez do amor paternal e do amor filial uma lei da Natureza,
que nunca será violada impunemente.
54 Prece (para os pais)
Espírito que estais encarnado no corpo de nosso filho, sede bemvindo
entre nós. Deus Todo-Poderoso que o enviastes, sede bendito.
É um depósito que nos é confiado e do qual deveremos prestar
contas um dia. Se ele pertence à nova geração de bons Espíritos que
devem povoar a Terra, obrigado, Senhor meu Deus, por esta graça! Se é
uma alma imperfeita, nosso dever é ajudá-la a progredir no caminho do
bem pelos nossos conselhos e pelos nossos bons exemplos. Se cair no
mal, por nosso erro, responderemos diante de vós, visto que não teremos
cumprido nossa missão junto dele.
Senhor, sustentai-nos na nossa tarefa e dai-nos a força e a vontade
de cumpri-la. Se esta criança deve ser um motivo de provas para nós,
que vossa vontade seja feita!
Bons Espíritos que a orientastes para o nascimento, e que deveis
acompanhá-la durante a vida, não a abandoneis. Afastai dela os maus
Espíritos que tentarão levá-la a praticar o mal. Dai-lhe a força para
resistir
às suas sugestões e a coragem para suportar com paciência e resignação
as provas que a esperam na Terra.
55 Prece (outra)
Meu Deus, vós me confiastes a sorte de um de vossos Espíritos;
fazei, Senhor, com que seja digno da tarefa que me impusestes. Concedeime
vossa proteção. Iluminai minha inteligência, a fim de que eu possa
perceber, desde cedo, as tendências daquele que devo preparar para
alcançar a vossa paz.
56 Prece (outra)
Bondoso Deus, permitiste que o Espírito desta criança voltasse
novamente às provas terrenas destinadas a fazê-lo progredir; dá-lhe a
luz, a fim de que aprenda a te conhecer, a amar e a adorar. Faze, pelo teu
poder, que esta alma se regenere na fonte de tuas divinas instruções;
que, sob a proteção de seu anjo guardião, sua inteligência cresça, se
desenvolva, e a faça desejar aproximar-se cada vez mais de ti. Que a
ciência do Espiritismo seja a luz brilhante que a iluminará nas dificuldades
da vida; que ela, enfim, saiba apreciar toda a extensão de teu amor, que
nos submete a provas para nos purificar.
Senhor, lança um olhar paternal sobre a família à qual confiaste esta
alma, para que ela possa compreender a importância de sua missão, e
faze germinar nesta criança as boas sementes, até o dia em que ela
possa, por suas próprias aspirações, se elevar sozinha até ti.
Digna-te, meu Deus, atender esta humilde prece em nome e pelos
méritos d’Aquele que disse: Deixai vir a mim as criancinhas, pois o reino
dos Céus é para aqueles que a elas se assemelham.
Por um agonizante
57 Instrução Preliminar
A agonia é o início da separação da alma do corpo. Pode-se dizer
que, nesse momento, o homem tem um pé neste mundo e um no outro.
Essa passagem é às vezes difícil para aqueles que se prendem à matéria
e viveram mais apegados aos bens deste mundo do que aos do Espírito,
ou cuja consciência está agitada pelos desgostos e remorsos. Ao
contrário, para aqueles cujos pensamentos elevaram-se em direção ao
Infinito e se desligaram da matéria, os laços são menos difíceis de romper
e, neste caso, os últimos momentos na vida terrena nada têm de
dolorosos. A alma está ligada ao corpo apenas por um fio, enquanto, no
outro caso, prende-se a ela por grossas amarras. Em todos os casos, a
prece exerce uma poderosa ação benéfica no momento do desencarne.
58 Prece
Deus poderoso e misericordioso, eis aqui uma alma que está
prestes a deixar o seu corpo para retornar ao mundo dos Espíritos, sua
verdadeira pátria. Que o possa fazer em paz. Que vossa misericórdia se
estenda sobre ela.
Bons Espíritos que a acompanhastes na Terra, não a abandoneis
neste momento supremo. Dai-lhe a força para suportar os últimos sofrimentos
que ela deva passar na Terra para seu adiantamento futuro.
Inspirai-a, para que ela se arrependa de suas faltas nos últimos clarões de
inteligência que lhe restam, ou que possa vir a ter momentaneamente.
Dirigi meu pensamento, de modo a tornar-lhe menos difícil o trabalho
da separação, para que, ao deixar a Terra, ela leve consigo as
consolações da esperança.
Por alguém que acaba de desencarnar
59 Instrução Preliminar
As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a Terra não têm
somente como objetivo dar-lhes um testemunho de simpatia; objetivam
também ajudar no seu desligamento e, com isso, atenuar a
perturbação que sempre se segue à separação e tornando-lhes mais
calmo o despertar. Neste caso, porém, como em outras circunstâncias,
a eficiência da prece está na sinceridade do pensamento, e não na
quantidade de palavras ditas com maior ou menor vigor e, das quais,
muitas vezes, o coração não toma nenhuma parte.
