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quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Federação Espírita Brasileira
Federação Espírita Brasileira
Estudo Sistematizado da
Doutrina Espírita
Programa Fundamental Tomo I
4
ISBN 978-85-7328-514-7
B.N. 406.491
2a
edição – 9a
Reimpressão – Do 107o
ao 109o
milheiro
000.3-O; 6/2012
Responsável pela organização: CECÍLIA ROCHA
Capa e projeto gráfico: FATIMA AGRA
Copyright 2007 by
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
(Casa-Máter do Espiritismo)
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70830-030 – Brasília (DF) – Brasil
Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao público e exploração
econômica desta obra estão reservados única e exclusivamente para a Federação
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de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, digital, fotocópia, microfilme,
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
E85
2.ed.
v. 1
Estudo sistematizado da Doutrina Espírita: programa fundamental, v. 1 / organizado
pela Área de Estudo Doutrinário da Federação Espírita Brasileira; responsável: Cecília
Rocha. – 2a. ed. – 9a reimpressão – Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012
336p.; 25cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7328-514-7
1. Espiritismo – Estudo e ensino. 2. Espíritas – Educação. I. Rocha, Cecília, 1919-
.II. Federação Espírita Brasileira.
10-0906 CDD 133.9
CDU 133.7
01.03.10 09.03.10 017842
5
Apresentação
A Campanha do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita -
ESDE foi lançada, em Brasília-DF, na reunião anual do Conselho
Federativo Nacional de novembro de 1983, em atendimento às expectativas
do Movimento Espírita. Esta Campanha, efetivada na forma
de seis apostilas de estudo, representativas de níveis graduais e
seqüenciais de aprendizado doutrinário, utilizou a técnica do trabalho
em grupo como diretriz pedagógica. A sistematização do estudo
espírita buscou, por outro lado, apoio nas seguintes orientações de
Allan Kardec: “um curso regular de Espiritismo seria professado com
o fim de desenvolver os princípios da ciência e difundir o gosto pelos
estudos sérios [...]”. (*)
Ao avaliar os resultados positivos apresentados pelo Estudo
Sistematizado da Doutrina Espírita, ao longo dos anos, sobretudo
em relação ao trabalho de unificação do Movimento Espírita e à união
dos espíritas, percebemos que a aquisição do conhecimento doutrinário
deve seguir o método indicado pelo próprio Codificador, conforme
expressam estas suas palavras: “Acrescentemos que o estudo
de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito
numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com
utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e
animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não
sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente,
sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a
continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. [...]
O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá.
(*) Obras Póstumas: Projeto 1868.
6
[...] Quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente,
começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento
das idéias. (**)”
Mantendo-se fiel no propósito de difundir o Espiritismo em todos os seus
aspectos, com base nas obras da Codificação de Allan Kardec e no Evangelho de
Jesus Cristo, a Federação Espírita Brasileira disponibiliza ao Movimento Espírita
novo programa do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Trata-se de
um programa mais compacto, adequado às exigências da vida atual, cujos assuntos,
distribuídos objetivamente em dois níveis de aprendizado – Programa
Fundamental e Programa Complementar –, contém 27 módulos de estudo.
Em face do exposto, contamos com uma boa receptividade dos interessados
por este tipo de trabalho.
(**) O Livro dos Espíritos: Introdução, item 8.
7
Explicações Necessárias
O novo curso do Estudo Sistematizado da Doutrina EspíritaESDE
oferece uma visão panorâmica e doutrinária do Espiritismo,
fundamentada na ordem dos assuntos existentes em O Livro dos
Espíritos.
O objetivo fundamental deste Curso, como do anterior, é propiciar
condições para estudar o Espiritismo de forma séria, regular e
contínua, tendo como base as obras codificadas por Allan Kardec e
o Evangelho de Jesus, conforme os esclarecimentos prestados na apresentação.
O seu conteúdo doutrinário está distribuído em dois programas,
assim especificado:
Programa Fundamental – subdividido em dois tomos, cada um
contendo nove módulos de estudo.
Programa Complementar – constituído de um único tomo, também
com nove módulos de estudo.
A formatação pedagógica-doutrinária utiliza, em ambos os programas,
o sistema de módulos para agrupar assuntos semelhantes,
os quais são desenvolvidos em unidades básicas denominadas roteiros
de estudo.
A duração mínima prevista para a execução do Curso é de dois
anos letivos.
Cada roteiro de estudo deve, em princípio, ser desenvolvido
numa reunião semanal de 1 hora e 30 minutos.
Todos os roteiros contêm: a) uma página de rosto, onde estão
definidos o número e o nome do módulo, os objetivos específicos e
o conteúdo básico, norteador do assunto a ser desenvolvido em cada
reunião; b) um formulário de sugestões didáticas que indica como
aplicar e avaliar o assunto de forma dinâmica e diversificada; c) formulários
de subsídios, existentes em número variável segundo a com-
8
plexidade do assunto, redigidos em linguagem didática de acordo com os objetivos
específicos e o conteúdo básico do roteiro; d) formulário de referências
bibliográficas. Alguns roteiros contam também com anexos, glossários ou notas
de rodapé, bem como recomendações de atividades extraclasse.
