Tradutor

sexta-feira, 29 de julho de 2016

UM DESASTRE


Um Desastre

Duarte Nunes enriquecera. Duas grandes farmácias, muito bem dirigidas, eram para eles duas galinhas de ovos de ouro. Dono do próprio tempo, não sabia usá-lo da maneira mais nobre e, por isso, estimava nas grandes emoções suas grandes fugas.
Corridas de cavalos, corridas de automóveis, concursos de lanchas..
Entusiasta de todos os esportes. Gastador renitente.
Apesar disso, era bom esposo e bom pai. De vez em vez, levava os filhinhos, Marilene e Murilo, às brigas de galos. O belo casal de garotos, porém, não gostava. Marilene voltava o rosto para não ver, e Murilo forte petiz de quatro anos, chorava desapontado.
– Poltrão! – dizia o pai, com adocicada ironia. E colocava os dois no carro para longo passeio. A esposa, muitas vezes presente, rogava aflita; “Nunes mais devagar.” Ele porém, sorria, sarcástico, e dava largas ao freio. Sessenta, oitenta quilômetros..
Noutra circunstância, era Elmo Bruno, o amigo inseparável, que advertia, quando o carro de luxo parecia comer o chão;
– Não corra assim tanto.. Olhe os pedestres!
– Que tenho eu lá com isso?
E Bruno explicava;
– Há pessoas distraídas, e crianças inconscientes. Nem sempre conseguem, de pronto, ver os sinais…
Duarte encerrava o capítulo, acrescentando;
– Rodas foram feitas para rodar. E depressa.
De outras vezes, era o próprio pai dele a aconselhá-lo, enquanto o veículo parecia voar;
– Meu filho é preciso prudência.. O volante pede calma.. Penso que além dos quarenta quilômetros, tudo é caminho para desastre..
Frioleiras, papai – respondia Nunes, bem humorada, agravando o problema.
Sempre que exortado, corria mais.
   II
– Meninos de apartamento, aves engaioladas! – dizia a mamãe Duarte Nunes, abraçando os netos!
– Então – disse o pai, sorrindo – preferem vovó?
– Sim, sim…
Decorridos minutos, saem todos na manhã domingueira.
Dona Branca desce com a nora, amparando as crianças, ao pé da própria casa a pleno sol de Ipanema e declara;
Nossos pássaros prisioneiros querem hoje a largueza da praia. Vamos respirar…   Riram-se todos.
E o auto, conduzindo Nunes e Elmo, saiu em disparada.
Mais tarde,  Petrópolis.
Amigos improvisavam corridas de bicicletas. Bandeirinhas. Anotações. Relógios em massa. Homens magros, pedalando, ansiosos e, por fim, o ágape em hotel serrano, sob árvores faralhudas.
Ao virar da tarde, o regresso.
Todo o Rio inda vibra de sol.
– Porque não buscar, primeiro, a cerveja pura em copacabana? – perguntou Nunes, contente.
O carro devora o asfalto.
– Devagar, devagar… – pede o amigo.
Depois da cerveja, o retorno a casa. nunes inicia a marcha, como quem decola.
– Devagar, devagar… roga o companheiro.
Ele ri. Desatende. A poucos minutos, ambos vêem um pequeno em maiô. Está só. Agita-se. e corre de través procurando o outro lado. Nunes tenta frear, mas é tarde.  Atropela o garoto que tomba qual pluma ao vento.
Populares gritando. O menino estendido na rua é um pássaro que agoniza.
Sangue, muito sangue. Nunes aflige-se.Elmo volta e vê. Ergue a criança, espantado, e caminha no rumo dele.
– Seja quem for – grita Nunes -, leve à nossa farmácia…Toda a despesa gratuita…
Todavia, o amigo, boquiaberto, apresenta-lhe o menino morto e exclama;
– Nunes, este menino é…
– É quem? diga logo – falou Nunes, impaciente.
Mas não precisou de maiores minúcias, porque Elmo, traumatizado, disse-lhe apenas;
– É seu filho.
Pense Nisso!
Do Livro Contos Desta e Doutra Vida.