As preces que vêm do coração se fazem ouvir em torno do Espírito,
cujas idéias ainda estão confusas, como vozes amigas que nos
vêm despertar do sono.
60 Prece
Deus Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se estenda sobre a
alma de ..., que acabais de chamar para vós. Possam as provas que
enfrentou na Terra lhe serem consideradas, e nossas preces suavizar e
encurtar as penas que ele(a) ainda tenha que suportar na Espiritualidade!
Bons Espíritos que o(a) viestes receber e, principalmente, vós que sois
seu anjo guardião, ajudai-o(a) a livrar-se da matéria; dai-lhe a luz e a
consciência de si mesmo(a), a fim de tirá-lo(a) da perturbação que acontece quando
da passagem da vida corporal à vida espiritual. Inspirai-lhe o arrependimento
das faltas que tenha cometido e o desejo que lhe seja permitido repará-las,
para apressar seu adiantamento em direção à eterna bem-aventurança.
..., acabas de reentrar no mundo dos Espíritos e, apesar disso, estás
aqui presente entre nós; tu nos vês e nos ouves, pois apenas deixaste
o corpo material, que logo será reduzido a pó.
Deixaste a capa grosseira da carne, sujeita às adversidades e à
morte, e apenas conservaste o corpo etéreo, imperecível e inacessível
aos sofrimentos da Terra. Já não vives mais pelo corpo, vives a vida do
Espírito, e essa vida está isenta das misérias que afligem a Humanidade.
Não tens mais o véu que oculta aos nossos olhos os esplendores
da vida futura. Podes, agora, apreciar as novas maravilhas, ao passo que
nós ainda estamos mergulhados nas trevas.
Vais percorrer o espaço e visitar os mundos com inteira liberdade,
enquanto nós rastejaremos penosamente na Terra, onde nosso corpo
material nos retém, semelhante para nós a um fardo pesado.
O horizonte do Infinito vai se desenrolar diante de ti e, na presença
de tanta grandeza, compreenderás o vazio, o nada de nossos desejos
terrenos, de nossas ambições materiais e das alegrias fúteis às quais os
homens se entregam.
A morte é, para os homens, não mais do que uma separação material
de alguns instantes. Do exílio, onde ainda nos retêm a vontade de Deus
e os deveres que temos a cumprir na Terra, nós te seguiremos pelo
pensamento, até o momento em que nos seja permitido nos reunirmos,
como tu estás reunido com aqueles que te precederam.
Se não podemos ir até onde estás, tu podes vir até nós. Vem, até
os que te amam e que tu amas; ampara-os nas provas da vida; vela
pelos que te são queridos. Protege-os segundo o teu poder; suavizalhes
os desgostos pelo pensamento de que estás mais feliz agora, e
dando-lhes a consoladora certeza de que estarão um dia reunidos a ti
num mundo melhor.
No mundo em que estás, todos os ressentimentos terrenos devem
se extinguir. Que possas, de agora em diante, para a tua felicidade futura,
estar inacessível a isso! Perdoa, pois, àqueles que não foram justos para
contigo, como te perdoam aqueles junto aos quais procedeste mal.
Tratando-se de uma criança, o Espiritismo nos ensina que não é
um Espírito de criação recente, mas um que já viveu e que pode já ser
bem adiantado. Se sua última existência foi curta, é que ela era apenas
um complemento da prova, ou devia ser uma prova para os pais.
(2) Esta prece foi ditada a um médium de Bordeaux, no momento em que
passava, diante de suas janelas, o enterro de um desconhecido.
Nota. Podem-se acrescentar a esta prece, que se aplica a todos,
algumas palavras especiais segundo as circunstâncias particulares
de família ou das relações, bem como a posição do falecido.
61 Prece(2) (outra)
Senhor Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se estenda sobre
nosso irmão que acaba de deixar a Terra! Que vossa luz brilhe a seus
olhos! Tirai-o das trevas; abri seus olhos e seus ouvidos! Que vossos bons
Espíritos o envolvam e lhe façam ouvir as palavras de paz e de esperança!
Senhor, por mais indignos que sejamos, ousamos implorar vossa
misericordiosa indulgência em favor deste nosso irmão que acaba de ser
chamado do exílio; fazei com que seu retorno seja o do filho pródigo•.
Perdoai, meu Deus, as faltas que possa ter cometido, para vos lembrardes
somente do bem que haja feito. Vossa justiça é imutável, nós o sabemos,
mas vosso amor é imenso. Nós vos suplicamos para apaziguar a vossa
justiça por essa fonte de bondade que emana de vós.
Que a luz se faça para vós, meu irmão, que acabais de deixar a
Terra! Que os bons Espíritos do Senhor desçam até vós, vos rodeiem e
vos ajudem a sacudir as vossas correntes terrenas! Compreendei e vede
a grandeza do Nosso Senhor: submetei-vos, sem murmurar, à sua justiça,
mas não desacrediteis nunca da sua misericórdia. Irmão! Que um sério
exame do vosso passado vos abra as portas do futuro, ao vos fazer
compreender as faltas que deixastes atrás de vós e o trabalho que vos
resta fazer para repará-las! Que Deus vos perdoe e que seus bons Espíritos
vos sustentem e vos encorajem! Vossos irmãos da Terra orarão por vós e
vos pedem para orar por eles.
