O local não era dos mais apropriados.
Salão de bailes, acolhia habitualmente homens e mulheres sedentos de fruir sensações mais fortes.
Aquela, porém, era uma noite especial. A freqüência denotava outro tipo de necessidade.
Era uma festa, todavia, espiritual.
Ela o percebera à entrada.
O movimento diversificava do habitual.
Em tribuna improvisada, junto a ampla mesa, na qual se encontravam personalidades do lugar, assomou um moço que explanou, por mais de uma hora, conceitos e lições a que não estava acostumada.
Sentiu-se atônita.
Buscara o prazer abrasador e sentia-se atendida por aragens refazentes. Não compreendera tudo, e, todavia, percebia-se invadida por desconhecida alegria...
Seguiu a fila de pessoas que se congratulavam com o jovem.
Integrou-se automaticamente.
No curto momento, no diálogo ligeiro, desnudou-se, emocionada.
- Sou vendedora de ilusões – falou sem retoques.
- Ouvindo a história da companheira de equívocos, tema central desta noite, sinto uma revolução diferente... Gostaria de conversar com o senhor, rogar-lhe ajuda, orientação...
- Conte com os nossos parcos recursos.
- Quando podemos fazê-lo?
- Hoje... Logo mais, porquanto amanhã já não me encontrarei aqui.
- A esta hora?
- Por que não?
- Onde?
- Na residência em que me hospedo.
- Não serei recebida ali... Todos sabem quem sou...
- Se ali não houver lugar para você, positivamente, também, não haverá para mim.
- Mas, eu sou...
- ... Uma irmã em busca de paz...
A conversação alongou-se, passando aquele momento, até à alva, no lar fraterno que os recebeu.
Concluída a entrevista, o evangelizador, orando, rogou ajuda para ela.
*
Vinte anos depois, em outro salão, agora num educandário, na mesma cidade, o expositor espírita encerrava outra conferência.
- O senhor não se recordará de mim!
- Realmente. - Eu sou a “vendedora de ilusões”, que há vinte anos o escutou nesta cidade...
“Encontrei Jesus naquela noite”...
E após reflexionar:
- No dia imediato abandonei o local em que me hospedava e transferi residência para uma rua modesta, dando novo rumo à existência.
- Louvado seja Deus!
- Não é tudo. Antigo companheiro informado da minha renovação buscou-me. Asseverou amar-me. Visitou-me com nobreza reiteradas vezes. Propôs-me matrimonio...
- Não exijo amor – expôs -, rogo-lhe respeito e consideração. Amar-me-á depois.
Enxugou a face lavada pelo pranto.
- Consorciamo-nos – prosseguiu. – Em face da impossibilidade de tornar-me mãe, resolvemos adotar uma criança cada dois anos, qual fosse nosso próprio filho. Já temos oito criaturas adoráveis em nosso lar... Venho agradecer-lhe a luz que acendeu no velador da minha alma.
- Agradeçamos ambos a Deus.
Apresentou o esposo e os dois “filhos” mais velhos entre sorrisos e partiu.
Orando em lágrimas, naquela noite, o expositor, reconhecido ao Pai, recordou o primeiro encontro de vinte anos atrás...
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