Glória Espiritual

Quando o diamante já talhado se abeirou da pedra preciosa, saída de serro áspero, clamou irritadiço:
Que coisa informe! rugosidade por todos os lados!… que farei de semelhante aborto da Natureza?
E roçou, com superioridade, sobre a pedra bruta.
A pobrezinha mal saída do solo em que dormitara por milênios, sentindo-se melindrada, tentou reclamar; entretanto, ao observar o clivador, cheio de esperança na utilidade que ela podia oferecer, calou-se.
Findo o dia, o operário recebeu o salário que lhe competia e contemplou-a, tomado de gratidão.
A pedra, intimamente compensada, esperou.
No dia seguinte, veio o martelo cônico e, desapiedado, riu-se dela exclamando:
– Nariz de rochedo, quem teria o mau gosto de aperfeiçoar-te? porque a infelicidade de entrar em comunhão contigo, seixo maldito?
O cristal sofredor ia revidar, mas vendo que o trabalhador, que mobilizaria a ferramenta contra ele, o mirava com enternecimento, preferiu silenciar, entregando-se a nova operação de lapidagem.
Sabendo em seguida, que o operário obtinha, feliz, substanciosa paga, reconheceu-se igualmente enriquecido.
Mais tarde apareceu, o pó de diamante, que gritou irônico:
– Porque a humilhação de trabalhar essa pedra amarelada e baça? Quem teria descoberto esse calhau feio e desvalioso?
A pedra ia responder, protestando: contudo; reparou que o lapidário a fixava com respeito, denotando entender-lhe a nobreza interior, e, em homenagem áquele silencioso admirador de sua beleza, emudeceu e deixou-se torturar.
Quando o lapidador recolheu o pagamento que lhe cabia, deu-se por ela bem remunerada.
Logo após chegou a mó de polir, que falou, mordaz:
– Esta velha cristalização de carbono é indigna de qualquer tratamento…Que poderá resultar dela? porque perder tempo com este aleijão da mina?
A pedra propunha aclarar a situação; contudo, notando a jubilosa expectativa do artíficie, que lhe identificara a grandeza, aquietou-se, obediente, e suportou com calma todos os insultos que lhe foram desferidos sobre as faces, até que o próprio polidor a acariciou, venturosamente.
Sem perceber-lhe o valor, o diamante talhado, o martelo, o pó de diamante e a mó viram-na sair, colada ao coração do operário, em triunfo, permanecendo espantados e ignorantes, na sombra de suja caverna de lapidação em que a presença deles tinha razão de ser.
Passados alguns dias, a pedra convertida em soberbo brilhante foi engastada no cetro do governador do seu país natal, passando a viver, querida e abençoada, sob a veneração de todos.
Se encontraste no mundo criaturas que se fizeram diamante descaridoso, martelo impiedoso, pó irônico,ou mó sarcastica sobre o teu coração, suporta-as com paciência, por amor daqueles que caminham contigo, e espera, sem desânimo, porque, um dia, transformada a tua alma em celeste clarão, virás à furna terrestre agradecer-lhes as exigências e os infortúnios com que te alçaram à glória  celestial.
Trecho do Livro Contos Desta e Doutra Vida

Luz Espiritual

Entre os comentários da noite, um dos companheiros mostrou-se interessado em conhecer a questão mais difícil de resolver, nos serviços referentes à procura da luz Divina.
Em que setor da luta espiritual se colocaria o mais complicado problema? Depois de assinalar variadas considerações, ao redor do assunto, o Mestre fixou no semblante uma atitude profundamente compreensiva e contou;
– Um grande sábio possuía três filhos jovens, inteligentes e consagrados à sabedoria.
Em certa manhã, eles altercavam a propósito do obstáculo mais difícil de vencer no grande caminho da vida.
No auge da discussão, prevendo talvez consequências desagradáveis, o genitor benevolente chamou-os a si e confiou-lhes curiosa tarefa.
Iriam os três ao palácio do príncipe governante, conduzindo algumas dádivas que muito lhes honraria o espírito de cordialidade e gentileza.
O primeiro seria o portador de rico vaso de argila preciosa.
O segundo levaria uma corça rara.
O terceiro transportaria um bolo primoroso da família.
O trio fraterno recebeu a missão com entusiástica promessa de serviço para a pequena viagem de três milhas; no entanto, a meio do caminho, principiaram a discutir.
O depositário do vaso não concordou com a maneira pela qual o irmão puxava a corça delicada, e o responsável pelo animal dava instruções ao carregador do bolo, a fim de que não tropeçasse, perdendo o manjar; este último aconselhava o portador do vaso valioso, para que não  .
O pequeno séquito seguia, estrada afora, difícilmente, porquanto cada viajor permanecia atento a obrigações que diziam respeito aos outros, através de observações acaloradas e incessantes.
Em dado momento, o irmão que conduzia o animalzinho olvida a própria tarefa, a fim de consertar a posiçao da peça de argila nos braços do companheiro, e o vaso, premido pelas inquietações de ambos, escorrega, de súbito, para espatifar-se no cascalho poeirento.
Com o choque, o distraído orientador da corça perde o governo do animal, que foge espantado, abrigando-se em floresta próxima.
O carregador do bolo avança para sustar-lhe a fuga, internando-se pelo mato a dentro, e o conteúdo da prateada bandeja se perde totalmente no chão.
Desapontados e irritadiços, os três rapazes tornam à presença paterna, apresentando cada qual a sua queixa e a sua derrota.
O sábio porém sorriu e explicou-lhes:
-Aproveitem o ensinamento da estrada.
Se cada um de vocês estivesse vigilante na própria tarefa, não colheriam as sombras do fracasso. O mais intrincado problema do mundo, meus filhos, é o de cada homem cuidar dos próprios negócios, sem intrometer-se nas atividades alheias. Enquanto cogitamos de responsabilidades que competem aos outros, as nossas viverão esquecidas.
Jesus calou-se, pensativo, e uma prece de amor e reconhecimento completou a lição.
Neio Lúcio
Médium Francisco Cândido Xavier