Sugere-se que as reuniões semanais enfoquem, na medida do possível, o
trabalho em grupo, evitando a monotonia e o cansaço.
9
Sumário
Módulo I – Introdução ao Estudo do Espiritismo ..................... 11
Rot. 1 – O contexto histórico do século XIX na Europa ............. 12
Rot. 2 – Espiritismo ou Doutrina Espírita: conceito e objeto ..... 24
Rot. 3 – Tríplice aspecto da Doutrina Espírita ............................. 29
Rot. 4 – Pontos principais da Doutrina Espírita .......................... 36
Módulo II – A Codificação Espírita................................................. 41
Rot. 1 – Fenômenos mediúnicos que antecederam a Codificação:
Hydesville e mesas girantes ............................................. 42
Rot. 2 – Allan Kardec: o professor e o codificador ....................... 50
Rot. 3 – Metodologia e critérios utilizados na Codificação
Espírita .............................................................................. 67
Rot. 4 – Obras básicas .................................................................... 79
Módulo III – Deus .................................................................................. 95
Rot. 1 – Existência de Deus ........................................................... 96
Rot. 2 – Provas da existência de Deus ......................................... 102
Rot. 3 – Atributos da divindade .................................................. 108
Rot. 4 – A providência divina ...................................................... 116
Módulo IV – Existência e Sobrevivência do Espírito............. 123
Rot. 1 – Perispírito: conceito ....................................................... 124
Rot. 2 – Origem e natureza do Espírito ...................................... 130
Rot. 3 – Provas da existência e da sobrevivência do Espírito .... 145
Rot. 4 – Progressão dos Espíritos ................................................ 154
Módulo V – Comunicabilidade dos Espíritos ............................ 161
Rot. 1 – Influência dos Espíritos em nossos pensamentos e atos,
e nos acontecimentos da vida ........................................ 162
Rot. 2 – Mediunidade e médium ................................................ 168
Rot. 3 – Mediunidade com Jesus ................................................. 173
10
Módulo VI – Reencarnação ................................................................................. 179
Rot. 1 – Fundamentos e finalidades da reencarnação .................................. 180
Rot. 2 – Provas da reencarnação .................................................................... 190
Rot. 3 – Retorno à vida corporal: o planejamento reencarnatório .............. 200
Rot. 4 – Retorno à vida corporal: união da alma ao corpo ........................... 212
Rot. 5 – Retorno à vida corporal: a infância .................................................. 221
Rot. 6 – O esquecimento do passado: justificativas da sua necessidade ....... 228
Módulo VII – Pluralidade dos Mundos Habitados ..................................... 235
Rot. 1 – O fluido cósmico universal .............................................................. 236
Rot. 2 – Elementos gerais do universo: espírito e matéria ............................ 245
Rot. 3 – Formação dos mundos e dos seres vivos .......................................... 256
Rot. 4 – Os reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e hominal ........... 264
Rot. 5 – Diferentes categorias de mundos habitados .................................... 274
Rot. 6 – Encarnação nos diferentes mundos................................................. 281
Rot. 7 – A Terra: mundo de expiação e provas .............................................. 287
Módulo VIII – Lei Divina ou Natural .............................................................. 293
Rot. 1 – Lei natural: definição e caracteres .................................................... 294
Rot. 2 – O bem e o mal ................................................................................... 305
Módulo IX – Lei de Adoração ............................................................................. 313
Rot. 1 – Adoração: significado e objetivo ....................................................... 314
Rot. 2 – A prece: importância, eficácia e ação ............................................... 320
Rot. 3 – Evangelho no lar................................................................................ 328
MÓDULO I
Introdução ao Estudo do Espiritismo
OBJETIVO GERAL
Propiciar conhecimentos gerais sobre a
Doutrina Espírita
PROGRAMA FUNDAMENTAL
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 2
ROTEIRO 1 O contexto histórico do século XIX
na Europa
PROGRAMA FUNDAMENTAL MÓDULO I – Introdução ao Estudo do Espiritismo
Objetivo
específico
Conteúdo
básico
Identificar o contexto histórico do século XIX na Europa, por
ocasião do surgimento da Doutrina Espírita.
■ O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do
mundo, encaminhando todos os países para reformas úteis e preciosas
[...]. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23.
■ Esse século, por direito, pode ser chamado o século das revolu-
ções, porque nenhum – até agora – foi tão fértil em levantes,
insurreições, guerras civis, ora vitoriosas, ora esmagadas. Essas
revoluções têm como ponto comum o fato de serem quase todas
dirigidas contra a ordem estabelecida [...], quase todas feitas em
favor da liberdade, da democracia política ou social, da independência
ou unidade nacionais. René Rémond: O século 19 – Introdução.
■ No século XIX as [...] lições sagradas do Espiritismo iam ser
ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade,
repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos
os corações. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23.