Pelas pessoas a quem tivemos afeição
62 Instrução Preliminar
Como é horrível a idéia do nada! Como devemos lastimar aqueles
que acreditam que a voz do amigo que chora a falta de seu amigo
perde-se no vazio e não encontra nenhum eco para lhe responder!
Estes que pensam que tudo morre com o corpo desconhecem as
afeições autênticas, sinceras e sagradas; os que pensam que o gênio
que iluminou o mundo com sua vasta inteligência é uma combinação
de células de matéria, que se extingue para sempre como um sopro;
que do ser mais querido, um pai, uma mãe ou um filho adorado
apenas restará um pouco de pó que o tempo dissipará para sempre!
Como um homem de coração pode continuar frio a esse
pensamento? Como a idéia de um aniquilamento absoluto não o gela
de pavor e não lhe faz, ao menos, desejar que não seja assim? Se
até então sua razão não lhe bastou para tirar suas dúvidas, eis que o
Espiritismo vem eliminar toda a incerteza sobre o futuro, por meio
das provas materiais que dá da sobrevivência da alma e da existência
dos seres de além-túmulo. Tanto assim é que, em todos os lugares,
essas provas são recebidas com alegria; a confiança renasce, pois
o homem sabe que, de agora em diante, a vida terrena é apenas
uma curta passagem que conduz a uma vida melhor; que seus
trabalhos da Terra não estão perdidos para ele, e que as mais santas
afeições não são desfeitas sem mais esperanças.
63 Prece
Dignai-vos, Senhor, meu Deus, a acolher favoravelmente a prece
que vos dirijo pelo Espírito de ...; fazei-lhe sentir vossas divinas luzes e
tornai-lhe fácil o caminho da felicidade eterna. Permiti que os bons
Espíritos
levem até ele(a) minhas palavras e meu pensamento.
Tu, que me foste tão querido(a) neste mundo, escuta minha voz que
te chama para te dar uma prova da minha afeição. Deus permitiu que tu
fosses libertado primeiro; eu não devo me lamentar, seria egoísmo; seria
ver-te, ainda, sujeito às penalidades e aos sofrimentos da vida. Espero,
com resignação, o momento de nos juntarmos no mundo mais feliz onde
tu chegaste antes.
Sei que nossa separação é apenas temporária, e, por mais longa
que ela possa me parecer, sua duração se apaga diante da felicidade
eterna que Deus promete aos eleitos. Que sua bondade me preserve de
fazer algo que possa retardar esse instante desejado, e que assim me
poupe a dor de não te encontrar ao sair de meu cativeiro terreno.
Como é doce e consoladora a certeza de que há entre nós apenas
um véu material que te oculta à minha vista! Que podes estar aqui, ao
meu lado, a me ver e a me ouvir como antigamente, e melhor ainda que
antigamente, que não me esqueças mais e que eu mesmo não te esqueça;
que nossos pensamentos não parem de se confraternizar, e que o teu
me siga e me sustente sempre.
Que a paz do Senhor esteja contigo!
Pelas almas sofredoras que pedem preces
64 Instrução Preliminar
Para compreender o alívio que a prece pode proporcionar aos
Espíritos sofredores, é preciso saber como ela atua, como já foi dito
anteriormente. (Veja nesta obra Cap. 27:9, 18 e seguintes.) Aquele
que compreende esta verdade ora com mais fervor pela certeza de
não orar em vão.
65 Prece
Deus clemente e misericordioso, que vossa bondade se estenda
sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces e
especialmente sobre a alma de ...
Bons Espíritos, que tendes no bem sua única ocupação, rogai comigo
para alívio deles. Fazei luzir aos seus olhos um raio de esperança, e que
a divina luz os ilumine quanto às imperfeições que os afastam da morada
dos felizes. Abri seus corações ao arrependimento e ao desejo de se
purificarem para apressar seu adiantamento. Fazei-os compreender que,
por seus esforços, podem encurtar o tempo de suas provas.
Que Deus, em sua bondade, lhes dê a força de perseverar em suas
boas resoluções!
Que estas palavras benevolentes possam suavizar suas penas, ao
lhes mostrar que há na Terra seres que deles se compadecem e que
desejam sua felicidade.
66 Prece (outra)
Nós vos rogamos, Senhor, para espalhar sobre todos os que sofrem,
seja no espaço, como Espíritos errantes, seja entre nós, como
Espíritos encarnados, as graças de vosso amor e de vossa misericórdia.
Tende piedade de nossas fraquezas. Vós nos fizestes falíveis, mas nos
destes a força para resistir ao mal e vencê-lo. Que vossa misericórdia se
estenda sobre todos os que não puderam resistir às suas más inclinações
e que ainda são arrastados pelo caminho do mal. Que vossos bons
Espíritos os envolvam; que vossa luz brilhe aos seus olhos, e que, atraídos
por vosso calor que reanima, venham se curvar a vossos pés, humildes,
arrependidos e submissos.
Nós vos pedimos igualmente, Pai de Misericórdia, por aqueles nossos
irmãos que não tiveram forças para suportar suas provas terrenas.
Vós nos destes um fardo a carregar, Senhor, e o devemos depositar apenas
a vossos pés; mas nossa fraqueza é grande e, algumas vezes, a
coragem nos falta no caminho. Tende piedade desses servidores indolentes
que abandonaram a obra antes do tempo; que vossa justiça os
ampare e permita aos vossos bons Espíritos lhes trazer o alívio, as
consolações e a esperança do futuro. O caminho do perdão é fortificante
para a alma; mostrai-o, Senhor, aos culpados que desesperam e, sustentados
por essa esperança, reunirão forças na própria grandeza de
suas faltas e de seus sofrimentos para resgatar seu passado e se preparar
para conquistar o futuro.
Por um inimigo morto
67 Instrução Preliminar
A caridade para com nossos inimigos deve segui-los ao alémtúmulo.
É preciso pensar que o mal que nos fizeram foi para nós uma
prova que pode ser útil ao nosso adiantamento, se soubermos tirar
proveito disso. Ela pode ainda nos ser mais proveitosa do que as aflições
puramente materiais, pelo fato de nos ter permitido juntar, à
coragem e à resignação, a caridade e o esquecimento das ofensas.
68 Prece
Senhor, vós que chamastes antes de mim a alma de ... Eu lhe perdôo
o mal que me fez e as más intenções que teve para comigo. Possa
ele(a) disso se arrepender, agora que não tem mais ilusões deste mundo.
Que vossa misericórdia, meu Deus, se estenda sobre ele(a), e afastai
de mim o pensamento de me alegrar com sua morte. Se tive faltas para
com ele(a), que me perdoe, como eu perdôo as que cometeu para comigo.
Por um criminoso
69 Instrução Preliminar
Se a eficiência das preces fosse proporcional à extensão delas, as
mais longas deveriam ser reservadas para os mais culpados, pois têm
mais necessidade do que aqueles que viveram virtuosamente. Recusálas
aos criminosos é deixar de ter caridade e desconhecer a misericórdia
de Deus; acreditá-las inúteis, porque um homem teria cometido este ou
aquele erro, é prejulgar a justiça do Altíssimo.
70 Prece
Senhor, Deus de Misericórdia, não abandoneis este criminoso que
acaba de deixar a Terra; a justiça dos homens pôde atingi-lo, mas não o
isentou da vossa, se seu coração não foi tocado pelo remorso.
Tirai a venda que lhe oculta a gravidade de suas faltas; possa seu
arrependimento encontrar graças diante de Vós e aliviar os sofrimentos
de sua alma! Possam também nossas preces e a intervenção dos bons
Espíritos lhe trazer a esperança e a consolação; lhe inspirar o desejo de
reparar suas más ações em uma nova existência e lhe dar a força de não
fracassar nas novas lutas que empreenderá!
Senhor, tende piedade dele!
Por um suicida
71 Instrução Preliminar
O homem jamais tem o direito de dispor de sua própria vida, porque
cabe somente a Deus tirá-lo do cativeiro terreno quando o julga oportuno.
Todavia, a justiça divina pode suavizar seus rigores em virtude das
circunstâncias, mas reserva toda a sua severidade para aquele que
quis se subtrair às provas da vida. O suicida é como o prisioneiro que
foge da prisão antes de cumprir a sua condenação, e que, quando é
recapturado, é tratado severamente. Assim acontece com o suicida,
que acredita escapar das misérias presentes, e mergulha em
infelicidades maiores.
72 Prece
Sabemos, Senhor, meu Deus, o destino reservado àqueles que
violam vossas leis ao encurtar voluntariamente seus dias; mas sabemos
também que vossa misericórdia é infinita: dignai-vos estendê-la sobre a
alma de ... Possam nossas preces e vossa piedade suavizar a amargura
dos sofrimentos que suporta por não ter tido a coragem de esperar o fim
de suas provas!
Bons Espíritos, cuja missão é ajudar aos infelizes, tomai-o sob vossa
proteção, inspirai-lhe o arrependimento por sua falta, e que vossa
assistência lhe dê a força para suportar com mais resignação as novas
provas que terá de passar para repará-la. Afastai dele os maus Espíritos
que poderiam levá-lo novamente para o mal e prolongar seus sofrimentos,
fazendo-o perder o fruto de suas futuras provas.
Vós, cuja infelicidade é o motivo das nossas preces, que possa nossa
compaixão suavizar a amargura e fazer nascer em vós a esperança de um
futuro melhor! Esse futuro está em vossas mãos; confiai-vos à bondade de
Deus, cujos braços sempre estão abertos a todos os arrependimentos, e
só permanecem fechados aos corações endurecidos.
Pelos Espíritos arrependidos
73 Instrução Preliminar
Seria injusto colocar na categoria dos maus Espíritos os
sofredores e arrependidos que pedem preces. Podem ter sido maus,
mas não o são mais a partir do momento que reconhecem suas faltas
e as lamentam: são apenas infelizes, alguns até mesmo começam a
gozar de uma felicidade relativa.
74 Prece
Deus de Misericórdia, que aceitais o arrependimento sincero do
pecador, encarnado ou desencarnado, eis um Espírito que tinha prazer
em praticar o mal, mas que reconhece seus erros e entra no bom caminho;
dignai-vos, meu Deus, a recebê-lo como um filho pródigo e perdoar-lhe.
Bons Espíritos cuja voz ignorou, ele quer vos escutar de agora em
diante; permiti-lhe entrever a felicidade dos eleitos do Senhor, a fim de
que persista no desejo de se purificar para alcançá-la; sustentai-o em
suas boas resoluções e dai-lhe a força para resistir aos seus maus
instintos.
Espírito de ..., nós te felicitamos por tua modificação e agradecemos
aos bons Espíritos que te ajudaram!
Se no passado tinhas prazer em fazer o mal, é que não compreendias
o quanto é doce a alegria de fazer o bem; também te sentias indigno
para alcançá-lo. Mas, desde o instante em que colocaste o pé no bom
caminho, uma nova luz se fez para ti; começaste a experimentar uma
felicidade desconhecida, e a esperança entrou em teu coração. É que
Deus sempre escuta a prece do pecador arrependido; Ele não recusa
nenhum daqueles que O buscam.
Para entrar completamente na graça do Senhor, esforça-te de agora
em diante para não mais praticar o mal, mas em fazer o bem e em reparar
o mal que fizeste; então, terás satisfeito a justiça de Deus; as tuas boas
ações apagarão as tuas faltas passadas.
O primeiro passo está dado; agora, quanto mais avançares, mais o
caminho parecerá fácil e agradável. Continua, pois, e um dia terás a glória
de estar entre os bons Espíritos, os Espíritos bem-aventurados.
Pelos Espíritos endurecidos
75 Instrução Preliminar
Os maus Espíritos são aqueles que ainda não foram tocados pelo
arrependimento; que se satisfazem no mal e disso não sentem nenhum
arrependimento, são insensíveis às censuras, recusam a prece
e muitas vezes blasfemam contra o nome de Deus. Essas são almas
endurecidas que, após a morte, se vingam nos homens dos sofrimentos
que suportam, e perseguem com seu ódio àqueles a quem
detestaram durante a sua vida, pela obsessão ou por uma influência
maléfica qualquer.
Entre os Espíritos perversos, há duas categorias bem distintas:
os que são francamente maus e os que são hipócritas. Os
primeiros são bem mais fáceis de conduzir ao bem que os segundos.
São muitas vezes de natureza bruta e grosseira, como se vê
entre os homens que fazem o mal mais pelo instinto do que de
propósito e não procuram se fazer passar por melhores do que
são. Há neles um gérmen adormecido que é preciso fazer despertar,
o que se consegue quase sempre por meio da perseverança,
da firmeza unida à benevolência, pelos conselhos, pelo raciocínio
e pela prece. Nas comunicações mediúnicas, a dificuldade que têm
para escrever ou pronunciar o nome de Deus é o indício de um
temor instintivo, de uma voz íntima da consciência que lhes diz
que são indignos; aqueles que estão nessa fase estão prestes a se
converter, e pode-se esperar tudo deles: basta encontrar o ponto
vulnerável nos seus corações.
Já os Espíritos hipócritas são quase sempre muito inteligentes e
não têm no coração nenhuma fibra sensível; nada os toca; simulam
todos os bons sentimentos para captar a confiança e ficam felizes
quando encontram tolos que os aceitam como santos Espíritos e a
quem podem governar à vontade. O nome de Deus, longe de lhes
inspirar o menor temor, lhes serve de máscara para cobrir suas maldades.
No mundo invisível, como no mundo visível, os hipócritas são
os seres mais perigosos, pois agem na sombra, e deles não se desconfia.
Apenas aparentam ter fé, mas não a fé sincera.
76 Prece
Senhor, dignai-vos a lançar um olhar de bondade aos Espíritos imperfeitos
que ainda estão nas trevas da ignorância e vos desconhecem,
e especialmente sobre o de ...
Bons Espíritos, ajudai-nos a lhe fazer compreender que, ao induzir
os homens ao mal, ao obsediá-los e ao atormentá-los, ele prolonga seus
próprios sofrimentos; fazei com que o exemplo da felicidade que desfrutais
seja um encorajamento para ele.
Espírito que te satisfazes ainda com o mal, vem ouvir a prece que
fazemos por ti; ela te provará que desejamos te fazer o bem, embora
faças o mal.
És infeliz, pois é impossível ser feliz fazendo o mal; por que
permanecer sofrendo quando depende de ti deixar de sofrer? Olha os
bons Espíritos que te cercam; vê como são felizes. Não seria mais
agradável para ti desfrutar da mesma felicidade?
Dirás que isso é impossível, mas nada é impossível àquele que quer,
pois Deus te deu, como a todas as suas criaturas, a liberdade de escolher
entre o bem e o mal, ou seja, entre a felicidade e a infelicidade. Ninguém
está condenado a fazer o mal; se tens a vontade de fazê-lo, podes também
ter a de fazer o bem e de ser feliz.
Volta teus olhos para Deus; eleva somente por um instante até
Ele teu pensamento, e um raio de sua divina luz virá te iluminar. Dize
conosco estas simples palavras: Meu Deus, eu me arrependo, perdoaime.
Experimenta o arrependimento e faze o bem ao invés de fazer o
mal, e verás que logo a sua misericórdia se estenderá sobre ti e que
um bem-estar desconhecido virá substituir as angústias que
experimentas.
Uma vez que tiveres dado um passo no bom caminho, o resto dele
te parecerá fácil. Compreenderás, então, quanto tempo perdeste de
felicidade devido à tua falta. Porém, um futuro radioso e cheio de
esperança se abrirá diante de ti, e esquecerás teu miserável passado,
cheio de problemas e torturas morais, que seriam para ti o inferno se
devessem durar eternamente. Chegará o dia em que essas torturas serão
tão terríveis que, a qualquer preço, pedirás para fazê-las cessar; quanto
mais demorares para decidir, mais isso te será difícil.
Não acredites que ficarás sempre no estado em que te achas. Não,
isso é impossível; tens diante de ti dois caminhos: um é o de sofreres
muito mais do que sofres agora, o outro é o de seres feliz como os bons
Espíritos que estão ao redor de ti. O primeiro é inevitável, se persistires
na tua teimosia; um simples esforço de tua vontade basta para te livrar do
mal que te aflige. Apressa-te, pois, porque cada dia de atraso é um dia
perdido para a tua felicidade.
Bons Espíritos, fazei com que estas palavras encontrem acolhida
junto a essa alma ainda atrasada, a fim de que a ajudem a se aproximar
de Deus. Nós vos pedimos em nome de Jesus Cristo, que teve um grande
poder sobre os Espíritos maus.
Pelos doentes
77 Instrução Preliminar
As doenças fazem parte das provas e das adversidades da
vida terrena; elas fazem parte da imperfeição de nossa natureza
material e da inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e
os excessos de toda ordem semeiam em nós os germens doentios,
muitas vezes hereditários. Nos mundos mais avançados física
e moralmente, o organismo dos seres, mais puro e menos material,
não está sujeito às mesmas enfermidades, e o corpo não é minado
silenciosamente pelas paixões devastadoras. (Veja nesta obra Cap.
3:9.) É preciso, pois, se resignar em sofrer as conseqüências do
meio em que nos coloca nossa inferioridade, até que tenhamos
mérito para alcançar situação melhor. Isso não deve nos impedir
de fazer o que depender de nós para melhorar nossa posição atual;
mas, se, apesar de nossos esforços, não pudermos fazê-lo, o Espiritismo
nos ensina a suportar com resignação nossos males da vida
na Terra.
Se Deus não quisesse que os sofrimentos corporais desaparecessem
ou fossem suavizados em alguns casos, Ele não teria colocado à
nossa disposição os meios de curá-los. Sua previdente bondade a esse
respeito, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é
nosso dever procurar esses meios e aplicá-los.
Ao lado da medicação comum, elaborada pela Ciência, o magnetismo
nos fez conhecer o poder da ação fluídica; mais tarde, o
Espiritismo veio nos revelar outra força poderosa na mediunidade curadora
e a influência da prece. (Veja adiante a notícia sobre a
mediunidade curadora.)
78 Prece (para o doente orar)
Senhor, sois todo justiça. A doença que me aflige, eu a devo merecer,
visto que nunca há sofrimento sem causa. Entrego-me para minha
cura à vossa infinita misericórdia; se for de vossa vontade me restituir a
saúde, que vosso santo nome seja abençoado; se, ao contrário, ainda
devo sofrer, que seja abençoado do mesmo modo; submeto-me sem
lamentar às vossas divinas leis, pois tudo o que fazeis tem apenas por
objetivo o bem de vossas criaturas.
Fazei, meu Deus, que esta doença seja para mim uma advertência
salutar e me permita fazer uma análise sobre mim mesmo; aceito-a como
uma expiação do passado e como uma prova para minha fé e minha
submissão a vossa santa vontade.
79 Prece (pelo doente)
Meu Deus, vossas vontades são impenetráveis, e, em vossa sabedoria,
entendestes que ... fosse atingido(a) pela doença. Lançai, eu vos
suplico, um olhar de compaixão sobre seus sofrimentos e dignai-vos a
colocar fim a isso.
Bons Espíritos, ministros do Todo-Poderoso, reforçai, eu vos peço,
meu desejo de aliviá-lo(a); dirigi meu pensamento a fim de que vá derramar
um bálsamo salutar sobre seu corpo e a consolação em sua alma.
Inspirai-lhe a paciência e a submissão à vontade de Deus; dai-lhe a
força para suportar suas dores com resignação cristã, a fim de que não
perca o fruto dessa prova.
Meu Deus, se vos dignardes servir-vos de mim, mesmo indigno como
sou, posso curar este sofrimento, se essa é vossa vontade, pois tenho fé
em Vós; mas sem Vós não sou nada. Permiti aos bons Espíritos me
transmitam os fluidos salutares, a fim de que eu os possa doar a este
doente, e desviai de mim todo pensamento de orgulho e de egoísmo que
poderia alterar a pureza desta ação.
Pelos obsediados
81 Instrução Preliminar
A obsessão é a ação continuada que um mau Espírito exerce
sobre um indivíduo. Apresenta características muito diversas, desde
a simples influência moral, sem sinais exteriores que se percebam,
até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais.
Ela obstrui todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade psicográfica,
isto é, da escrita, ela se traduz pela teimosia de um Espírito
em se manifestar, não permitindo que outros se manifestem.
Ao redor da Terra, há grande quantidade de maus Espíritos, devido
à inferioridade moral dos seus habitantes. Sua ação maléfica faz
parte dos flagelos dos quais a Humanidade é o alvo na Terra. A obsessão,
como as doenças, e como todas as tribulações da vida, deve,
pois, ser considerada como uma prova ou uma expiação, e aceita
como tal.
Da mesma forma que as doenças são o resultado das imperfeições
físicas que tornam o corpo acessível às más influências exteriores,
a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral que dá
acesso a um Espírito mau. A uma causa física se opõe uma força
física; a uma causa moral é preciso opor uma força moral. Para se
preservar das doenças, fortifica-se o corpo; para se garantir contra a
obsessão, é preciso fortificar a alma; daí, para o obsediado, a necessidade
de trabalhar a sua própria melhoria, o que muitas vezes basta
para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de pessoas estranhas. Esse
socorro torna-se necessário quando a obsessão• degenera em subjugação•
e em possessão•, porque, o paciente perde, por vezes, a
vontade e o livre-arbítrio.
A obsessão é quase sempre o resultado de uma vingança exercida
por um Espírito e que muitas vezes tem sua origem nas relações que
o obsediado teve com ele em uma existência anterior.
Nos casos de obsessão grave, o obsediado está como que
envolvido e impregnado por um mau fluido que neutraliza a ação
dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que é preciso livrálo;
mas um mau fluido não pode ser repelido por um igualmente
mau. Por uma ação idêntica à do médium curador nos casos de
doenças, é preciso expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido
bom, que produz de certo modo o efeito semelhante ao de um
reagente. Essa é a ação mecânica, mas não é suficiente; é preciso
também, e sobretudo, agir sobre o ser (Espírito) inteligente, com o
qual é preciso falar com autoridade, e essa autoridade só é dada
pela superioridade moral; quanto maior ela for, maior será a
autoridade.
Ainda não é tudo. Para assegurar a libertação, é preciso levar o
Espírito perverso a renunciar às suas más intenções; é preciso fazer
nele nascer o arrependimento e o desejo do bem, com a ajuda de
instruções habilmente dirigidas, nas evocações particulares feitas
visando à sua educação moral. Então, pode-se ter a dupla satisfação
de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.
A tarefa torna-se mais fácil quando o obsediado, ao compreender
sua situação, colabora com boa vontade e com suas preces. Dá-se o
contrário quando o obsediado, seduzido pelo Espírito enganador, iludese
pelas qualidades daquele que o domina e se satisfaz no erro onde
este último o lança; então, longe de ajudar, recusa toda assistência. É
o caso da fascinação*, sempre mais difícil de resolver do que a
subjugação mais violenta.
Em todos os casos obsessivos, a prece é o mais poderoso auxiliar
na ação de esclarecimento do Espírito obsessor.
82 Prece (para o obsediado orar)
Meu Deus, permiti aos bons Espíritos me libertarem do Espírito
maléfico que se ligou a mim. Se é uma vingança que ele exerce pelos
males que eu lhe tenha feito no passado, vós o permitis, meu Deus,
* N. E. - Fascinação: obsessão irresistível. Ilusão profunda.
para minha punição, e eu suporto a conseqüência da minha falta. Possa
meu arrependimento merecer vosso perdão e minha libertação! Mas,
qualquer que seja o seu motivo, imploro para ele a vossa misericórdia;
dignai-vos facilitar-lhe o caminho do progresso que o desviará do
pensamento de fazer o mal. Possa eu, de minha parte, retribuir-lhe o
mal com o bem e conduzi-lo a melhores sentimentos.
Mas também sei, meu Deus, que são as minhas imperfeições que
me tornam acessível às influências dos Espíritos imperfeitos. Dai-me a
luz necessária para reconhecê-las; combatei, em mim, o orgulho que me
cega em relação aos meus defeitos.
Como ainda sou imperfeito, uma vez que um ser maléfico pôde me
escravizar!
Fazei, meu Deus, com que este golpe desferido em minha vaidade
me sirva de lição para o futuro; que me fortaleça na resolução que tomo
de me purificar pela prática do bem, da caridade e da humildade, a fim
de opor, de agora em diante, uma barreira às más influências.