Sigamos com Jesus

Maomé foi valoroso condutor de homens.
Milhões de pessoas curvaram-se-lhes às ordens.
Todavia, deixou o corpo como qualquer mortal e seus restos foram encerrados numa urna, que é visitada, anualmente, por milhares de curiosos e seguidores.
Carlos  V, poderoso imperador da Espanha, sonhou com o domínio de toda a Terra, dispôs de riquezas imensas, governou muitas regiões; entretanto, entregou, um dia, a coroa e o manto ao asilo de pó.
Napoleão era um grande homem.
Fez muitas guerras.
Dominou milhões de criaturas.
Deixou o nome inesquecível no livro das nações.
Hoje, porém, seu túmulo é venerado em Paris.
Muita gente faz peregrinação até lá, para visitar-lhes os ossos…
Como acontece a Maomé, a Carlos V e a Napoleão, os maiores heróis do mundo são lembrados em monumentos que lhes guardam os despojos.
Com Jesus, todavia, é diferente.
No túmulo de Nosso Senhor, não há sinal de cinzas humanas.
Nem pedrarias, nem mármores de preço, com frases que indiquem, ali, a presença da carne e do sangue.
Quando os apóstolos visitaram o sepulcro, na gloriosa manhã da ressureição, não havia aí nem luto, nem tristeza.
Lá encontraram um mensageiro do reino espiritual que lhes afirmou:
“Não está aqui”.
E o túmulo está aberto e vazio, há quase dois mil anos.
Seguindo, pois, com Jesus, através da luta de cada dia, jamais encontraremos a angústia da morte e, sim, a vida incessante.
No caminho de notáveis orientadores do mundo poderemos encontrar formosos espetáculos da glória passageira; contudo, é muito difícel não terminar-mos a experiência em desilusão e poeira.
Somente Jesus oferece estrada invariável para  a Ressureição Divina.
Quem se desenvolve, portanto, com o exemplo e com a palavra do Mestre, trabalhando por revelar bondade e luz, em si mesmo, desde as lutas e ensinamentos do mundo, pode ser considerado cidadão celeste.
Trecho do livro Alvorada Cristão



Riqueza Espiritual

Em plena conversação edificante, Sara , a esposa de Benjamim, o criador de cabras, ouvindo comentários do Mestre, nos doces entendimentos do lar de cafarnaum, perguntou , de olhos fascinados pelas revelações novas:
– A idéia do Reino de Deus, em nossas vidas, é realmente sublime; todavia, como iniciar-se nela? Temos ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa Nova
aconselha acima de tudo, o amor e o perdão…Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como sendo propriedade minha.
A dama confessava-se com semplicidade, não obstante o sorriso desapontado de quem encontra obstáculos quase invencíveis.
– Para isso – comentou  Pedro -, é indispensável a boa-vontade.
– Com a fé em nosso Pai Celestial – aventurou a esposa de Simão -, atravessaremos os tropeços mais duros.
Em todos os presentes transparecia ansiosa expectativa quanto ao pronunciamento do Senhor, que falou, em seguida a longo silêncio;
-Sara qual o serviço fundamental de tua casa?
– É a criação de cabras – redarguiu a interpelada, curiosa.
– Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?
– Senhor antes de qualquer providência, é imprescindivel lavar, cautelosamente, o vaso em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.
Jesus sorriu e explanou:
– Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderiamos recolher. Em verdade, Moisés e os profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do Povo Escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do Espírito para recebê-las. É por isto que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas ai se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará então, o vinagre da incompeensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.
A pequena assembleia, na sala de Pedro, recebia a lição sublime e singela, comovidamente, sem qualquer interferência verbal.
O Mestre, porém, levantando-se com discrição e humildade, afagou os cabelos da senhora que o interpelara e conclui generoso:
O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas na poeira da estrada é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da natureza.
Neio Lúcio
Médium Francisco Cândido Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário