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quarta-feira, 13 de julho de 2016

A MESADA


O Mensageiro  -  Revista Espírita-Cristã do Terceiro Milênio 
Título :A Meada
Autor:Chico Xavier (médium)
Irmão X (espírito)

Data:01/08/2002
Fonte:Livro: Idéias e Ilustrações
MENSAGENS
     

A conversação entre as duas jovens senhoras se desenvolvia no ônibus.
- Você não pode imaginar o meu amor por ele...
- Não posso concordar com você.
- Decerto que não me entende.
- Mas, Dulce, você chega a querer o Dionísio, tanto quanto ao marido?
- Não tanto, mas não consigo passar sem os dois.
- Meu Deus!  Isso é coisa de casal sem filhos!...
- É possível...
- Você não acha isso estranho, inadmissível?
- Acho natural.
- Noto você demasiadamente apegada, não é justo...
- Sei que você não me compreende...
- Simplesmente não concordo.
- Mas Dionísio...
- Isso é uma psicose...
Dona Dulce e a amiga, no entanto, ignoravam que Dona Lequinha, vizinha de ambas, sentara-se perto e estava de ouvido atento, sem perder palavra.
De parada em parada, cada um volveu ao lar suburbano, mas Dona Lequinha, ao chegar em casa, começou a fantasiar...  Bem que notara Dona Dulce acompanhada por um moço ao tomar o elétrico, aliás, pessoa de cativante presença.  Recordava-lhe as palavras derradeiras: “vá tranqüila, amanhã telefonarei...”
Cabeça quente, vasculhando novidades no ar, aguardou o esposo, colega de serviço do marido de Dona Dulce, e tão logo à mesa, a sós com ele para o jantar, surgiu novo diálogo:
- Você não imagina o que vi hoje...
- Diga, mulher...
- Dona Dulce, calcule você!...  Dona Dulce, que sempre nos pareceu uma santa, está de aventuras...
- O que?...
- Vi com meus olhos... Um rapagão a seguia, mostrando gestos apaixonados e, por fim, no ônibus, ela própria se confessou a Dona Cecília...  Chegou a dizer que não consegue viver sem o marido e sem o outro...  Uma calamidade!...
- Ah!  Mas isso não fica assim, não!  Júlio é meu colega e Júlio vai saber!...
A conversa transitou através de comentários escusos e, no dia mediato, pela manhã, na oficina, o amigo ouve do amigo o desabafo em tom sigiloso...
- Júlio, você me entende...  Somos companheiros e não posso enganá-lo...  O que vou dizer representa um sacrifício para mim, mas falo para seu bem...  Seu nome é limpo demais para ser desrespeitado, como estou vendo...  Não posso ficar calado por mais tempo...  Sua mulher...
E o esposo escutou a denúncia, longamente cochichada, qual se lhe enterrassem afiada lâmina no peito.
Agradeceu, pálido...
Em seguida, pediu licença ao chefe para ir a casa, alegando um pretexto qualquer.  No fundo, porém, ansiava por um entendimento com a esposa, aconselhá-la, saber o que havia de certo.
Deixou o serviço, no rumo do lar e, aí chegando, penetrou a sala, agoniado...
Estacou, de improviso.
A companheira falava, despreocupadamente, ao telefone, no quarto de dormir: “Ah! Sim!...”, “Não há problema”, “Hoje mesmo”.“Às três horas...” “Meu marido não pode saber”.
Júlio retrocedeu, à maneira de cão espantado.  Sob enorme excitação, tornou à rua.  Logo após, notificou na oficina que se achava doente e pretendia medicar-se.  Retornou a casa e tentou o almoço, em companhia da mulher que, em vão, procurou fazê-lo sorrir.
Acabrunhado, voltou a perambular pelas vias públicas e, poucos minutos depois das três da tarde, entrou sutilmente no lar...  Aflito, mentalmente descontrolado, entreabriu devagarzinho a porta do quarto e viu, agora positivamente aterrado, um rapaz em mangas de camisa, a inclinar-se sobre o seu próprio leito.  De imaginação envenenada, concebeu a pior interpretação.
O pobre operário recuou em delírio e, à noite, foi encontrado morto num pequeno galpão dos fundos.  Enforcara-se em desespero...
Só então, ao choro de Dona Dulce, o mexerico foi destrinçado.
Dionísio era apenas o belo gatinho angorá que a desolada senhora criava com estimação imensa; o moço que a seguira até o ônibus era o veterinário, a cujos cuidados profissionais confiara ela o animal doente; o telefonema era baseado na encomenda que Dona Dulce fizera de um colchão de molas, ao gosto moderno, para uma afetuosa surpresa ao marido, e o rapaz que se achava no aposento íntimo do casal era, nem mais nem menos, o empregado da casa de móveis que viera ajustar o colchão referido ao leito de grandes proporções.
A tragédia, porém, estava consumada e Dona Lequinha, diante do suicida exposto à visitação, comentou, baixinho, para a amiga de lado:
- Que homem precipitado!...  Morrer por uma bobagem!  A gente fala certas coisas, só por falar!..

Do mal que se pensa e diz,
Cala as noticias que levas.
Conversação infeliz
É pasto à força das trevas.
Lulu Parola

Olhar de alguém, quando é bom,
Além da sombra se apruma,
Vê serviço em qualquer parte,
Não vê mal em parte alguma.
Augusto de Oliveira.

Não basta que sua boca esteja perfumada.  É imprescindível que permaneça incapaz de ferir.
André Luiz
      

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