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 3
Sugestões
didáticas
Introdução
■ Iniciar a reunião fazendo uma apresentação geral do tema,
por meio da técnica expositiva, destacando as idéias
introdutórias dos subsídios deste Roteiro. Utilizar projeções
ou cartazes.
Desenvolvimento
■ Pedir aos participantes que formem grupos para a realização
das seguintes atividades, tendo como base os subsídios:
Grupo 1 Leitura, comentários e resumo escrito do item 1.1–
A Revolução Francesa e as suas conseqüências.
Grupo 2 Leitura, comentários e resumo escrito do item 1.2 –
A Revolução Industrial e as suas repercussões.
Grupo 3 Leitura, comentários e resumo escrito do item 1.3 –
Manifestações artísticas e culturais do século XIX.
■ Solicitar aos relatores dos grupos que façam a leitura do resumo,
em plenária.
■ Destacar pontos fundamentais da apresentação dos relatores,
esclarecendo possíveis dúvidas.
Conclusão
■ Fazer o fechamento do assunto, destacando os principais pontos
constantes do item 1.4 dos subsídios (manifestações filosóficas,
políticas, religiosas, científicas e sociais do século XIX), os
quais tiveram o poder de influenciar as gerações posteriores.
Avaliação
O estudo será considerado satisfatório se os participantes demonstrarem
interesse e desenvolverem as tarefas com entusiasmo.
Técnica(s): Exposição; trabalho em pequenos grupos.
Recurso(s): Cartazes ou transparências; subsídios deste Roteiro;
lápis, papel.
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 4
Subsídios O século XIX representou uma dessas épocas em que fomos
especialmente abençoados pela bondade superior, a despeito de
todas as dificuldades assinaladas nesse período. Além das enormes
contribuições culturais recebidas, fomos imensamente distinguidos
pelo advento do Espiritismo, materializado no mundo
físico pelo trabalho inestimável do professor francês Hippolyte
Léon Denizard Rivail que, ao codificar a Doutrina Espírita, adotou
o pseudônimo de Allan Kardec.
Entretanto, é o século que dá início aos grandes movimentos
revolucionários europeus que derrubaram o absolutismo,
implantaram a economia liberal e extinguiram o antigo sistema
colonial, movimentos esses apoiados nas idéias renovadoras da
Filosofia e da Ciência, divulgadas no século XVIII por Espíritos
reformadores, denominados iluministas e enciclopedistas. Tais
idéias, de acordo com o Espírito Emmanuel, constituíram a base
para que fossem combatidos, no século XIX, os [...] erros da sociedade
e da política, fazendo soçobrar os princípios do direito divino,
em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos
encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis de
Voltaire [1694- 1778], Montesquieu [1689-1755], Rousseau [1712-
1778], D´Alembert [1717-1783], Diderot [1713-1784], Quesnay
[1694-1774]. Suas lições generosas repercutem na América do Norte,
como em todo o mundo. Entre cintilações do sentimento e do gênio,
foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regeneração
das coletividades terrestres 14. Enfatiza, ainda, Emmanuel
que [...] foi dos sacrifícios desses corações generosos que se fez a
fagulha divina do pensamento e da liberdade, substância de todas
as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos 14.
Os Estados Unidos foram a primeira nação a absorver efetivamente
o pensamento renovador dos iluministas. Assim é que,
após alguns incidentes com a metrópole – Grã-Bretanha –, os
americanos proclamam a sua independência política, em 4 de julho
de 1776, tendo sido organizada, posteriormente, a Constitui-
ção de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do futuro 15.
A independência americana repercutiu intensamente na
França, acendendo o [...] mais vivo entusiasmo no ânimo dos franceses,
humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do ex-
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 5
travagante reinado de Luís XV 16. Em conseqüência, desencadeou-se um poderoso
movimento revolucionário em 1789 – a Revolução Francesa –, considerada
o marco que separa a Idade Moderna da atual, a Contemporânea. Os sucessivos
progressos culturais em todos os campos do saber humano, desencadeados
pela Revolução Francesa, foram tão marcantes que o século XIX entrou para a
história como sendo o Século da Razão, assim como o século XVIII é denominado
o Século das Luzes.
No contexto da história da civilização ocidental européia [...] o século
XIX, tal como os historiadores o delimitam, ou seja, o período compreendido entre
o fim das guerras napoleônicas e o início do primeiro conflito mundial [...], é um
dos séculos mais complexos [...] 7
, marcado por um período de profundas transformações
político-sociais e econômicas, as quais tiveram o poder de influenciar
gerações posteriores.
1. O contexto histórico europeu do século XIX
1.1 A Revolução Francesa e as suas conseqüências
No apagar das luzes do século XVIII, a França, uma monarquia governada
por Luiz XVI, é ainda um país agrário, com industrialização incipiente. A
sociedade francesa está constituída de três grupos sociais básicos: o clero, a
nobreza e a burguesia. O clero, cognominado de Primeiro Estado, representava
2% da população total e era isento de impostos. Havia um grande desnível
entre o alto clero, de origem nobre e possuidor de grandes rendimentos originários
das rendas eclesiásticas, e o baixo clero, de origem plebéia, reduzido à
própria subsistência. A nobreza, conhecida como Segundo Estado, fazia parte
dos 2,5% de uma população de 23 milhões de habitantes. Não pagava impostos
e tinha acesso aos cargos públicos. Subdividia-se em alta nobreza, cujos rendimentos
provinham dos tributos senhoriais, das pensões reais e dos cargos na
corte; em nobreza rural, que possuía direitos de senhorio e de exploração agrí-
cola, e em nobreza burocrática, de origem burguesa, que ocupava os altos postos
administrativos. Cerca de 95% da população – que incluia desde ricos comerciantes
até camponeses – formavam o Terceiro Estado, que englobava a
burguesia (fabricantes, banqueiros, comerciantes, advogados, médicos), os
artesãos, o proletariado industrial e os camponeses. Os burgueses tinham poder
econômico, devido, principalmente, às atividades industriais e financeiras.
No entanto, igualada ao povo, a burguesia não tinha direito de participação
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 6
política nem de ascensão social. Foi essa situação que desencadeou uma série de
conflitos, que culminaram com a Revolução Francesa, de 14 de julho de 1789 3
.
A despeito dos inegáveis benefícios sociais e políticos produzidos pela Revolução
Francesa, entre eles a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
seguiram-se anos de terror, que favoreceram o golpe de estado executado por
Napoleão Bonaparte, no final do século XVIII. Os sublimes ideais da Revolução
Francesa foram desvirtuados, em razão do abuso do poder exercido por aqueles
que assumiram o governo do país. Segundo Emmanuel, naqueles anos de terror, a
[...] França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa torrente de desatinos.
Com a influência inglesa, organiza-se a primeira coligação européia contra o
nobre país [França]. [...] Também no mundo espiritual reúnem-se os gênios da
latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a sua proteção e misericórdia para a
grande nação transviada. Aquela que fora a corajosa e singela filha de Domrémy
[Joanna D´Arc] volta ao ambiente da antiga pátria, à frente de grandes exércitos de
Espíritos consoladores, confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. Numerosas
caravanas de seres flagelados, fora do cárcere material, são por ela conduzidos
às plagas da América, para as reencarnações regeneradoras, de paz e de liberdade 17.
Entre o final do século XVIII e o início do século XIX (1799 a 1815), a
política européia está centrada na figura carismática de Napoleão Bonaparte,
um dos grandes chefes militares da História, administrador talentoso, que, entre
outras reformas civis, promulga uma nova Constituição; reestrutura o aparelho
burocrático; cria o ensino controlado pelo Estado (ensino público); declara leigo
o Estado, separando-o, assim, da religião; promulga o Código Napoleônico –
que garante a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade
privada, o divórcio – e adota o primeiro Código Comercial 3.
No que diz respeito às ações deste imperador francês, lembra-nos
Emmanuel que [...] as atividades de Napoleão pouco se aproximaram das idéias
generosas que haviam conduzido o povo francês à revolução. Sua história está
igualmente cheia de traços brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personalidade
de general manteve-se oscilante entre as forças do mal e do bem. Com as suas
vitórias, garantia a integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no
seio de outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Código Civil,
estabelecendo as mais belas fórmulas do direito, mas difundiam-se a pilhagem e o
insulto à sagrada emancipação de outros, com o movimento dos seus exércitos na
absorção e anexação de vários povos. Sua fronte de soldado pode ficar laureada,
para o mundo, de tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto,
embora traído em suas próprias forças [...] 18.
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 7
Após Napoleão, a França passa por um novo período de transformações
históricas, uma vez que [...] vários princípios liberais da Revolução foram adotados,
tais como a igualdade dos cidadãos perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecendo-se,
a par de todas as conquistas políticas e sociais, um regime de responsabilidade
individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A própria Igreja,
habituada a todas as arbitrariedades na sua feição dogmática, reconheceu a limita-
ção dos seus poderes junto das massas, resignando-se com a nova situação 19.
O movimento democrático na França mistura política e literatura. Assim,
numerosos escritores se engajam na luta política e social, através de suas obras e
ação. Desse modo, Lamartine e Víctor Hugo são eleitos deputados, tornando-se
o próprio Lamartine – que muito contribuiu para o advento da República –
chefe do governo provisório. Muitos desses escritores, como Zola, militam na
causa republicana ou socialista 8.
Sob o regime da Restauração, as questões mais importantes são as de ordem
política: o partido liberal exige a aplicação da Carta (Constituição) e um
alargamento da liberdade que ela garante. Os liberais, como Stendhal e PaulLouis
Courier, são anticlericais. Chateaubriand torna-se liberal, e prevê o advento
da Democracia 9
.
1.2 A Revolução Industrial e as suas repercussões
Outra revolução, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, a Revolução
Industrial, acarretou profundas transformações na sociedade, modificando
a feição das relações humanas dentro e fora dos países. Serviu de alavanca
para o progresso tecnológico que presenciamos nos dias atuais, pela invenção de
máquinas e de equipamentos cada vez mais sofisticados. Propiciou o desenvolvimento
das relações internacionais, em especial nas áreas econômicas, comerciais
e políticas, transformando o mundo numa aldeia global. Conduziu à urbanização
de ajuntamentos humanos e à construção de modernos cercamentos
(propriedades rurais). Desenvolveu a rede de comunicações de curta e de longa
distância, principalmente pelo emprego inteligente da energia elétrica e da eletrônica.
Ampliou os meios de transportes, em especial o marítimo e o aéreo.
Favoreceu as pesquisas médico-sanitárias voltadas para o controle das doenças
epidêmicas, resultando no aumento das faixas da sobrevida humana 4.
A Revolução Industrial, no entanto, produziu igualmente várias distorções
e malefícios, de certa forma esperados, se se considerar o relativo atraso moral
da nossa Humanidade. Os principais desequilíbrios produzidos pela Revolução
Industrial são, essencialmente, decorrentes das relações trabalhistas, infelizmente
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 8
caracterizadas pela exploração do trabalho e pelas deficientes condições de segurança
e higiene laborais, ocorridas em gradações diversas 4
.
É oportuno considerar que os ideais da Revolução Francesa e os princípios
da Revolução Industrial se espalharam, como um rastilho de pólvora, por todo o
continente europeu, estimulando revoluções liberais, que incitavam a burguesia
e os trabalhadores a ações contra o poder constituído. A Europa do século XIX
assemelha-se a um caldeirão em constante ebulição, afetando o cotidiano das
pessoas, em decorrência das contínuas mudanças no campo das idéias, na organização
das instituições, na definição das formas de governo, e em virtude dos
embates político-sociais, das conquistas científicas e tecnológicas, das planifica-
ções educativas, dos questionamentos religiosos e filosóficos.
1.3 Manifestações artísticas e culturais do século XIX
As atividades artísticas e culturais do século XIX revelam uma preferência
predominantemente romântica. O romantismo influencia as idéias políticas e
sociais abraçadas pela burguesia revolucionária da primeira metade do século,
associando as manifestações românticas aos ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade. A inspiração do artista romântico era buscada junto das pessoas
simples, numa manifestação antielitista e antiaristocrática. Pesquisava-se a cultura
popular e o folclore para a produção de pinturas, esculturas e peças musicais.
As obras românticas de caráter épico destacam o heroísmo. O ideário artístico
estava diretamente relacionado à realidade das lutas políticas e sociais da
época: os sacrifícios da população, o sangue derramado nas batalhas e até as
dificuldades encontradas nas disputas amorosas 5
.
No que diz respeito à produção literária, sobressai, na Alemanha, o poeta
Göethe (1749-1832), que, em Fausto – uma de suas mais importantes obras –,
enaltece a liberdade individual, tema repetido em seus demais trabalhos 5
.
Na França, destaca-se a figura de Víctor Hugo, que ocupa lugar excepcional
na história das letras francesas. Grande parte de sua obra é popular pelas
idéias sociais que difunde, e pelos sentimentos humanos, nobres e simples que
ela canta. No livro Napoleão, o Pequeno, Víctor Hugo critica o governo de
Napoleão III. Em Os Miseráveis, denuncia, como ninguém até então fizera, o
estado de penúria dos pobres 13.
As artes plásticas, inspiradas no classicismo greco-romano, têm como exemplos
mais importantes o Arco do Triunfo e as colunas existentes em Paris,
construídas por ordem de Napoleão Bonaparte. Jacques-Louis David (1746-1828)
legou à posteridade famoso quadro sobre o assassinato de Jean-Paul Marat, um
dos líderes da Revolução Francesa.
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
1 9
O pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) – líder do movimento
romântico na pintura francesa – retrata no quadro A Liberdade uma mulher
que, segurando a bandeira tricolor francesa, guia o povo nas dramáticas jornadas
revolucionárias 5
.
No campo das composições musicais ocorre uma reviravolta. O virtuosismo
do século anterior é substituído por interpretações musicais de forte colorido emocional.
A música para os românticos não era só uma obra de arte, mas um meio de
comunicação com o estado de alma. Os grandes compositores românticos captam
e executam peças musicais que destacam o momento político. Um dos compositores
que demonstra de forma notável essa relação é Richard Wagner (1813-1883).
A composição musical Lohengrin revela a forte influência dos socialistas utópicos e
dos revolucionários da época. Beethoven (1770-1827) homenageia Napoleão
Bonaparte em sua Nona Sinfonia. A Rapsódia Húngara, de Liszt (1811-1886), e as
Polonaises, de Chopin (1810-1849), são verdadeiros panfletos de manifestações
nacionalistas. O nacionalismo, na produção das óperas de Rossini (1792-1868),
Bellini (1801-1835) e Verdi (1813-1901), transmite um apelo pungente à unifica-
ção da Itália. O surgimento dessa forma de ópera determina a passagem da música
de câmara para a música dos grandes teatros, onde um grande número de pessoas
poderia ter acesso aos espetáculos artísticos 5
.
Ao idealismo romântico contrapõe-se o Realismo, que professa o respeito
pelos fatos materiais, e estuda o homem segundo o seu comportamento e em seu
meio, à luz das teorias sociais ou fisiológicas. Escritores realistas como Stendhal,
Balzac, Flaubert, e naturalistas como Zola, escreveram romances com pretensões
científicas. Zola imita o método científico experimental do biólogo Claude
Bernard 10, 12.
Na segunda metade do século XIX, a pintura européia passa por uma verdadeira
transformação, desencadeada pelo movimento chamado Impressionismo.
Os pintores impressionistas procuram captar o cotidiano da vida urbana e do
campo, buscando registrar nas telas as impressões dos efeitos da luz sobre a cena
desejada. Os pintores mais importantes desse movimento foram Édouard Manet
(1832-1883), Claude Monet (1840-1926), Renoir (1841-1920), Cézanne (1839
1906) e Degas (1834-1917) 5
.
1.4 Manifestações filosóficas, políticas, religiosas, sociais e científicas
do século XIX
Para Emmanuel, o [...] campo da Filosofia não escapou a essa torrente renovadora.
Aliando-se às ciências físicas, não toleraram as ciências da alma o ascen-
Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 1
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
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dente dos dogmas absurdos da Igreja. As confissões cristãs, atormentadas e divididas,
viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem aquela
fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos do espírito de
seita. A Filosofia recolheu-se, então, no seu negativismo transcendente, aplicando às
suas manifestações os mesmos princípios da ciência racional e materialista.
Schoupenhauer [1788-1860] é uma demonstração eloqüente do seu pessimismo e as
teorias de Spencer [1820-1903] e de Comte [1798-1857] esclarecem as nossas
assertivas, não obstante a sinceridade com que foram lançadas no vasto campo das
idéias 21. De acordo com o Positivismo de Auguste Comte, a humanidade ultrapassou
o estado teológico e o estado metafísico ao penetrar o estado positivo,
caracterizado pelo sucesso dos conhecimentos positivos, fundados numa certeza
racional e científica. Tais idéias conduzem aos exageros do cientificismo, em
que a fé na Ciência se torna a verdadeira fé. Acredita-se que ela vá resolver todos
os problemas, elucidar todos os mistérios do mundo; tornar inúteis a religião e a
metafísica. Este entusiasmo é revelado na conhecida obra literária de Renan:
L´Avenir de la Science (O Futuro da Ciência) 12.
Em relação às idéias anarquistas e às ideologias socialistas da sociedade da
época, essas concepções ainda repercutem nos dias atuais. O Anarquismo, como
sabemos, representa um conjunto de doutrinas que preconizam a organização
da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta. Considera o Estado
uma força coercitiva que impede os indivíduos de usufruir liberdade plena. A
concepção moderna de anarquismo nasce com a Revolução Industrial e com a
Revolução Francesa. Em fins do século XVIII, William Godwin (1756-1836) desenvolve
o pensamento anárquico, na obra Enquiry Concerning Political Justice.
No século XIX surgem duas correntes principais do Anarquismo, de ação
marcante na mentalidade dos povos. A primeira encabeçada pelo francês PierreJoseph
Proudhon (1809-1865), afirma que a sociedade deve estruturar sua produção
e seu consumo em pequenas associações baseadas no auxílio mútuo entre
as pessoas. Segundo essa teoria, as mudanças sociais são feitas com base na
fraternidade e na cooperação. O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) é um dos
principais pensadores da outra corrente, também chamada de Coletivismo. Defende
a utilização de meios mais violentos nos processos de transformação da
sociedade, e propõe a revolução universal sustentada pelos camponeses
(campesinato). Afirma que as reformas só podem ocorrer depois que o sistema
social existente for destruído. Os trabalhadores espanhóis e italianos são bastante
influenciados por Bakunin, mas o movimento anarquista nesses países é esmagado
pelo surgimento do Fascismo. O russo Peter Kropotkin (1842-1876) é
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considerado o sucessor de Bakunin. Sua tese é conhecida como anarco-comunista
e se fundamenta na abolição de todas as formas de governo, em favor de
uma sociedade comunista regulada pela cooperação mútua dos indivíduos, em
vez da oriunda das instituições governamentais. Essas idéias resultaram no surgimento
do Marxismo, que, de socialismo científico, transforma-se em crítico
do regime capitalista, tendo como base o materialismo histórico 8
. Assim, em
1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos alemães Karl Marx (1818-
1883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria a etapa
final da organização político-econômica humana. A sociedade viveria em um
coletivismo, sem divisão de classes e sem a presença de um Estado coercitivo.
Para chegar ao Comunismo, no entanto, os marxistas prevêem um estágio intermediário
de organização, o Socialismo, que instauraria uma ditadura do proletariado
para garantir a transição.
Esses movimentos políticos também confrontam as práticas religiosas
conduzidas pela Igreja Católica que, desviada dos princípios morais do estabelecimento
de um império espiritual no coração dos homens, aproxima-se em demasia
das necessidades políticas da nobreza reinante na Europa. Essa aproxima-
ção com o poder real trouxe conseqüências desastrosas, abrindo espaço a
discussões sobre o papel desempenhado pela Igreja em particular, e pela religião,
considerada como sinônimo de movimento religioso de igreja – católica ou reformada
–, equívoco que ainda norteia o pensamento religioso da maioria dos
europeus dos dias atuais. Nesse contexto, surge o Catolicismo Social, movimento
criado por Lamennais, que buscava um ideal de caridade e de justiça, conforme
os ensinos do Evangelho. Lamennais rompe com a Igreja e se torna abertamente
socialista. Lacordaire e Mont´Alembert se submetem sem abandonar a ação generosa
(caridade e justiça) 11. A fragilidade demonstrada pela Igreja Católica,
frente aos contumazes ataques que recebia, abriu espaço à expansão das doutrinas
divulgadas pelas igrejas reformadas. Na verdade, a propagação do Protestantismo
na Europa e na América – da mesma forma que a multiplicidade de
interpretações doutrinárias surgidas ao longo de sua evolução histórica –, estava
ocorrendo desde o século XVI. Os questionamentos levantados sobre o papel da
religião, num período em que a sociedade estava submetida a um racionalismo
dominante, conduziram teólogos e intelectuais protestantes do século XIX a um
reexame dos textos bíblicos, e até a um estudo crítico da razão de ser do Cristianismo.
Nasciam, a partir daquele momento histórico, as teorias sobre a salvação
pela fé, dogma considerado imprescindível à experiência religiosa de cada pessoa
e à necessidade social que o homem tem de crer em Deus e de senti-lo.
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No campo da Ciência, as mudanças foram significativas, fundamentais ao
progresso científico e tecnológico dos dias futuros: a descoberta do planeta
Netuno por Leverrier; os trabalhos de Louis Pasteur sobre microbiologia; os estudos
de Pierre e Marie Curie no campo das energias emitidas pelo rádio, e a
teoria da origem e evolução das espécies, de Charles Darwin. O surgimento da
máquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da
indústria e sua concentração progressiva levam a um aumento considerável do
proletariado urbano e da acuidade das questões sociais. O movimento industrial
necessita de operações bancárias e permite a edificação de novas fortunas. A
burguesia rica acelera sua ascensão e torna-se a classe dominante, força política
e social. O dinheiro é tema literário de primeiro plano, com cuja inspiração os
autores pintam a insolência de seus privilegiados ou a miséria de suas vítimas 12.
Em [...] confronto com todas as épocas precedentes, o período que vai de 1830 a 1914
assinala o apogeu do progresso científico. As conquistas desse período não só foram
mais numerosas mas também devassaram mais profundamente os segredos das coisas
e revelaram a natureza do mundo e do homem, projetando sobre ela uma luz até
então insuspeitada [...]. O fenomenal progresso científico dessa época resultou de
vários fatores. Deveu-se, até certo ponto, ao estímulo da Revolução Industrial, à
elevação do padrão de vida e ao desejo de conforto e prazer 6
.
Todavia, é importante assinalar que uma revolução diferente marcou, também,
esse período. Falamos da revolução moral proposta pelo Espiritismo nascente:
O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo,
encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. As lições sagradas
do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade,
repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações.
Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação, fazia-se acompanhar
de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora
não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos
os departamentos da atividade intelectual do século XIX 20.
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Referências 1. AMORIM, Deolindo. O espiritismo e os problemas humanos.
Rio de Janeiro: Mundo Espírita, 1948. Cap. 34, p. 170.
2. ______. Transição inevitável. O espiritismo e os problemas humanos.
São Paulo: USE, 1985, p. 23.
3. AMARAL, Jesus S. F. [et al.]. Enciclopédia mirador internacional.
São Paulo: 1995. (Revolução francesa), vol. 18. Item
III, p. 9852-9859.
4. ______. (Revolução industrial), p. 9877-9881.
5. BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental. 3. ed.
Porto Alegre: Globo, 1975. Progresso intelectual e artístico
durante a época da democracia e do nacionalismo, p. 661.
6. ______. p. 792.
7. RÉMOND, René. O século XIX. Tradução de Frederico Pessoa
de Barros. 12. ed. São Paulo: Cultrix. Os componentes sucessivos,
p. 13.
8. LAGARDE, André et MICHARD, Laurent. XIXe
Siècle. Les grands
auteurs français du programme. Paris: Bordas, 1964.
Introduction (Le mouvement démocratique), vol. 5, p. 7-8.
9. ______. p. 8.
10. ______. (Le réalisme), p. 11.
11. ______. (Le socialisme), p. 8.
12. ______. (Le progrès scientifique et industriel), p. 9.
13. ______. Victor Hugo, p. 153.
14. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito
Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 21 (Época
de transição), item: Os enciclopedistas, p. 185.
15. ______. (A independência americana), p. 186.
16. ______. Cap. 22 (A revolução francesa), p. 187.
17. ______. (Contra os excessos da revolução), p. 189.
18. ______. (Napoleão Bonaparte), p. 192-193.
19. ______. Cap. 23 (Depois da revolução), p. 196.
20. ______. (Allan Kardec e os seus colaboradores), p. 197.
21. ______. (As ciências sociais), p. 198-199.
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ROTEIRO 2 Espiritismo ou Doutrina Espírita:
conceito e objeto
PROGRAMA FUNDAMENTAL MÓDULO I – Introdução ao Estudo do Espiritismo
Objetivo
específico
Conteúdo
básico
Conceituar Doutrina Espírita, destacando o seu objeto.
■ Diremos [...] que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por
princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres
do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espí-
ritas, ou, se quiserem, os espiritistas. Allan Kardec. O livro dos
espíritos – Introdução, item 1.
■ O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino
dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Allan Kardec: O que é o espiritismo – Preâmbulo.
■ O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e
uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas
relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia,
compreende todas as conseqüências morais que dimanam
dessas mesmas relações. Allan Kardec: O que é o espiritismo –
Preâmbulo.
■ Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo
das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o
conhecimento das leis do princípio espiritual. Allan Kardec: A
gênese. Cap. 1, item 16.
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Sugestões
didáticas
Introdução
■ Apresentar, no início da reunião, os objetivos do tema, realizando
breves comentários a respeito.
■ Pedir aos participantes que, individual e silenciosamente,
leiam os subsídios deste Roteiro, assinalando com um traço
as idéias que melhor correspondem ao conceito e objeto da
Doutrina Espírita.
Desenvolvimento
■ Enquanto os participantes realizam a leitura recomendada, afixar
no mural da sala de aula dois cartazes intitulados, respectivamente:
a) Conceito de Espiritismo; b) Objeto do Espiritismo.
■ Em seguida, entregar, aleatoriamente, a cada participante, uma
tira de cartolina contendo frases copiadas dos subsídios, referentes
ao conceito e ao objeto do Espiritismo.
■ Pedir à turma que, sem consulta ao texto lido, faça a montagem
do mesmo, colando cada tira de cartolina em um dos
cartazes afixados. Explicar também que essa montagem deve
ser auxiliada por um colega, formando, assim, duplas para a
troca de idéias e realização do trabalho.
■ Verificar se a montagem do texto está correta, solicitando
às duplas breves comentários a respeito das frases que lhes
couberam.
Conclusão
■ Após os comentários, fazer considerações sobre o trabalho
realizado, destacando pontos relevantes.
Avaliação
O Estudo será considerado satisfatório se:
a) os participantes selecionarem, acertadamente, as frases das tiras
de cartolina que deverão ser coladas nos cartazes;
b)os comentários das duplas refletirem entendimento do assunto.
Técnica(s): leitura; montagem de texto.
Recurso(s): subsídios deste Roteiro; cartazes, tiras de cartolinas
com frases copiadas dos subsídios; cola ou fita adesiva.
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1. Conceito de Espiritismo
O termo Espiritismo foi criado por Allan Kardec pelas razões
que ele mesmo explica na Introdução de O Livro dos Espíritos:
Para se designarem coisas novas são precisos termos novos.
Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente
à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos
espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida.
Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar
as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o
espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite
haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não
se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em
suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual,
espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos
de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra
a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam
a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo
espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a
doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do
mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os
adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os
espiritistas 4
.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observa-
ção e uma doutrin filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas
relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia,
compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas
mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma
ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem
como de suas relações com o mundo corporal 5
.
Em o Evangelho segundo o Espiritismo, assinala, ainda,
Kardec: O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens,
por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do
mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele nolo
mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário,
como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como
a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos
Subsídios
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e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas
relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que ele
disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave
com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil 1
.
2. Objeto do Espiritismo
Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do
princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do
princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza,
a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-se que o
conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo
e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se
acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao
Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da
matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro
fere o sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria
abortado, com tudo quanto surge antes do tempo 2
.
Mais adiante, ainda nesta referência (A gênese), acrescenta Kardec:
A Ciência moderna abandonou os quatro elementos primitivos dos antigos e,
de observação em observação, chegou à concepção de um só elemento gerador de
todas as transformações da matéria; mas, a matéria, por si só, é inerte; carecendo de
vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao princípio espiritual. O
Espiritismo não descobriu, nem inventou este princípio; mas, foi o primeiro a demonstrar-lhe,
por provas inconcussas, a existência; estudou-o, analisou-o e tornoulhe
evidente a ação. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemento
material e elemento espiritual, esses os dois princípios, as duas forças vivas da
Natureza. Pela união indissolúvel deles, facilmente se explica uma multidão de fatos
até então inexplicáveis. O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos
constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só
podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas,
pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria 3
.
Em suma, os [...] fatos ou fenômenos espíritas, isto é, produzidos por Espíritos
desencarnados, são a substância mesma da Ciência Espírita, cujo objeto é o estudo
e conhecimento desses fenômenos, para fixação das leis que os regem [...]
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