sábado, 20 de agosto de 2016
Haja paciência...[1]
Wellington Balbo[2] -19/08/2016
Dia desses, parado com o carro esperando abrir o sinal, fiquei distraído e não percebi que a cor havia mudado para verde. Foi questão de uns 5 segundos, mas o suficiente para fazer com que o motorista de trás apertasse sua buzina freneticamente. Calmamente engatei primeira e sai com o carro. Ao passar por mim fez um sinal indecoroso e, pude ler em seus lábios uma nada amistosa homenagem à minha progenitora que, certamente, ele não conheceu, pois desencarnou há mais de 15 anos.
Mas o fato colocou-me a pensar em como estamos sempre com pressa, talvez no contrafluxo do universo. Estamos contra o fluxo do universo porque toda a mensagem que nos é enviada pede para termos mais calma ou, melhor dizendo, para treinarmos a paciência.
Quem quer tudo para ontem ainda não percebeu que a vida tem seu próprio tempo e turno. Esperar é uma tônica da vida na Terra. Mesmo que não queira, ninguém pode viver sem esperar. Um amigo, admoestado porque com frequência fazia seu chefe esperar não perdia a piada. Ele pode esperar, aliás, esperou 9 meses para nascer, não há problema algum em esperar mais 5 minutos para ter um relatório de qualidade, com informações preciosas que pouparão muito de seu tempo, dizia o ousado amigo. A verdade é que, quanto mais um indivíduo se tem em alta conta, menos ele gosta de esperar. Ah, as noivas não entram nessa análise, elas podem ter pressa e fazer os outros esperar.
Mas só as noivas...
Por essas e outras, penso que um desafio coletivo para quem vive na Terra é o de esperar. Isso mesmo. Esperamos 9 meses para nascer, mais alguns anos para falar, mais um tempo para andar... Esperamos no trânsito, nas filas, esperamos para aposentar, esperamos chegar a Olimpíada e a Copa do Mundo, esperamos as férias e as sextas feiras, esperamos o amigo, esperamos o exame chegar, a conexão da net, esperamos alguém ligar e, pasmem, esperamos até a felicidade.
Isso sem contar que até quem paga a conta espera o médico chegar, já quem depende do SUS... Bem, quem depende do SUS nem sabe se o médico chegará...
Aliás, paciência para esperar que a dor passe ou a fase difícil vá embora já é, por si, um remédio que alivia. Sim, um remédio. Quanto mais nos desesperamos mais as dores, sejam elas de ordem moral ou física, tornam-se fortes. A paciência é o remédio que permite diminuir a potência da dor. Há, aliás, bela mensagem em O evangelho segundo o Espiritismoque traz o nome de Paciência. A mensagem diz, entre tantas coisas bacanas que, quando olhamos para baixo verificaremos que outras tantas pessoas sofrem dores mais agudas do que as nossas. Ou seja, é preciso treinar a paciência e aprender a esperar, pois tudo, absolutamente tudo passa, e quando temos mais resignação às dores não se tornam insuportáveis.
O trânsito é mais leve, o médico chega mais rápido, os exames não demoram tanto, a conexão da net funciona de forma mais eficaz quando exercitamos a paciência.
Então, de tudo que abordamos, cabe-nos entender que é importante conquistar a paciência, e que a vida nos treina para isso constantemente.
Nem sempre o tempo que julgamos certo o é para Deus, eis porque ele dotou a vida repleta de situações que nos ensinam um belo aprendizado: aprender a esperar, enfim, buscar a paciência para que a vida seja mais leve, menos estressante.
Até porque não existe vida sem espera...
E haja paciência...
[2] Wellington Balbo é professor universitário, escritor e palestrante espírita, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática. É autor do livro "Lições da História Humana", síntese biográfica de vultos da História, à luz do pensamento espírita. wellington_balbo@hotmail.com - Blog: http://wellingtonbalbo.blogspot.com/
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Estresse e Espiritualidade[1]
Dra. Marlene Rossi Severino Nobre[2]
Para o grande público, estresse é uma situação psicologicamente agressiva que repercute no corpo. Este, porém, é apenas um dos aspectos do estresse, a sua versão psicossomática, há outros, porém, a serem considerados. Na verdade, o ser humano vive em estado de estresse permanente, bombardeado por fatores estressantes diversos - físicos, psicoemocionais, e espirituais - que lhe exigem constante adaptação ao mundo que o cerca.
Os fatores estressantes emocionais tanto podem ser tristes, como a morte de um ente querido, o desemprego, quanto felizes, como o sucesso do atleta ou as alegrias do reencontro - todos desencadeiam, do mesmo modo, os mecanismos e as consequências do estresse. O mesmo acontece em relação aos abalos nervosos, como no estado de cólera, medo etc., assim como frente aos fenômenos físicos nocivos - frio, calor, fadiga, agentes tóxicos ou infecciosos, jejum, exercícios físicos exagerados etc..
Na verdade, o estresse é a resposta não específica que o corpo dá a toda demanda que lhe é feita. Ele corresponde à interação entre uma força e a resistência do organismo a esta força. É o complexo agressão-reação.
Se a agressão é ocasionada por uma grande diversidade de fatores, a reação comporta uma parte idêntica, comum a todos os indivíduos, e uma parte própria de cada um, denominada "coping" ou aspecto específico da reação não específica.
A medicina hoje considera a doença como sendo a resultante da agressão mais a reação não específica, mais reação específica. Isto pode ser resumido em estresse mais coping. Desse modo, considera-se a originalidade própria das reações específicas ao agente estressor, superpostas às reações não específicas do estresse, criando a diversidade dos aspectos clínicos.
Em 1936, Hans Selye, descobridor do estresse, publicou os seus primeiros trabalhos sobre o assunto. Em 1950, descreveu a Síndrome Geral de Adaptação - Reação de Alarme, estágio de Resistência e de Exaustão - com seus aspectos bioquímicos e endócrinos, mostrando qual a reação não específica do organismo às agressões do mundo exterior. Para ele, a intensidade da demanda, a duração e a repetição determinam a resposta. E condiciona o bom ou o mau estresse à eficiência ou não da fase de adaptação. Para Selye, todo indivíduo tem um capital de energia biológica diferente e pode consumir suas reservas conforme tenha maus estresses.
Na reação de alarme, a primeira resposta do organismo ao estresse, entra em ação o sistema hipotálamo-simpático-adrenérgico que prepara o organismo para a luta ou fuga. Entram em jogo a adrenalina e a noradrenalina, com isso, há muita produção de glicogênio, taquicardia, respiração acelerada, concentração do sangue nos vasos principais e nos músculos estriados, inibição dos sistemas digestivo, sexual e imunológico.
Depois disso, outro sistema vai entrar em jogo, o hipotálamo - hipófiso-suprarrenal com produção de ACTH e corticóides.
Esses sistemas entram em funcionamento na fase de reação e o organismo pode sofrer esgotamento ou entrar na fase de exaustão, tendo como resultado final doença e morte. São inúmeras as doenças de adaptação, entre elas, hipertensão, úlcera, hemorroidas, ataques cardíacos, acidente vascular cerebral, diabetes, enxaqueca etc..
Hoje, como avanço dos estudos, considera-se o sistema limbo-hipotálamo-hipófiso-suprarrenaliano (LHHS). Através do hipotálamo na zona parvocelular mediana do núcleo paraventricular (NPV), são liberados o CRF, o Fator de liberação corticotrófico (Corticotrophin Releasing Factor) e a Argenina Vasopressina (AVP) - que determinam a liberação de ACTH pela hipófise e esta o cortisol pela suprarrenal.
Com vemos, o estresse está ligado ao centro das emoções no hipotálamo, assim é importante o estudo de fatores como o medo, a raiva etc., nos seus mecanismos e reações. Assim, quando o indivíduo sente raiva, por exemplo, é como se ele estivesse diante de um predador, de um perigo iminente e isto desencadeia a reação.
Como vimos, cada indivíduo tem uma reação específica frente ao estresse. Ele coloca suas estratégias de ajuste cognitivas e comportamentais, o "coping", para fazer face aos agentes estressores.
As pesquisas têm demonstrado que doenças como depressão estão absolutamente ligadas ao estresse. Investigação ampla, realizada em 52 países, da qual participou o Dr. Alvaro Avezum, do Brasil, acerca dos fatores de risco da doença cardíaca, demonstrou que os psico-sociais entram em mais de 30% dos casos.
O estresse é o campo da medicina que reunifica corpo e alma. O seu estudo está, portanto, intimamente ligado à espiritualidade.
Segundo as lições espirituais dadas em 1947, no livro “No Mundo Maior” [3], o nosso cérebro tem três áreas distintas: a inicial, onde habita o automatismo e que está no plano subconsciente, a do córtex motor que engloba as conquistas do hoje e está na área do consciente e a dos lobos frontais que representam o ideal e a meta superiores e estão vinculados ao superconsciente. Esta classificação encontra respaldo no livro de Paul Maclean, de 1968, The Triune Brain in Evolution, que nos fala acerca dessas três regiões, afirmando que vemos o mundo através de três cérebros distintos.
Aprendemos também com os Instrutores Espirituais que somos seres em evolução. Quanto mais perto nos encontramos da animalidade mais agimos com instintos e sensações. Com o passar do tempo, e a evolução espiritual consequente, passamos a ter sentimentos, sendo o amor, o mais sublimado deles.
Se estamos escravizados aos instintos, a maneira pela qual fazemos face aos fatores estressantes é muito primitiva e resulta quase sempre em um mau estresse.
Aprendemos também que é preciso humildade para vencer a animalidade inferior. Infelizmente, porém, em nossas relações em sociedade e no lar estamos muito longe desse sentimento sublime que está intimamente ligado ao amor.
Assim, a fé é importante porque abre as portas do coração para sentir e viver o amor divino em nossas vidas. Através da oração, da meditação, da compreensão do valor da dor, temos a possibilidade de conhecermo-nos a nós mesmos e a reagirmos de forma mais equilibrada às tensões da existência humana. Compreendemos, igualmente, que é preciso treino para o perdão e para eliminação da raiva, da inveja, da mágoa e de outros sentimentos negativos.
A nossa busca da paz para viver no lar, no ambiente de trabalho, dentro da sociedade tem de ser centralizada em Jesus, o Médico da Almas, que afirmou ter a paz verdadeira para nos oferecer. Chico Xavier disse com muita sabedoria: "A paz em nós não resulta de circunstâncias externas e sim da nossa tranquilidade de consciência no dever cumprido." Para vencer positivamente o estresse é preciso guardar a paz, tê-la como patrimônio. E esta pacificação interior que é responsável pelo sucesso do "Coping", só será uma conquista definitiva quando houver harmonia entre os três cérebros. Para isso, no entanto, é imprescindível não esquecer que é preciso fé em Deus e obediência às Suas Leis.
[2] Dra. Marlene Nobre é presidente da Associação Médico Espírita do Brasil e Internacional.
[3] No mundo Maior, pelo espírito de André Luiz, psicografado por Francisco C. Xavier.
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
ACHOLOGIA[1]
Orson Peter Carrara
Esta talvez seja a mais nova ciência dos homens. Usada diariamente, com mais intensidade nestes tempos de dificuldades maiores, está presente em todos os lugares, famílias, grupos e cidades... Sim, é a ciência do "acho que..." É, isso mesmo, eu acho que:
a. isto deveria ser feito assim,
b. poderíamos fazer isso,
c. isto ficaria melhor aqui,
d. isto ficaria mais bonito se...,
e. assim funcionaria melhor,
f. falta isso para melhorar,
g. alguém poderia tomar a iniciativa de... etc., etc..
Na verdade todo mundo acha, mas poucos tomam a iniciativa de... Poucos são os que se expõem, muitos têm o medo de se comprometerem, outros se escondem na suposta incapacidade ou timidez e muitos acabam achando que os outros é que deveriam fazer o que precisa ser feito...
Nesta avalanche do eu acho que, surgem as críticas a governantes, autoridades e as sempre presentes pedradas em quem faz, pois quem faz se expõe, está a frente e como todo mundo está sujeito a erros e também pode errar, aí fica como fácil alvo daqueles que criticam e nunca agem. Mas, pensando como o consagrado Prof. Marins: “... erre, mas pelo amor de Deus, faça!..."
Mas esta é a questão: todo mundo espera que alguém faça algo para melhorar a situação de dificuldades, acha que poderia ser desta ou doutra forma, mas permanecemos todos na acomodação, até indiferença, esperando que as coisas caiam do Céu e esquecendo o acerto da canção popular que diz que quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Estas considerações todas também podem ser levadas para o Centro Espírita, o Movimento Espírita ou no relacionamento entre os espíritas. Existe muita gente achando que, enquanto o tempo passa, as coisas deixam de acontecer, perdemos tempo adiando dias melhores... Veja alguns exemplos:
a. Acho que poderíamos convidar fulano para falar outra vez. Foi tão boa aquela palestra...;
b. Acho que fulano poderia hospedar aquele orador. É uma noite só;
c. Acho que podemos preparar um lanche para as crianças;
d. Acho que se trocássemos as cadeiras do Centro, ficaria melhor... estas estão velhas;
e. Acho que se alugássemos uma Van para ir assistir aquela palestra na outra cidade;
f. Acho que os estudos ficariam melhor se fossem às 20 horas...;
g. Acho que se fulano fosse o Presidente, seria melhor...;
h. Acho que podemos organizar uma festinha para os assistidos...;
i. Ah, mas eu acho que se pintasse de amarelo ficaria melhor;
j. Mas, eu acho que uma Noite da Pizza resolveria nossa questão de caixa.
O fato é que precisamos agir. Está à nossa espera a iniciativa, a decisão, o primeiro passo a ser seguido da perseverança. Há muito o que fazer no Centro, no Movimento. Interessemo-nos, saindo da inércia e da acomodação. Mesmo errando, mas deixando tanto de achar que...
[1] Jornal Mundo Espírita – 07/2001
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
A Lei de destruição[1]
Maria Ribeiro
A parte terceira de O Livro dos Espíritos é reservada a esclarecer sobre as leis morais, classificadas por Kardec com a permissão dos Espíritos em dez partes; aliás, a mesma divisão mosaica e que, segundo os Orientadores do Plano Maior, abrangem todas as circunstâncias da vida.
Dentre as leis morais, a lei de destruição parece ser a menos compreendida, também pouco abordada. O capítulo VI representando a quinta lei – lei de destruição – aborda: destruição necessária e destruição abusiva; flagelos destruidores; guerras; homicídio; crueldade; duelo e pena de morte. Na questão 728, Kardec argui aos Instrutores do Além se a destruição é uma lei da Natureza ao que eles prontamente respondem:
“- É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar, porque o que chamais destruição não é senão uma transformação que tem por objetivo a renovação e melhoramento dos seres vivos”.
Na Gênese, no capítulo III, lê-se:
“Para aquele que não considera senão a matéria, que limita sua visão à vida presente, isso parecerá, com efeito, uma imperfeição na obra divina”.
Entre os animais forma-se a cadeia alimentar que promove na natureza um equilíbrio ao qual ninguém se dá conta. Entre os seres inferiores, desprovidos de senso moral, a mais imperiosa necessidade é a da nutrição – lutam para viver. “É nesse primeiro período que a alma se elabora e se ensaia para a vida”.
O homem passa por uma fase de transição e, nas primeiras idades, o que prevalece é o instinto animal; depois, este se contrabalança com o sentimento moral e agora a necessidade é satisfazer o desejo de domínio; somente muito depois, com o desenvolvimento do senso moral começa a surgir uma maior sensibilidade e “o homem passa a lutar contra as dificuldades e não mais contra seus semelhantes.” Na atualidade o homem se transformou no principal consumidor de alimento animal, e as pesquisas gastronômicas lançam sempre suas novidades; e não se pode crer, que isto se dê com o cruel intuito de massacrar os pobres bichinhos. O hábito de consumir carne parece incomodar um grupo formado dentro do Movimento Espírita que quer a todo custo demovê-lo, lutando contra a condição que a Natureza, ao menos provisoriamente, os colocou: de um lado, os animais, que desde a gênese mosaica foram dados aos homens para sua provisão; e de outro, os homens, cuja constituição orgânica exige proteína de origem animal. Isto se deve ao fato de alguns adeptos pouco convictos e superficialmente conhecedores de fato do Espiritismo, se deixarem seduzir pelas informações vindas de Espíritos mais facínoras do que sérios. Ainda no capitulo anterior que trata da lei de conservação, Allan Kardec, na questão 723 questiona se “a alimentação animal, entre os homens, é contrária à lei natural” e os Espíritos Codificadores objetam, muito claramente:
”- Na vossa constituição física a carne nutre a carne, de outra maneira o homem enfraquece. A lei de conservação dá ao homem um dever de entreter suas forças e sua saúde para cumprir a lei do trabalho. Ele deve, pois, se alimentar, segundo o exige a sua organização”.
Conclui-se que o primeiro dever do homem é zelar pela própria saúde e bem estar físico, o que, durante os estágios primitivos, ele procura fazê-lo instintivamente. De outra forma, ele não encontrará subsídios para desenvolver outros deveres, cumprir outras leis. Voltando à Gênese, no item 21 do referido capítulo, em destaque, está declarado:
“- A verdadeira vida, do animal, tal como a do homem, não se encontra no envoltório corporal, como também não se encontra em seu vestuário; ela está no princípio inteligente, que preexiste, e que sobrevive ao corpo”.
Daí, cabe perguntar, de onde estes companheiros tiraram tanta coragem para contradizer de forma tão aberrante aos insignes Codificadores: Kardec e os Espíritos adjudicados de tamanha missão. Seja coragem, seja estupidez, fato é que se trata de uma insolência absurda, pois que não há ninguém encarnado ou desencarnado à altura daqueles que trouxeram a Doutrina Espírita, ao menos agora. Demorará ainda talvez alguns séculos para que os missionários ressurjam para acrescentar na Codificação o que o próprio Kardec, na sua simplicidade, afiançou. Isto vai depender do avanço moral dos homens, que na atualidade ainda se encontram num tal estado entusiasta que chega ao ponto de negligenciar e desmentir a Verdade proposta pela Doutrina Espírita.
Quer estas colocações Espíritas dizer que tal destruição é necessária. Recorram-se às palavras Kardequianas:
“Uma primeira utilidade que se apresenta nesta destruição, utilidade puramente física, certamente, é essa: os corpos orgânicos não se alimentam senão com a ajuda de matérias orgânicas, uma vez que estas matérias são as únicas que contêm os elementos nutritivos necessários à sua transformação. Os corpos, instrumentos de ação do princípio inteligente, têm necessidade de ser incessantemente renovados; a Providência os faz servir a seu mútuo alimento; é por isso que os seres se nutrem uns dos outros; então é o corpo que se nutre do corpo, porém o Espírito não se aniquilou, nem se alterou; apenas, despojou-se de seu invólucro”.
Outro aspecto relevante relacionado a isto é que é na luta que o Espírito se desenvolve: ele adquire habilidades e exercita sua inteligência, para enfim, adquirir conhecimentos e experiência, distanciando-se cada vez mais dos sinais de animalidade.
Dentro desta destruição que Kardec denomina necessária, remeta-se a uma prática imensamente útil a Humanidade, que é a sujeição de determinadas espécies animais para experimentos científicos. Por mais avançada esteja a tecnologia, seria impossível prescindir da participação destes nossos irmãos de ordem inferior na Criação* nas pesquisas de fármacos, ou para provar a eficiência das drogas farmacológicas, e em outras pesquisas onde a existência de um organismo perfeitamente vivo é um imperativo. Isto só tem trazido benefícios; aliás, existem regras éticas que regulam estas práticas. Sobre este particular, os Espíritos já haviam dito que o direito de destruição é regulado pela necessidade de provisão, e que o abuso jamais foi um direito. (734) Ou seja, não é só para a alimentação que os homens precisam dos animais, mas para o desenvolvimento de parte de sua Ciência, e principalmente da Ciência que preserva sua saúde e sua vida física. Pergunta-se: o que aconteceria hoje se ficasse terminantemente proibido a utilização dos animais nos experimentos científicos? Como seriam divididos os espaços físicos entre os homens e os animais, se ficasse proibido o consumo de carne? E se todos se tornassem vegetarianos, a demanda de vegetais atenderia prontamente a todos? São questões que precisam ser pensadas, antes da propaganda de que a Doutrina Espírita proíbe o consumo de carne, palavras dos seguidores de Espíritos orientais. Está reservado o direito de excluir o alimento de origem animal do cardápio aos que voluntariamente despertarem o desejo do vegetarianismo. Mas que não esteja vinculado a esta escolha o atendimento a qualquer recomendação doutrinário-Espírita.
Com base no que as Excelsas Entidades afirmam nas obras fundamentais do Espiritismo, infere-se que, até chegar a um estado cuja nutrição independa da proteína animal, o homem tem muita carne a comer. A esta ideia não se associe uma motivação para os exageros, afinal, o exagero em tudo é maléfico.
Aliás, a constituição orgânica tem por base substâncias inorgânicas encontradas praticamente em tudo na natureza, tais como, oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio, entre outros, que, ao contato do fluido vital, ganham vida e, ao se combinarem entre si, adquirem a forma de aminoácidos, que são as unidades formadoras de proteínas. Proteínas e vida andam juntas, pois além de serem fundamentais para a construção dos organismos, também funcionam como enzimas e, nos vertebrados, funcionam como anticorpos. Muitas destas descobertas se realizaram após a Codificação, provando que os Espíritos sabiam perfeitamente do que falavam, enquanto que para o homem comum os informes científicos ainda representam grandes incógnitas…
À medida que o homem evolui moralmente, seu corpo exigirá alimentos menos densos. Quanto mais material é o mundo onde habita, mais material será sua alimentação. Quando atingir esferas menos atrasadas, sua constituição física sendo mais sutil, obviamente exigirá igualmente alimentos mais sutis. Não se deve esquecer que o Espírito retira do ambiente onde vai estagiar, os elementos (fluidos) para formação de seu perispírito (na verdade, sua condição Espiritual é que atrairá tais elementos), e a partir deste, a formação do corpo físico de acordo com os elementos (materiais) desse globo. Portanto, nada impediria que um Espírito muito elevado encarnado na Terra, por exemplo, utilizasse para sua nutrição, as iguarias de origem animal, já que seu corpo físico é de constituição idêntica ao dos demais, tendo as mesmas exigências.
Kardec se preocupou em trazer esclarecimento sobre os flagelos de que o homem muitas vezes se torna vítima, e na questão 737 pergunta qual o objetivo destes para os homens. E a resposta diz que é para fazer a humanidade avançar mais depressa. Na questão seguinte, os Espíritos afirmam que Deus oferece aos homens outros meios de progredir, mas eles não os aproveitam, pois não utilizam o discernimento do bem e do mal, ou seja, praticam o mal e deixam de praticar o bem, mesmo com conhecimento de causa. São provas que farão o homem exercitar alguns valores, como inteligência, paciência, resignação, abnegação, desinteresse e amor ao próximo; valores imprescindíveis para seu progresso. Além disso, têm os flagelos uma utilidade sob o ponto de vista físico: regiões sofrem alterações que trarão benefícios para as gerações futuras. (739/740)
De uma forma ou de outra, também o corpo do homem sofre a destruição. Dada a morte física, suas vestes carnais darão início ao espetáculo da total desorganização. As transformações post-mortem se iniciam em média duas horas após a morte. Microrganismos encetam o trabalho destruidor, mesmo antes da inumação. Não será exagero defender esta empreitada de que foram dotadas as bactérias – transformar um corpo em elementos menores, até que estes, recombinando-se entre si ou com outros elementos, deem origem a outras formas de vida. Por isso não há o que se chama destruição no sentido de aniquilamento. Na verdade, deixa-se de existir uma forma para continuar existindo em outra, tanto o homem como tudo o que Deus criou.
Os Espíritos não assemelharam o instinto de destruição com a crueldade, alegando que aquela às vezes faz-se necessária, e essa nunca o é. E concluem a questão 752: “ela é sempre o resultado de uma natureza má”. O que leva a estes eventos infelizes entre os homens é a predominância da natureza animal sobre a espiritual, onde a satisfação das paixões fala mais alto; das paixões levadas ao exagero, pois que, equilibradamente, podem levar o homem a grandes coisas. (907/908) Quando um indivíduo age mal, porém para se preservar e preservar a sua espécie obedece ao instinto de conservação, do qual todos os seres são dotados. Então não se classifica como cruel ao liquidar outro com este fim. Mas à medida que se desenvolve, adquire noções sobre o bem e o mal, e agora, se age de idêntica forma, já responderá mais severamente, porque racionalmente, obedecendo ao seu egoísmo, faz o mal, o mesmo que ele fazia quando não podia ter noção mais exata das coisas, portanto, é um sujeito cruel. Mas é claro que estes julgamentos pertencem somente Àquele que a tudo e todos conhece. Cada qual que se julgue a si mesmo e reflita se ainda tem atitudes cruéis ao invés de querer buscar classificações para os outros.
O planeta Terra testemunha ocorrências absurdas que se sucedem uma sempre mais cruel que a anterior, causando sensações de derrota pessoal e coletiva; local onde permanecem vinculados Espíritos ainda afins com o mal, onde ainda existe a pena de morte, legal ou veladamente, como estimar uma data para um mundo melhor, ou por outra, para advento do mundo de regeneração? Nem Jesus se atreveu a demarcar uma data para o estabelecimento do equilíbrio no planeta: ”Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai. (Mt 24,36)” Obviamente, porque tal evento depende unicamente da evolução humana. Em O Livro dos Médiuns, em resposta à pergunta 11ª do item 298, lê-se: ”… Os Espíritos levianos que não têm nenhum escrúpulo em vos enganar, indicam os dias e as horas sem se inquietarem com o resultado. Por isso, toda previsão circunstanciada, deve vos ser suspeita”.
Mas o Cristo também alertou: ”Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas essas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem.” (Lc 21, 36), como a dizer que está ao alcance do homem evitar muitas tragédias, materiais ou morais, e entende-se por “orando”, não simplesmente no sentido literal, mas no sentido ativo do termo. Orar também é pensar sempre no bem, em qualquer circunstância, e no bem da coletividade, trabalhando e investindo para a melhoria das instituições, que infelizmente, só funcionam muito precariamente. Há que se atender às atuais necessidades sociais, com a revisão de leis; com o repensar sobre os atuais modelos implementados que já não funcionam.
Enquanto aguarda-se ansiosamente pelo mundo de regeneração, milhões de irmãos morrem de fome, outros tantos morrem nas guerras, seja nas regiões do mundo envolvidas culturalmente com as guerras (se assim se pode expressar), seja nas guerras das metrópoles: trânsito, assassínios motivados por diversas razões, latrocínios, drogas… Outros milhões anseiam pelo carnaval, pelas festividades, pela copa do mundo, como se nada tivesse acontecendo. Há muito recurso pecuniário envolvido em tudo isso, mas não há um tostão para atender as necessidades básicas das pessoas. Não seria isto um duelo, aliás, um terrível duelo? São homens contra homens: de um lado, homens poderosos e afortunados, do outro homens miseráveis e esquecidos. E no meio? No meio tem-se uma espada afiada representada por outros homens, presunçosos e egoístas que não tomam partido, já que seus interesses não sofrem danos nesse duelo.
Aqui não haveria necessidade da aplicação desta lei? Destruir os costumes bárbaros, que igualam o homem ao bruto; pois os costumes bárbaros também se modernizaram e tomam corpo entre nós.
Ao que parece é o mundo de regeneração que aguarda pelos homens. Ele já é uma realidade para todos os que trabalham ou trabalharam por conquistá-lo. É uma outra promessa do Cristo que se cumpre para estes porque não será algo milagroso, um acontecimento inusitado, maravilhoso, repentino… O mundo de regeneração será resultado de uma construção coletiva, partindo de atitudes individuais. E para que ele seja efetivamente instaurado, será preciso destruir o atual sistema de coisas, romper com os valores vigentes, e que, de uma forma ou de outra, recebem o aval de todos.
Esta Lei de destruição analisada pelos Espíritos faz que se reflita sobre como as transformações ocorrem após o declínio de algo, que pode ocorrer sutil ou bruscamente. Alguns sistemas de governo só mudaram após muitas comoções, até mesmo após revoluções sangrentas, por exemplo. Os eventos inovadores chegam para transformar um certo estado de coisas, e, à primeira vista, seus resultados podem ser considerados negativos ou ruins, dada a visão superficial e imediatista dos homens. Estes eventos acabam incitando os indivíduos para o trabalho, pois que deles exigirá o exercício da inteligência através das pesquisas e descobertas.
No mundo material tudo se transforma sempre visando o bem e um mais perfeito estado de coisas, na tentativa de redirecionar o homem para uma visão toda Moral. Nada ocorre sem uma legítima utilidade. Deus, supremo Bem e Amor, todo Bondade e Justiça, conhece as reais necessidades de cada Ser da Criação, e todas as leis que estabeleceu são solidárias entre si, cabendo aos homens, se instruírem e se moralizarem para compreendê-las na sua integridade, na sua utilidade, na sua grandiosidade.
*Imitando os Espíritos e Kardec, utilizamos este termo, mas, na nossa indigna condição, por falta de um mais adequado, reconhecendo-se grandeza em todas as obras da criação.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Aplicador de passe – servidor de Jesus[1]
Maria Helena Marcon - julho/2014
Pousa a tua mão sobre o doente e acalma a dor, afirmando que a dor desaparece.
A frase, encontrada em velho papiro egípcio, demonstra que, desde muito, o homem conhecia o poder da imposição das mãos, ou seja, a transmissão de fluidos, a fim de beneficiar a outrem, conferindo-lhe saúde física.
Os seguidores do Cristo, conforme Seu exemplo, impunham suas mãos sobre os doentes para os curar. O Apóstolo Pedro, conforme descrição de Atos 3:1-11 cura o coxo que mendigava à porta do templo, pelo olhar e a vontade: Não tenho ouro, nem prata, mas o que tenho te dou. Em nome de Jesus Nazareno, levanta-te e anda.
Barnabé e Paulo de Tarso realizavam curas através da imposição de mãos.
A Doutrina Espírita, ao estabelecer o estudo a respeito dos fluidos, neutros em sua origem, e a possibilidade de se transmitir o fluido vital a outrem (O Livro dos Espíritos, comentário à resposta da questão 70), oferta a grande oportunidade de todos nos tornarmos servidores do Bem, no processo de amenizar dores e proporcionar curas.
A atividade do passe, portanto, talvez seja, dentre tantas outras, nas Casas Espíritas, a mais exercida, desde que é ofertada nas reuniões públicas de palestras, nas reuniões da Juventude Espírita, na Evangelização Espírita Infantil, nos grupos de estudo, nas reuniões mediúnicas etc..
Os que a exercem, por vezes, na continuidade dos meses e dos anos, passam a executá-la de forma quase mecânica, olvidando alguns cuidados preciosos para o pleno êxito dos objetivos da tarefa.
Em verdade, a faculdade de curar pela imposição das mãos deriva de uma força excepcional de expansão fluídica, mas diversas causas concorrem para alimentá-la, entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, a saúde física, consequência da conduta moral equilibrada, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio e disciplinas espartanas em relação a alcoólicos, fumo e outras drogas, automedicação, comportamento sexual, entre outros.
Jesus asseverou: Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque serão chamados filhos de Deus. Naturalmente que todos, por termos emanado da mesma fonte criadora, somos filhos de Deus. Contudo, a advertência crística se refere a uma especial filiação: a dos que, laborando as deficiências de caráter, se alcandoram a degraus superiores, destoando do comum das criaturas.
São os que não utilizam a sua boca para disseminar a calúnia, a malquerença, a maledicência, o desamor. Ao contrário, encontram palavras precisas para lembrar do que é positivo, altruísta e engrandecedor.
Pessoas assim transmitem uma aura de paz, cuja simples presença tem o condão de beneficiar a quem se lhes aproxime.
Todo trabalhador cuida muito bem de suas ferramentas. Dessa forma, o aplicador do passe terá redobrados cuidados com a própria saúde física, atendendo aos preceitos da boa alimentação, sem exageros de qualquer ordem, com atenção ao repouso devido à máquina orgânica, com visitas periódicas a médico e atenção às suas prescrições de exames e medicamentos.
O fluido vital, aprendemos, mantém-se, durante a vida física, graças ao trabalho dos órgãos e encontra seu abastecimento pela respiração, alimentação, exercícios físicos e espirituais.
No passe, associa-se aos fluidos espirituais, a fim de beneficiar o interessado, eis porque a sua qualidade deve ser a melhor.
Ao trabalhador do passe, cabe, pois, preservar-se do uso de alcoólicos, por exemplo. Defendem alguns, a sua utilização, e se servem de textos bíblicos, tentando justificar a sua própria vontade de não abandonar algo que lhe apraz. Com certeza, encontramos referências ao vinho, em textos do Antigo e do Novo Testamento. Entretanto, algumas observações detalhadas se fazem necessárias.
Em hebraico, Tirosch ou Mosto, traduzido, quer dizer vinho, mas não bebida fermentada. Isaías, 65:8 faz referência ao mosto ainda dentro do cacho da vida. Provérbios, 3:10 reporta-se ao mosto, como o suco doce recém colhido – transbordarão de mosto os teus lagares.
A palavra hebraica para descrever bebida forte, ou seja, o vinho fermentado, é Shekar. E lemos em I, Samuel 1:15, as palavras de Ana, grávida: Nem vinho e nem bebida forte tenho bebido. Segundo o Levítico, 10:9, a bebida forte era incompatível com o serviço a Deus, pois os encarregados de atividades no Santuário não podiam beber.
Dessa mesma forma, deve se entender que, no episódio das Bodas de Caná, Jesus transformou a água em Tirosch, o puro suco da uva, o vinho de melhor qualidade. Nem se poderia esperar do Ser puro algo diverso.
Lucas, 1:15 escreve que o anjo do Senhor disse ao sacerdote Zacarias que João [o Batista] seria grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. A total abstinência é a posição a ser assumida por aqueles que estão trabalhando pela implantação do Reino de Deus na Terra.
Se, diariamente, o aplicador de passe se prepara física e espiritualmente para a atividade, não pode esquecer que o passe é um ato de amor e deve ser transmitido no clima que este sentimento propicia a quem o cultiva.
Isto envolve a alegria de servir, o entusiasmo de ser útil, de sentir-se solidário com o próximo; é todo um exercício de amar.
Ser aplicador de passe é ser trabalhador de Jesus, é ter recebido a alta condecoração de servidor, com a possibilidade de captar das esferas superiores as benesses maiores a fim de as direcionar aos que se colocam sob seus cuidados.
Por isso, distende as mãos com inusitada alegria, ora e espalha bênçãos generosas de saúde, de paz, de tranquilidade ao enfermo, ao desassossegado, ao necessitado de qualquer jaez, sem esperar encômio algum.
O seu é o prazer de servir. E comparece ao serviço, com o coração em festa, honrado com a chance de servir, em nome do Cristo. Ora e se entrega, tornando-se dínamo de luz, dilatando as próprias condições, secundado pelos Espíritos encarregados da atividade.
Aplicadores de passe, sirvamos!
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
RESPONSABILIDADE ESPIRITUAL[1]
Joanna de Ângelis
Toda e qualquer atividade que se assume converte-se num dever que exige responsabilidade.
A existência física é portadora de múltiplos programas educativos que contribuem para o desenvolvimento intelecto-moral do Espírito.
A reencarnação, por isso mesmo, é sublime oportunidade para reparação de erros, correção de irregularidades, reabilitação moral. De acordo com a gravidade de cada ocorrência, há uma pauta específica de reequilíbrio lúcido, disciplinador e próprio para a felicidade.
Nesse capítulo, as dores e problemas de vária ordem constituem o processo terapêutico para a cura real, portanto, na origem do mal praticado. No entanto, a finalidade dos renascimentos não tem caráter punitivo, o que significaria um castigo à ignorância, pela qual se atravessa na sucessão dos acontecimentos.
A aflição defluente do sofrimento é o desconforto que se experimenta, chamando a atenção à ordem, à disciplina, ao dever.
Tudo evolve.
O ser humano, superando as fases iniciais das necessidades básicas, alcança os patamares da inteligência, da emoção, do discernimento.
Nesse período, todas as ações fazem parte do processo de futura iluminação, dando lugar às experiências da solidariedade, do amor e da lídima fraternidade. Em consequência, os atos produzem ressonância de onda equivalente, que promovem os valores inatos ou que perturbam as aspirações de plenitude.
Surgem as provas, os testemunhos, os necessários corretivos aos erros e as expiações, com caráter severo e restritivo à movimentação.
Como a lei de amor é soberana, predomina no universo, favorece a conquista da paz, mediante a resignação durante a difícil aprendizagem evolutiva.
Utilizando-se das suas diretrizes afetuosas, reabilita o infrator, burila-lhe as imperfeições, emula-o ao avanço espiritual, sublima os instintos primários, enquanto aumentam as aspirações de paz e de bem-estar.
Alteram-se os focos existenciais, nos quais o primitivismo cede lugar ao aperfeiçoamento moral.
Servir, pois, é a meta da existência humana, desde o momento em que se lhe detecta a finalidade imortalista.
Engajando-se no objetivo de viver-se com alegria e bem-estar, mesmo por ocasião das situações menos joviais, deve ser o comportamento ético de todo aquele que encontrou Jesus, o exemplo máximo de perfeição na Terra.
Esse despertar da divina essência interna constitui razão básica para a existência feliz, aumentando a responsabilidade do candidato à plenitude.
Não são impostos sacrifícios ou holocaustos, que podem ocorrer por necessidades especiais.
O cumprimento reto dos deveres de cidadania, de família, de consciência, contribui para a aquisição da responsabilidade espiritual.
*
Fascinado pela possibilidade de um mundo melhor e por uma sociedade justa e próspera, encontras, no Espiritismo, campo vasto a joeirar, a fim de prepará-lo para ensementar o amor.
Assumes compromissos com entusiasmo; dedica-te, por algum tempo e, depois, experimentas tédio ou desencanto.
Por que será? - interrogas.
Por falta de motivação, de afeto. Necessário se torna que te mantenhas entusiasmado, em tudo quanto fazes. Coloca um toque de alegria nas tuas atividades e reflexiona no significado das tuas ações.
Não permitas que o automatismo te conduza ao trabalho, que te induzirá à inércia ou à indiferença, pelo que realizas.
O teu próximo precisa de ti, reencarnado ou não. Ele conta contigo, com a tua solidariedade, a tua assistência fraternal.
Ama-o, conscientemente, o que fará um grande bem.
Atividades espirituais multiplicam-se à espera de dedicação.
Reuniões mediúnicas sérias exigem participantes conscientes e responsáveis, para a sua execução.
Atendimento fraterno abre as portas do sentimento alheio à iluminação e à libertação de consciências.
A terapia dos passes aguarda comportamentos nobres e compadecidos, para o socorro oportuno à aflição.
Divulgação doutrinária é indispensável, dentro de padrões especiais, para esclarecer e tocar os ouvintes que precisam encontrar o roteiro, para a existência ativa e saudável.
Todos eles e outros mais serviços espirituais aguardam responsabilidade, consciência de dever.
O passe evoca Jesus, atendendo as multidões e curando-as.
Se eleges a aplicação da bioenergia, torna-te digno de exercê-la, não apenas com a conduta moral e mental saudável, mas também, com o sentimento de dever bem desenvolvido.
Não atues, esporadicamente, como alguém descomprometido com a caridade fraternal.
Quando te candidataste, Espíritos guias interessaram-se em ajudar-te. Se perseveras com responsabilidade, eles ampliam os teus recursos terapêuticos e utilizam-se, com amor e ternura. Se não cumpres o programa estabelecido, afastas-te do seu auxílio e ficas à mercê de outros, frívolos e levianos...
O passe é veículo das energias do Céu, para apaziguar as dores terrestres.
Não te esqueças.
*
Quando Jesus enviou os Setenta da Galileia, para que lhe preparassem o caminho concedeu-lhes a faculdade de curar, de afastar os Espíritos perversos e de enfrentar as dificuldades sob a Sua proteção.
E, assim, aconteceu.
Hoje, Ele te chama, para que prossigas auxiliando o teu próximo, e confia em ti; faculta-te o valioso recurso do passe.
[1] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 28 de dezembro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.
sábado, 13 de agosto de 2016
“LICANTROPIA”. Quando nos tornamos “FERAS” [1]
Marcos Paterra [2]
Dentro da doutrina espírita, muitas vezes nos deparamos com livros ou comentários a respeito de espíritos que se transformam em seres horríveis, alguns com aspecto de animais outros de monstros.
Esse artigo visa esclarecer um pouco sobre esses seres enfatizando a “LICANTROPIA” cuja procedência do nome vem do grego “Lykanthropia” = (lykos, lobo; anthropus, homem), ou seja, “Lobisomem”; e não é apenas uma exclusividade do ou no espiritismo essa “transformação”, na Grécia antiga já se ouviam diversas estórias sobre “Licáon” [3] o qual tinha convidado Zeus para jantar, mas para ter certeza que aquele era Zeus e testar seus poderes ofereceu carne humana na refeição.
Ofendido, Zeus matou os filhos de Licáon e o transformou em lobo. Por esse mesmo motivo os lobisomens seriam chamados de licantropos, por causa do nome de Licáon; outro mito interessante surgiu na França, onde dizem que os lobisomens são seres que existem desde a criação, seres malignos que conseguiram inclusive sobreviver ao dilúvio... Passagens bíblicas também relatam a transformação em lobo, como foi o caso do Rei Nabucodonosor [4] que foi castigado a vagar em forma de lobo por Deus [5].
Mudando o foco, a medicina encontrou casos e definiu como: Hipertricose [6], uma doença a qual pessoas com esta condição podem se parecer fisicamente com lobisomens, mas é algo extremamente raro.
Na psiquiatria a “Licantropia” é um distúrbio psiquiátrico, o qual acredita-se que exista um transtorno do senso de identidade própria. É encontrado principalmente em transtornos afetivos e esquizofrenia, mas pode ser encontrado em outras psicopatias.
Pode ser interpretado como uma tentativa de exprimir emoções suprimidas, especialmente de ordem agressiva ou sexual, através da figura do animal, ou seja, a licantropia é tão somente uma doença mental, um estado alucinógeno em que o paciente atacado acredita que está transformado em lobo.
No espiritismo a Licantropia é uma vertente da “Zoantropia”, a qual tem origem do latim (zoo= animal e anthropos= homem) e é o fenômeno em que espíritos desencarnados devotados ao mal se tornam visíveis aos homens sob formas de animais, demonstrando assim sua degradação tanto moral, quanto espiritual.
No caso da Licantropia a sua definição seria: Metamorfose perispirítica, processada através de indução hipnótica, do desencarnado inferiorizado em suas culpas, que ganha a forma e passa a agir como um lobo; nessa mesma linha de pensamentos e transformações encontramos a cinantropia que é uma espécie da zoantropia onde o fenômeno em questão é igual a da Licantropia, mas o animal em que a pessoa se transforma é semelhante a um cachorro. Não constam muitos dados na literatura sobre o assunto.
André Luiz, no livro Libertação [7] no capitulo “Operações seletivas”, narra a visita de André Luiz e Gúbio a um edifício onde ocorriam julgamentos e conta a história de uma mulher que, diante dos juízes, confessou que matou quatro filhos ainda pequenos e contratou o assassinato do marido, entregando-se depois às “bebidas de prazer”, todavia nunca pôde fugir da própria consciência. O juiz então fixou sobre ela as irradiações que lhe emanavam do temível olhar, e disse que a sentença foi lavrada por ela mesma e que ela não passava de uma loba. Conforme a afirmação era repetida, a mulher, profundamente influenciável, passou a se modificar, chegando ao resultado final da licantropia. André Luiz constatou, naquela exibição de poder, o efeito do hipnotismo sobre o períspirito. Conforme elucidações espirituais, ela não passaria por essa humilhação se não a merecesse.
Na Obra “Diálogo com as sombras” [8], de Hermínio C. Miranda, é narrado o caso de um médium que se apresentou incorporado de um Espírito que não conseguia dizer nenhuma palavra e como estava totalmente animalizado, somente sabia rosnar e queria morder o Orientador. Mantinha as mãos fechadas como se fossem patas.
Carlos Torres Pastorino em sua obra “Técnica da Mediunidade” [9], no Cap. “Localizações” no tópico nº1, nos informa de uma dimensão com a seguinte descrição:
“[...] Região de horror e escuridão, onde permanecem todos os que ainda são escravos de paixões violentas e desordenadas. Aí reina fero animalismo, de tal forma que, por vezes, o espírito desencarnado assume formas de animais (licantropia) causadas pela própria mente da criatura embrutecida ou hipnotizada por “elementos perversos”. Era isso que ensinavam os mestres antigos, quando diziam que os encarnados que se degradavam em vícios, tomavam formas de animais. Os discípulos pensavam que era na próxima encarnação. Na realidade, era no mundo astral, após o desencarne. Tudo isso, porém, que ai se passa, não é “castigo”, mas puro efeito das causas que cada um põe em movimento durante a permanência na matéria”.
Na Obra “Nos domínios da mediunidade” [10] no Cap. 23 o instrutor Gúbio explica: “Muitos espíritos, pervertidos no crime, abusam dos poderes da inteligência, fazendo pesar tigrina crueldade sobre quantos ainda sintonizam com eles pelos débitos do passado. A semelhantes vampiros devemos muitos quadros dolorosos da patologia mental nos manicômios, em que numerosos pacientes, sob intensiva ação hipnótica, imitam costumes, posições e atitudes de animais diversos”.
Martins Peralva, na obra “Estudando a Mediunidade” [11], nos esclarece sobre tratamento da licantropia:
“Solucionará o Espiritismo, através dos seus milhares de grupos mediúnicos e das dezenas de suas Casas de Saúde, todos os casos de Licantropia?
Responder afirmativamente seria rematada leviandade. Todavia, além de lhe ser possível equacionar alguns casos, menos entranhados no passado, levará ao coração de perseguidos e perseguidores a semente de luz do perdão, p
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