Senhor, dai-me forças para suportar com paciência e resignação,
sem lamentações, esta prova que, como todas as outras, deve servir
para o meu adiantamento, uma vez que me dá a ocasião de mostrar
minha submissão e de exercer minha caridade para com um irmão infeliz,
ao lhe perdoar o mal que me tenha feito.
83 Prece (pelo obsediado)
Deus Todo-Poderoso, dignai-vos de me dar o poder de livrar ... do
Espírito que o obsedia; se está na vossa vontade pôr fim a esta prova,
concedei-me a graça de falar, com autoridade, a esse Espírito.
Bons Espíritos, que me assistis, e vós, anjo guardião de ..., prestaime
vossa colaboração; ajudai-me a livrá-lo(a) do fluido impuro com o qual
está envolvido(a).
Em nome de Deus Todo-Poderoso, eu ordeno ao Espírito malévolo
e atormentador que se retire.
84 Prece (pelo Espírito obsessor)
Deus infinitamente bom, eu imploro vossa misericórdia para o Espírito
que obsedia ..., fazei-lhe entrever as divinas luzes, a fim de que veja o
falso caminho que está trilhando. Bons Espíritos, ajudai-me a fazê-lo compreender
que tem tudo a perder ao fazer o mal, e tudo a ganhar ao fazer o bem.
Espírito que vos satisfazeis em atormentar ..., escutai-me, pois eu
vos falo em nome de Deus.
Se quiserdes refletir, compreendereis que o mal não pode se impor
sobre o bem, e que não podeis ser mais forte do que Deus e os bons
Espíritos.
Eles poderiam preservar ... de todo golpe de vossa parte; se não o
fizeram, foi porque tinha uma prova a suportar. Mas quando essa prova
tiver acabado, vos tirarão toda ação sobre ele; o mal que lhe fizestes, ao
invés de prejudicá-lo, servirá para o seu adiantamento, e com isso somente
será mais feliz; assim, vossa maldade terá sido em vão, e se voltará contra
vós.
Deus, que é Todo-Poderoso, e os Espíritos superiores, seus
mensageiros, que são mais poderosos do que vós, poderão, pois, colocar
fim a essa obsessão quando o quiserem, e vossa insistência se quebrará
diante dessa suprema autoridade. Mas porque Deus é bom, quer vos
deixar o mérito de cessá-la por vossa própria vontade. É uma oportunidade
que vos é concedida; se não a aproveitardes, sofrereis as suas dolorosas
conseqüências; grandes castigos e cruéis sofrimentos vos esperam; sereis
forçados a implorar sua piedade e as preces da vossa vítima, que já vos
perdoou e ora por vós, o que é um grande mérito aos olhos de Deus e
apressará a libertação dela.
Refleti, enquanto ainda há tempo, visto que a justiça de Deus se
abaterá sobre vós como sobre todos os Espíritos rebeldes. Pensai que o
mal que fazeis neste momento terá forçosamente um fim, enquanto, se
persistirdes em vossa teimosia, vossos sofrimentos aumentarão sem
cessar.
Quando estivestes na Terra, não teríeis achado absurdo sacrificar
um grande bem por uma pequena satisfação momentânea? Ocorre o
mesmo agora que sois Espírito. Que ganhais com o que fazeis? O triste
prazer de atormentar alguém, o que não vos impede de ser infeliz, e que,
por mais que afirmeis o contrário, vos tornará mais infeliz ainda.
Ao lado disso, vede o que perdeis: olhai os bons Espíritos que vos
rodeiam, e vede se sua sorte não é preferível à vossa? A felicidade de que
desfrutam será também vossa quando o quiserdes. O que é preciso para
isso? Implorar a Deus, e fazer o bem ao invés de fazer o mal. Sei que não
podeis vos transformar de repente; mas Deus não pede o impossível; o
que Ele quer é a boa vontade. Tentai, e nós vos ajudaremos. Fazei com
que logo possamos dizer em vosso favor a prece pelos Espíritos
arrependidos (v:73) e não mais vos colocar na categoria dos maus
Espíritos, ao esperar que possais estar entre os bons.
Obs: A cura das obsessões graves requer muita paciência,
perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade para
conduzir ao bem Espíritos freqüentemente muito perversos, endurecidos
e astuciosos, e entre eles há os que são rebeldes em último grau. Na
maior parte dos casos, é preciso se guiar conforme as circunstâncias;
mas, qualquer que seja o caráter do Espírito, um fato é certo: não se
obtém nada pela violência ou ameaça; toda influência está na
ascendência moral. Uma outra verdade, igualmente constatada pela
experiência, assim como pela lógica, é a completa ineficiência dos
exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs,
práticas exteriores ou sinais materiais quaisquer.
A obsessão, quando muito prolongada, pode ocasionar desequilíbrios
na saúde, e, por vezes, requer um tratamento simultâneo ou
consecutivo, seja magnético ou médico, para restabelecer a saúde
do organismo. A causa sendo destruída, resta combater os efeitos.
(Consulte O Livro dos Médiuns, Cap. 23, Obsessão. E a Revista Espírita,
edições de fevereiro e março de 1864, abril de 1865: Exemplos de
curas de obsessões.)
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